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domingo, 24 de janeiro de 2016

Um barril de erros

Quando o petróleo despenca, é inevitável pensar no tempo irremediavelmente perdido pelo erro de mudar o marco regulatório. Foram suspensas as rodadas que traziam investidores para o país entre 2008 e 2013, para fazer a mudança do modelo de concessão para partilha. Nesse período, o barril subiu e ficou acima de US$ 100. O mundo buscava novas fontes de produção e estava interessado no pré-sal.

Hoje, o panorama é outro. O preço despencou e oscila na casa de US$ 20 a US$ 30, a Petrobras está superendividada, sem caixa, precisando vender ativos. A corrupção atingiu a empresa, se espalhando por todos os campos em desenfreadas prospecções. A petrolífera está anêmica e tem a obrigação de ser operadora de todos os campos. É por isso que especialistas fazem o diagnóstico de que só há duas opções para o pré-sal: continuar dependente da Petrobras e atrasar investimentos ou ser feita alteração de regras para atrair outras empresas. Apesar da queda dos preços, o setor de óleo e gás poderia ajudar a recuperação do país. Mas, a exemplo do que aconteceu com a energia elétrica, a área sofre os efeitos das intervenções desastradas dos governos Lula e Dilma.

O diretor executivo da Accenture Strategy, Daniel Rocha, líder da área de Energia da consultoria no Brasil, mapeou o setor em estudo feito em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele explica que o modelo de partilha adotado pelo governo Lula ainda gera muitas dúvidas entre os investidores, mesmo seis anos após a sua aprovação. No ritmo em que está, o país não consegue se tornar autossuficiente na área de óleo e gás antes de 2022. Continuará tendo fortes déficits comerciais na energia, com muita importação de petróleo leve, gás natural, gasolina, diesel e outros tipos de derivados. Não acho que seja necessário rever o modelo porque isso provocaria mais paralisia. Mas é fundamental alterar regras, como o conteúdo nacional, que não tem dado resultado, e também a obrigatoriedade da Petrobras ser operadora em todos os campos — afirmou Rocha.

Se antes as rodadas de licitação ficaram congeladas pela mudança do modelo; hoje elas pouco acontecem porque a Petrobras não tem capacidade de investir: Mesmo com preços baixos, se houver segurança, haverá investimento. Isso pode ajudar o país a sair da crise, com o governo aumentando a arrecadação via bônus de assinatura, royalties e participação especial. A cadeia de produção é longa e pode ser reestruturada se as rodadas tiverem continuidade.

Daniel Rocha explica que o custo de US$ 8 na exploração do pré-sal divulgado pela Petrobras é apenas o lifting cost, ou seja, o quanto se gasta na extração do óleo nos campos atuais, que já estão operando. Mas o breakeven do modelo de negócio, ou seja, o preço mínimo para ter lucro, que inclui o investimento em novos campos, exploração e venda dos produtos, continua na casa de US$ 35 a US$ 40. [enquanto o petróleo BRENT, de qualidade superior ao do pré-sal,  tem o preço abaixo de US$ 30.]
 
Quando o estudo da Accenture e da FGV foi divulgado, em outubro do ano passado, os preços do petróleo do tipo brent estavam na casa de US$ 50. Esta semana, bateram em US$ 27. A estimativa da consultoria é de que aconteça uma recuperação nos próximos meses, mas existe um “teto” para o preço, em torno de US$ 50 a US$ 55. Isso porque somente o Irã será capaz de vender no mercado cerca de 600 mil barris/dia este ano, podendo elevar a produção para mais de 3 milhões no ano que vem. Além disso, a nova tecnologia de extração não convencional nos EUA consegue colocar em operação um campo paralisado em apenas três meses, respondendo rapidamente a um aumento dos preços. — Há a desaceleração da China, e o mundo está buscando cada vez mais a eficiência energética, para diminuir a dependência do petróleo. Isso muda as projeções de consumo — afirmou Daniel Rocha.

Por causa da política dos preços de combustíveis, o Brasil ficou com o pior nos dois mundos. Na era da alta cotação do petróleo, a Petrobras foi descapitalizada pelo subsídio populista à gasolina
Agora, com os preços baixos, a energia derruba a inflação no mundo inteiro, mas não no Brasil, e a Petrobras corre o risco levar outro prejuízo com a importação de outras empresas.

Foram decisões assim que enfraqueceram a maior companhia do país. A corrupção foi o verme que contaminou o organismo da petrolífera. A operação Lava-Jato faz parte da solução.

Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Petróleo Brent abaixo de US$ 29 - petróleo do pré-sal, qwualidade inferior, a no mínimo US$ 35


Queda do petróleo pode inviabilizar lucro de parte do pré-sal no Brasil


Com brent abaixo de US$ 29, analistas apontam que o investimento no pré-sal deve crescer menos do que o esperado 

A derrocada do preço internacional do petróleo, com o brent barril de referência nas bolsas internacionais – permanecendo abaixo de US$ 29 nos últimos dias, impacta no lucro do que foi celebrado pelo presidente Lula como o "bilhete premiado do Brasil" em 2006: o pré-sal. Apesar de ser benéfica a alguns setores (como a agricultura, que usufrui de fretes mais baratos), a queda na cotação da commodity lança um ponto de interrogação sobre os ganhos com a exploração das camadas mais profundas de petróleo no Brasil.

A extração de recursos nas camadas mais profundas, cuja profundidade pode ultrapassar 7 mil metros, tem um custo de US$ 8,00 por barril, de acordo com a Petrobras. Com o brent avaliado a menos de US$ 30,00, analistas apontam que o investimento nessa região deve crescer menos do que o esperado, sendo inviável em alguns blocos.


