Blog do Noblat
O que nós temos a dizer dos que duvidam da solidez da nossa democracia?
A democracia não é o paraíso. O
notável pensador político, Norberto Bobbio, em O Futuro da Democracia,
apontava pelo menos seis promessas (ou ilusões) não cumpridas pela
democracia. Por sua vez Rousseau, afirmava: “Se houvesse um povo de
deuses, seria governado democraticamente, mas aos homens não convém tão
perfeito governo” Em contrapartida, a ausência da
democracia é o inferno sob formas de tirania, entres as quais, a mais
perversa: sistema totalitário.
Neste sentido, a nossa experiência
histórica tem muito a dizer pelas agruras sofridas: uma democracia
jovem, submetida a uma transição arriscada, mais lenta e menos segura do
que prometia a estratégia da transição do governo militar para o
governo civil. Com evidentes sinais de consolidação
(integração da sociedade civil, estado de direito, sociedade econômica,
gestão pública e sociedade política), eis que a direita e a esquerda
populistas ameaçam, globalmente, as democracias liberais, desta vez,
chegando ao poder, não pela força, mas pelos instrumentos da democracia
representativa. Uma vez instaladas no governo, as lideranças
“legitimadas” pelo voto, enfraquecem à exaustão a teia protetora das
instituições democráticas a ela sobrepondo o poder despótico.
O que nós temos a dizer dos que duvidam
da solidez da nossa democracia? É provável que nenhuma democracia
nascente tenha sido tão testada: a enfermidade letal do Presidente
Tancredo Neves, o governo fraco de Sarney, mas ao qual se deve a
capacidade de superar crises; cooperar decisivamente com o processo
constituinte; suportar uma oposição virulenta; sobreviver à recessão e à
superinflação.
O que veio depois? A maior crise, até
então, do presidencialismo: o impeachment de Collor e mais uma vez um
governo provisório de Itamar Franco, objeto de todos os preconceitos,
que eliminou a inflação graças ao engenhoso plano de estabilização sob à
lúcida liderança do Ministro da Fazenda e sucessor, Fernando Henrique
Cardoso. Seguem-se o fenômeno e a tragédia: o
operário e retirante nordestino chega ao Palácio do Planalto nos braços
do povo com um projeto de poder a ser viabilizado por uma corrupção
sistêmica. As instituições e os ritos democráticas prevaleceram:
colocaram Lula na cadeia, destituíram a Presidente, empossaram Temer.
Dito isto, os esbirros juvenis e
insensatos ao contrário de ameaçar, fortalecem a democracia. O STF vai
dar a palavra final sobre a prisão de condenados em segunda instância. A
decisão será acatada e respeitada. Resta a última instância: o oitavo fosso do quinto círculo do inferno de Dante onde os corruptos vão arder para sempre.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA