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sábado, 23 de fevereiro de 2019

Política não rima com radicalização

Vivemos um momento de transição. A Nova República foi sepultada pelas urnas no último mês de outubro. O velho regime não resistiu frente às grandes manifestações de rua de 2015 e 2016.  O processo de impeachment de Dilma Rousseff foi o seu estertor. Como todo processo de transição, há a combinação de antigas formas de fazer política com as novas. E essas últimas são múltiplas e muitas vezes antagônicas entre si. A novidade também padece de racionalidade.

Os primeiros dias da presidência Bolsonaro e do novo Congresso Nacional foram marcados por muita agitação política. As eleições para as mesas diretoras foram animadas — especialmente para o Senado. O velho ramerrão congressual parece coisa do passado. O desafio é construir uma nova prática parlamentar, dinâmica, antenada com as ruas mas que se paute pela conduta democrática e edificar maiorias pelo debate político, pelo convencimento, e não pela força, pela agressão barata.

Os primeiros sinais de extremismo já são notados. E deverão se acentuar quando forem debatidos temas polêmicos, como a reforma da Previdência e o pacote de leis encaminhado pelo ministro Sergio Moro. O palco dos embates mais acesos deverá ser ocupado pelos extremistas. Eles necessitam dar uma resposta aos seus eleitores que se alimentam do ódio, não da saudável convivência dos contrários. E, tudo indica, poderemos ter cenas de pugilato na Câmara dos Deputados.

Parte da renovação política — que foi muito saudável, registre-se — acabou produzindo parlamentares que são mais atores do que políticos. Representam seus papéis para as galerias. Não conhecem o trâmite parlamentar, possuem uma formação política rudimentar, têm enorme dificuldade de dialogar com aqueles que não rezam pelo seu credo. Vão criar problemas, inevitavelmente. Já é possível notar o desejo de a todo custo ocupar a mídia com ações espetaculosas, sem nenhum conteúdo político. Para esses, o importante é — a qualquer preço — chamar a atenção do público. A política é espetáculo para ser imediatamente reproduzido nas redes sociais.

Todo esse cenário faz parte de um período de transição. Estranho seria se após o final do velho regime (a Nova República) surgisse imediatamente uma nova elite política. Isso só vai ocorrer após um processo de depuração. O problema é que o Brasil necessita de soluções imediatas para enfrentar os graves problemas nacionais.

Estranho seria se após o final do velho regime (a Nova República) surgisse imediatamente uma nova elite política

 Marco Antonio Villa