Veja - Por Gustavo Krause
“Paraíba”
Neste sentido, não faltam exemplos. Arrisco destacar o discurso de Winston Churchill, em maio de 1940, ao assumir o cargo de Primeiro-Ministro da Inglaterra, sob bombardeio devastador das forças nazistas, perante o Parlamento: “Eu diria a Casa, como disse a aqueles que se juntaram a este governo: nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Após cinco anos de intenso sofrimento, a tragédia totalitária fora derrotada pelos valores da civilização ocidental. Com efeito, aquele momento histórico ratificaria que o discurso, corajoso, franco e visionário, opera efeitos na medida em que fala a autoridade politicamente legitimada. Portanto, todo cuidado é pouco ao disparar palavras como setas envenenadas. Elas não retornam.
Neste sentido, em recente episódio, o Presidente da República usou a expressão discriminatória e depreciativa de “paraíba”, extensiva a todos os nordestinos. Fez o oposto do que deveria na condição de Presidente eleito pelos brasileiros de todas as regiões que é buscar a união.De outra parte, a expressão não faz justiça ao Estado da Paraíba que, entre outras virtudes, representa, também, o espírito ladeirento da gente nordestina como atesta sua bandeira composta pelos seguintes elementos: o negro como sinal de luto pela morte de João Pessoa, um dos estopins da Revolução e 30; o vermelho, cor da Aliança Liberal; e a palavra NEGO, para traduzir a rejeição ao candidato Julio Prestes, apoiado pelo Presidente Washington Luís.
Seria redundante registrar a preciosa contribuição do Nordeste na formação brasileira e, como pernambucano, correria o sério risco de ser traído por um fútil bairrismo. Limito-me, portanto, a dar voz a um trecho do poema de João Cabral de Melo (Pernambuco em mapa) que cabe como resposta comum aos nordestinos: (…) até mandacaru que dá vitalícia banana a todos que do sul olham-no do alto da mandância”.
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