É obrigatório concluir que muitos brasileiros apoiam, ao mesmo tempo, a Lava-Jato e a candidatura de Lula
A
Lava-Jato deve continuar, disseram nada menos que 84% dos entrevistados na
última pesquisa do Datafolha. Mesmo entre os eleitores de Lula, ampla maioria
de 77% apoia a operação anticorrupção. Como, por outro lado, 31% dos
entrevistados votariam em Lula para presidente, é obrigatório concluir que
muitos brasileiros apoiam, ao mesmo tempo, a Lava-Jato e a candidatura de Lula.
O que
isso quer dizer?
Especulações:
parte dos eleitores não sabe que ele foi apanhado justamente pela Lava-Jato; ou
sabe, mas entende que a operação, neste caso, está equivocada (o PT diz algo
assim); ou sabe e entende que, sendo a corrupção generalizada, não faz mal que
Lula esteja no rolo. Antes de
tentar decidir qual a especulação mais provável, convém consultar outros
números expressivos.
Por
exemplo: 57% dos entrevistados apoiam a prisão em segunda instância, e 54%
acham justa a prisão do ex-presidente. Dados muito parecidos, não é mesmo? Indicam,
pelo avesso, que entre os apoiadores da Lava-Jato muitos não topam a condenação
em segunda instância e, pois, consideram errada a decisão de mandar Lula para a
cadeia.
Faz
sentido. Por outro
lado, e há muitos lados nesta situação, nada menos que 51% dos entrevistados
acham que a corrupção continuará a mesma depois da Lava-Jato. E apenas
37% acham que vai diminuir.
Como a
corrupção e a situação política são apontadas como principais problemas
brasileiros, encontra-se aqui evidente desânimo e falta de confiança nos
governos, nas lideranças e nas instituições. Para a maioria, fica tudo na mesma
porcaria. E se é assim, segue a especulação, por que penalizar quem foi
apanhado pela Lava-Jato? Há outros
sinais de falta de confiança. Os dados reais mostram que a economia brasileira
deixou a recessão para trás, voltou a crescer no ano passado e acelerou na
passagem de 2017 para 2018. Sim, trata-se de uma recuperação moderada, a criação
de empregos vai devagar, mas é evidente que a situação melhorou. Inflação baixa
(inclusive com queda nos preços de alimentos) preserva os salários reais. Há
mais crédito concedido para pessoas e empresas e os juros, embora elevados,
estão mais baixos que um ano atrás, por exemplo.
Como
notou o FMI no seu último “Panorama Global”, o Brasil está entre os países que
registram melhora mais intensa nos cenários para este e o próximo ano. Voltemos
ao Datafolha. O país, principalmente a economia, vai piorar, dizem 29% dos
entrevistados. Vai melhorar para apenas 26%. E os demais acham que fica na
mesma, que não é boa coisa. Quando as
perguntas tratam de pontos específicos — como inflação e juros — as pessoas, na
maioria, têm uma visão negativa. Desaprovam mesmo políticas que estão
obviamente funcionando, como a derrubada de juros básicos promovida pelo Banco
Central.
Isso é
pura falta de confiança tanto no governo quanto nas oposições. O governo Temer
é uma contradição viva. A equipe econômica faz verdadeiros milagres. Já
conseguiu pontos importantes — como o teto de gastos, a mudança na gestão das
estatais, algumas concessões, a arrumação dos bancos públicos, controle de
gastos e, claro, a queda dos juros — e ainda encaminha uma agenda no Congresso,
como o cadastro positivo e a independência do Banco Central. Do outro
lado do governo, o político propriamente dito — e vamos dizer francamente —,
está todo mundo de algum modo enrolado na Lava-Jato e ações paralelas, do
presidente a ministros e assessores, soltos ou presos.
Na
oposição, o PT, nem é preciso dizer, está destruído. E o PSDB conseguiu se
danar tentando fazer de conta que não havia nada demais com Aécio, com Azeredo
(ambos ex-presidentes do partido, já apanhados) e com outras lideranças das
quais a Lava-Jato se aproxima. Deveriam
adotar o padrão japonês e alemão. Apareceu uma denúncia? Uma dúvida razoável?
Ou o alvo cai fora ou é tirado, vai cuidar de seu problema e segue a política. Não sendo
assim, fica a desconfiança geral. O que
atrapalha a própria recuperação econômica. O mundo vai bem, diz o FMI. Todos os
principais países mostram bom ritmo de crescimento sincronizado, isso há dois
anos e devendo continuar pelo menos até 2019. Logo, há mais comércio, mais
negócios, mais investimentos.
Tivesse o
Brasil arrumado suas contas públicas, estabilizado as finanças, afastado a
corrupção, e o país poderia estar decolando. Que mesmo
nesse ambiente haja uma recuperação, é sinal da vitalidade da economia privada
e dos brasileiros. Aliás, ainda no Datafolha, quando se pergunta sobre a
situação pessoal do entrevistado, 46% dizem que vai melhorar. O que significa
que há esperanças. Já saímos de piores.
Mas as
eleições são mesmo um grande teste de passagem.