Para entender quanto custa o petróleo da Petrobras, é preciso considerar as etapas da produção. O custo de extração nas plataformas é de aproximadamente US$ 8 o barril. A estatal também paga uma participação ao governo federal, que está em torno de US$ 17 o barril. Além disso, o petróleo brasileiro é considerado pesado, de menor valor no mercado internacional, porque exige um trabalho adicional de pós-processamento. Para compensar, no cálculo de exportação, é como se ele custasse ainda mais US$ 10 o barril. Somando tudo, chega-se a U$ 35 o barril para o petróleo de algumas áreas a se pagar.

"Com todos esses custos, diante do preço atual, alguns blocos não estão dando resultado. Ao contrário, estão próximos ao negativo", diz o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido. Há, entretanto, uma proporção entre o custo de extração e a produtividade de cada área que deve ser incluída na conta. "O petróleo baixo lança uma questão sobre os investimentos da Petrobras, principalmente no pré-sal, que tem custo de extração maior do que a Bacia de Campos por ser mais profundo. O custo de extração da Petrobras como um todo é de em média US$ 22 o barril, de acordo com o último balanço. Mas a gente não tem como estimar realmente o custo do pré-sal. Esse desembolso tem relação direta com a produtividade de cada poço, pode ter um que produza 10 mil barris por dia e outro 100 mil, por exemplo, então é preciso pesar essa proporcionalidade."

A coordenadora de pesquisa da FGV Energia, Lavínia Hollanda, ressalta que as consequências da atual cotação serão sentidas em todas as companhias que trabalham com o combustível fóssil. "Todas as empresas estão disciplinando a redução de custos, que é o que a Petrobras deve fazer. Uma queda de preços que parecia pontual está durando muito mais do que o esperado. Há perspectiva de queda de 50% no lucro da Shell no último trimestre de 2015. O problema é que esse efeito vem em uma hora muito ruim para a Petrobras, que vive uma situação fincanceira delicada e problemas de corrupção que afetam sua capacidade de reagir", diz.

Os atuais preços da gasolina e do diesel no país (mais caros do que no mercado externo, já que os valores, por serem controlados pela União, não acompanham a queda do petróleo) poderiam ser facilitadores ao caixa da Petrobras, não fosse a dívida bruta de R$ 506 bilhões da empresa, com 70% desta quantia sendo calculada em dólar. Flavio Conde diz acreditar em uma redução da ordem de 10% no preço da gasolina e do diesel ainda neste ano. A medida, segundo ele, seria motivada para forçar para baixo a inflação e aumentar a popularidade do governo Dilma Rousseff.  "Como a prioridade do governo é inflação e não a geração de caixa da Petrobras, esse é um risco adicional para 2016", afirma o analista da WhatsCall Research. "Por que o governo não deixa o preço igual ao de outros países? Por que não baixamos? Porque o governo passou o primeiro mandato inteiro da Dilma com o preço abaixo do mercado, o que gerou um prejuízo de R$ 70 bilhões. O governo está, entre aspas, pagando agora essa diferença de preço", diz.

Problema antigo
Na visão dos analistas, o imbróglio em torno das decisões, a partir de 2007, de como o Brasil poderia se beneficiar dos royalties e atuar no pré-sal gerou uma janela de tempo "preciosa" e irrecuperável. De 2010 a 2013, o petróleo estava entre US$ 100 e US$ 150, cotação atraente para o comércio na área. Para Lavínia Hollanda, da FGV, a movimentação vista durante a descoberta das camadas profundas do petróleo foi o contrário de um modelo que estava fluindo: "A gente trazia mais operadores para o Brasil. Com o pré-sal, houve uma concentração na Petrobras, que gerou uma dependência de todo o setor. Foram cinco anos discutindo como seria o royalties, perdemos uma janela de tempo que não volta mais".

O analista da XP Investimentos afirma que o Brasil descobriu a camada de pré-sal em 2007, so licitou um bloco apenas em 2010. "Se tivessem licitado na época, quando o barril estava na casa de US$ 100, estaríamos recebendo royalties e participações governamentais. As commodities são cíclicas, temos que aproveitar um momento de patamar elevado para vender concessões. Com o preço atual, o investimento estrangeiro é inibido", afirma Plácido.

Lei da oferta e demanda
Além do brent abaixo de US$ 29, o contrato barril WTI [West Texas Intermediate] atingiu o menor nível em 12 anos nesta semana. O cenário é atribuído a três eventos principais, comandados pela lei da oferta e da demanda: 1) alta oferta de países da OPEP, liderada pela Arábia Saudita, e os Estados Unidos atuando como novo mercado exportado; 2) volta do Irã, detentor da quarta maior reserva do mundo, ao mercado após a revogação das sanções internacionais; 3) baixa demanda, diante da desaceleração chinesa. 

 Em suma, um superabastecimento.  "Tudo depende da Arábia Saudita, que a partir de 2014 criou um movimento de baixa para prejudicar os produtores de xisto dos Estados Unidos, que precisam de no mínimo US$ 80 por barril para ter rentabilidade. O país começou a aumentar a produção acima do nível da demanda", afirma Conde, da WhatsCall.

A Agência Internacional de Energia (AIE) alarmou o mercado na terça-feira (19) ao afirmar que prevê novas quedas no preço da commodity, que pode chegar à casa de US$ 10 por barril. A agência afirma que o mercado terá de absorver a produção extra do Irã, que deve aumentar em 300 mil barris por dia no final do primeiro trimestre. A projeção da AIE é que, pelo terceiro ano seguido, a oferta excederá a demanda em 1 milhão de barris por dia. A baixa perspectiva de lucros no pré-sal podem inibir o investimento em para instalar plataformas e produzir em novos campos da região.

Fonte: Revista Época