[Acordo que não haveria não fosse a participação construtiva do governo Temer e a decisão do presidente Bolsonaro = que pode considerar a assinatura do acordo o verdadeiro inicio do seu governo.]
Para além das vantagens comerciais, negociação ajuda a dissipar bobajada ideológica
A semana terminou com uma grande notícia, com o fechamento do acordo
comercial entre União Europeia e Mercosul. Além das vantagens da
abertura econômica e comercial, o acordo serve como um banho de
pragmatismo na política externa brasileira, por evidenciar que a crítica
ao tal globalismo como um bicho-papão que tragaria o mundo ocidental e
seus valores nada mais era do que delírio ideológico que, na hora do
vamos ver, foi deixado de lado.
O acordo é uma construção de 20 anos e muitas mãos. Começou a ser
costurado no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999. A primeira
oferta foi feita no governo Lula, em 2004. Ele ficou dormitando ao longo de quase todo o
governo Dilma Rousseff, mas, ironicamente, foi no último dia da petista,
11 de maio de 2016, que houve a apresentação das ofertas de parte a
parte. O desenho do acordo que foi finalmente fechado se deve em muito
ao trabalho do ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, no governo de Michel
Temer.
[sempre criticamos Temer pela sua lentidão na tomada de decisões e prudência excessiva, mas, grande parte do acordo se deve ao governo Temer - que sofreu sabotagem sistemática por parte do então chefe da PGR (até agora nada foi provado contra Temer - provar é bem diferente de acusar);
aliás, até hoje o Supremo ainda não homologou o acordo de delação dos açougueiros Batista (qual o motivo? será que o tal acordo apenas oferece muitas benesses aos delatores e oferece muito pouco?) peça chave nas acusações contra Temer.
Mas, temos que lembrar que o ARREMATE FINAL, foi dado pelo governo do presidente Bolsonaro - sem a participação dos filhos, sem palpites do aiatolá de Virgínia e de outros aspones que tanto atrapalharam o inicio do atual governo.
Portanto, gostem ou não, o MÉRITO MAIOR é do presidente JAIR BOLSONARO, que finalmente, os fatos indicam, decidiu começar a governar.]-
E, finalmente, graças a uma ação bem coordenada do Ministério da
Economia de Paulo Guedes, na pessoa do secretário de comércio exterior
Marcos Troyjo, da ministra da Agricultura, Teresa Cristina, e do
Itamaraty de Ernesto Araújo, foram alinhavados, ainda nas reuniões de
Buenos Aires, os termos finais da proposta finalmente assinada em
Bruxelas.
Portanto, ainda que haja aspectos que possam desagradar esse ou aquele
setor, que possam existir críticas quanto ao fato de o Mercosul ter sido
levado a ceder mais que os parceiros europeus – o que é óbvio, uma vez
que os países do lado de cá são mais fechados e atrasados que os de lá
–, trata-se de uma rara convergência de propósitos e de continuidade de
ação entre governos. Um bálsamo diante de tantos solavancos políticos e
econômicos que o Brasil vem enfrentando nos últimos anos. É claro que Jair Bolsonaro vai querer faturar em cima do acordo, [e tem direito] a
despeito de seu discurso, dos filhos, do próprio Araújo e do entorno
mais ideológico do governo sempre ter sido avesso ao multilateralismo e
de ceticismo em relação à própria existência da União Europeia. É do
jogo que o governo exagere os próprios méritos num acordo que já estava
bem adiantado, ao qual também foi impelido pelos parceiros do Mercosul,
que estavam mais dispostos a fechá-lo que o Brasil, e para o qual
contribuiu, também, a necessidade da Europa de dar a volta por cima num
cenário internacional que hoje é dominado pelo duelo de titãs entre
Estados Unidos e China. Os ganhos advindos da abertura são maiores que
qualquer reparo que se tenha a fazer à bateção de bumbo exagerada.
Além do enorme impacto comercial e econômico que a retirada de barreiras
trará para o Brasil, devolvendo o País ao tabuleiro global, do qual
estava escanteado, o acordo com a União Europeia funciona também como
uma bem-vinda garantia de que o ímpeto bolsonarista em áreas como meio
ambiente também terá de ser contido. O capítulo político do tratado
inclui o compromisso dos países signatários com o Acordo de Paris e com
outras metas ambientais e traz importantes disposições também relativas a
direitos humanos (com menções específicas a respeito a minorias e
garantias de direitos trabalhistas, por exemplo). [direitos trabalhistas precisam ser preservados e também os das minorias - só que estes não podem prevalecer sobre os direitos da maioria.
A maioria dos países signatários do acordo são de tradição democrática e a democracia não tem espaço para a ditadura das minorias.]
A assinatura do acordo faz letra morta da cantilena da ala
ideológica do governo. Ela pode até continuar entoando seus mantras no
Twitter, comemorando como sua uma construção que, como se vê é anterior e
mais plural. Mas o fato é que, na vida real, falaram mais alto o
pragmatismo e a disposição pelo liberalismo econômico e pela abertura do
País ao resto do mundo. Grande dia, de fato.