Quando o petróleo despenca, é inevitável pensar no
tempo irremediavelmente perdido pelo erro de mudar o marco regulatório.
Foram suspensas as rodadas que traziam investidores para o país entre
2008 e 2013, para fazer a mudança do modelo de concessão para partilha.
Nesse período, o barril subiu e ficou acima de US$ 100. O mundo buscava
novas fontes de produção e estava interessado no pré-sal.
Hoje, o panorama é outro. O preço despencou e oscila na casa de US$
20 a US$ 30, a Petrobras está superendividada, sem caixa, precisando
vender ativos. A corrupção atingiu a empresa, se espalhando por todos os
campos em desenfreadas prospecções. A petrolífera está anêmica e tem a
obrigação de ser operadora de todos os campos. É por isso que especialistas fazem o diagnóstico de que só há duas
opções para o pré-sal: continuar dependente da Petrobras e atrasar
investimentos ou ser feita alteração de regras para atrair outras
empresas. Apesar da queda dos preços, o setor de óleo e gás poderia
ajudar a recuperação do país. Mas, a exemplo do que aconteceu com a
energia elétrica, a área sofre os efeitos das intervenções desastradas
dos governos Lula e Dilma.
O diretor executivo da Accenture Strategy, Daniel Rocha, líder da
área de Energia da consultoria no Brasil, mapeou o setor em estudo feito
em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele explica que o
modelo de partilha adotado pelo governo Lula ainda gera muitas dúvidas
entre os investidores, mesmo seis anos após a sua aprovação. No ritmo em
que está, o país não consegue se tornar autossuficiente na área de óleo
e gás antes de 2022. Continuará tendo fortes déficits comerciais na
energia, com muita importação de petróleo leve, gás natural, gasolina,
diesel e outros tipos de derivados. — Não acho que seja necessário rever o modelo porque isso provocaria
mais paralisia. Mas é fundamental alterar regras, como o conteúdo
nacional, que não tem dado resultado, e também a obrigatoriedade da
Petrobras ser operadora em todos os campos — afirmou Rocha.
Se antes as rodadas de licitação ficaram congeladas pela mudança do
modelo; hoje elas pouco acontecem porque a Petrobras não tem capacidade
de investir: — Mesmo com preços baixos, se houver segurança, haverá investimento.
Isso pode ajudar o país a sair da crise, com o governo aumentando a
arrecadação via bônus de assinatura, royalties e participação especial. A
cadeia de produção é longa e pode ser reestruturada se as rodadas
tiverem continuidade.
Daniel Rocha explica que o custo de US$ 8 na exploração do pré-sal
divulgado pela Petrobras é apenas o lifting cost, ou seja, o quanto se
gasta na extração do óleo nos campos atuais, que já estão operando. Mas o
breakeven do modelo de negócio, ou seja, o preço mínimo para ter lucro,
que inclui o investimento em novos campos, exploração e venda dos
produtos, continua na casa de US$ 35 a US$ 40. [enquanto o petróleo BRENT, de qualidade superior ao do pré-sal, tem o preço abaixo de US$ 30.]
Quando o estudo da Accenture e da FGV foi divulgado, em outubro do
ano passado, os preços do petróleo do tipo brent estavam na casa de US$
50. Esta semana, bateram em US$ 27. A estimativa da consultoria é de que
aconteça uma recuperação nos próximos meses, mas existe um “teto” para o
preço, em torno de US$ 50 a US$ 55. Isso porque somente o Irã será
capaz de vender no mercado cerca de 600 mil barris/dia este ano, podendo
elevar a produção para mais de 3 milhões no ano que vem. Além disso, a
nova tecnologia de extração não convencional nos EUA consegue colocar em
operação um campo paralisado em apenas três meses, respondendo
rapidamente a um aumento dos preços. — Há a desaceleração da China, e o mundo está buscando cada vez mais a
eficiência energética, para diminuir a dependência do petróleo. Isso
muda as projeções de consumo — afirmou Daniel Rocha.
Por causa da política dos preços de combustíveis, o Brasil ficou com o
pior nos dois mundos. Na era da alta cotação do petróleo, a Petrobras
foi descapitalizada pelo subsídio populista à gasolina.
Agora, com os
preços baixos, a energia derruba a inflação no mundo inteiro, mas não no
Brasil, e a Petrobras corre o risco levar outro prejuízo com a
importação de outras empresas.
Foram decisões assim que enfraqueceram a maior companhia do país. A
corrupção foi o verme que contaminou o organismo da petrolífera. A
operação Lava-Jato faz parte da solução.
Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário