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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Lula e a política inflacionária - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Politizar o Banco Central para reduzir na marra as taxas de juros é uma ideia tão antiga quanto estúpida 

Ilustração: Shutterstock

Ilustração: Shutterstock 

Não faltam “especialistas” querendo quebrar o termômetro para curar a febre do paciente. No caso da economia brasileira, eles observam as altas taxas de juros e imediatamente apontam os culpados: os especuladores, o mercado, o Banco Central independente. Essa confusão entre causa e efeito está no cerne de muita ideia equivocada. Politizar o Banco Central para reduzir na marra as taxas de juros é uma ideia tão antiga quanto estúpida. A estupidez, porém, tem sido a marca registrada do lulismo.

“Se os governos desvalorizam a moeda para trair todos os credores, você educadamente chama este procedimento de ‘inflação’”, ironizou George Bernard Shaw. Para compreender o enorme risco do controle político de um Banco Central, talvez seja preciso voltar no tempo até as origens do dinheiro. Segundo o austríaco Ludwig von Mises, o dinheiro não pode surgir por decreto estatal ou algum tipo de contrato social acordado entre os cidadãos; ele deve sempre se originar num processo de livre mercado.

Ludwig von Mises | Foto: Wikimedia Commons

O escambo, que os homens praticam desde os primórdios da civilização, conta com sérias limitações. Um problema crucial é a necessidade de um desejo mútuo coincidente, ou seja, os dois agentes envolvidos na troca precisam concordar exatamente com o que recebem em relação ao que oferecem. Outro problema é o das indivisibilidades, isto é, uma troca teria de ter a mesma magnitude de valor. Basta pensar na situação de alguém querendo trocar uma casa por vários produtos distintos, para mostrar a impraticabilidade desse método. Eis quando surge o dinheiro.

Em The Mystery of Banking, o economista Murray Rothbard explica melhor a origem do dinheiro e os riscos inflacionários provenientes do papel-moeda. Justamente por conta dessas barreiras do escambo, que atende não mais que as demandas de uma vila primitiva, o próprio mercado criou gradualmente um meio de troca mais eficiente. Foi ficando claro para os comerciantes que o uso de uma commodity amplamente aceita como meio de troca fazia muito sentido. Em vez de um produtor de calçados ter de encontrar um vendedor de carne disposto a trocar exatamente carne por calçado, bastava ele vender no mercado seus produtos em troca dessa commodity, e depois usá-la para comprar os bens que desejava.

Para atender a esta função, a commodity deveria ser demandada por seu valor intrínseco, ser divisível, portável e durável, além de apresentar um elevado valor por unidade. Durante a história, diversas commodities serviram como moeda, mas invariavelmente o ouro e a prata foram os escolhidos quando possível. Com o tempo, surgiu a demanda por certo padrão homogêneo de commodity usada como moeda. Os reis estampavam seus rostos nas moedas de ouro, garantindo sua qualidade e peso, e em troca cobravam a “senhoriagem”.

Durante a Revolução Americana, para financiar o esforço de guerra, o governo central emitiu vasta quantidade de papel-moeda, os “Continentals”

Automaticamente surgiu o risco de o próprio governo alterar o peso das moedas e embolsar a diferença. Era o começo do “imposto inflacionário”, ou a desvalorização da moeda. Esta prática foi bastante facilitada com a introdução do papel como moeda, servindo no início como um certificado garantindo o peso do ouro. É importante notar que praticamente todas as moedas mais importantes, como o dólar, a libra, o marco ou o franco, começaram simplesmente como nomes para diferentes unidades de peso do ouro ou da prata.

Moedas antigas do Império Romano | Foto: Shutterstock

Naturalmente, o risco de falsificar a moeda sempre existiu, e por isso mesmo surgiu a demanda por padrões e selos de governos ou bancos. A falsificação de moeda é uma fraude, que enriquece o fraudador em detrimento do restante dos usuários da moeda. Os primeiros a receberem o dinheiro falsificado se beneficiam à custa dos últimos. O governo tem como função justamente evitar tal fraude, punindo com prisão os criminosos. O grande problema é quando o próprio governo adere à prática de “falsificação”, com o respaldo da lei. A invenção do papel-moeda foi um convite tentador para os governos embarcarem nessa nefasta prática inflacionária.

Em primeiro lugar, o governo deve garantir que os pedaços de papel são resgatáveis em seu equivalente em ouro. Caso contrário, ninguém irá aceitá-los voluntariamente. Em seguida, o governo geralmente tenta sustentar seu papel-moeda através de legislação coercitiva, instando o público a aceitá-lo, incluindo os credores de montantes em ouro, através das leis delegal tender. O papel-moeda passa a ser aceito como pagamento dos impostos, e os contratos privados são forçados a aceitar pagamento em papel. Quando a moeda começa a ser amplamente aceita e utilizada, o governo pode então inflar sua oferta, para financiar seus gastos de forma menos escancarada.

A inflação é o processo pelo qual o imposto escondido é usado para beneficiar o governo e os primeiros a receberem a nova moeda. Após um prazo suficiente, o governo adota um passo definitivo: corta a ligação da moeda com o ouro que ela representava antes. O dólar, por exemplo, passa a ter uma vida própria, independente do ouro que ele representava anteriormente, e o ouro passa a ser apenas uma commodity qualquer. O caminho para a inflação está totalmente livre de obstáculos.

Foto: Shutterstock
O primeiro papel-moeda governamental do Ocidente, segundo Rothbard, foi emitido na província de Massachusetts, em 1690. 
Sua origem ilustra muito bem o relato acima. Massachusetts estava acostumada a periódicas expedições militares contra a Quebec francesa, e os ataques bem-sucedidos permitiam o pagamento dos soldados com a pilhagem obtida. Dessa vez, no entanto, a expedição perdeu feio, e os soldados retornaram para Boston sem pagamento e descontentes. 
O governo de Massachusetts, então, precisava arrumar alguma outra forma para pagá-los. Em dezembro de 1690, foram impressas 7 mil libras em notas de papel. O governo garantira que tais notas seriam resgatadas em ouro ou prata em poucos anos, e que novas notas não seriam emitidas. No entanto, já em fevereiro de 1691, o governo declarou não ter recursos novamente, e emitiu mais 40 mil libras em notas para pagar a dívida acumulada. Além disso, as notas não poderiam ser resgatadas pelos próximos 40 anos. As portas do inferno inflacionário estavam abertas!
 
Pelo menos em três vezes na história norte-americana, desde o fim do período colonial, os norte-americanos sofreram bastante com o sistema de fiat money. Durante a Revolução Americana, para financiar o esforço de guerra, o governo central emitiu vasta quantidade de papel-moeda, os “Continentals”. A desvalorização foi abrupta, e antes mesmo do término da guerra essas notas não tinham mais valor algum. O segundo período foi durante a guerra de 1812, quando os Estados Unidos saíram do padrão ouro, mas retornaram dois anos depois. O terceiro período ocorreu durante a Guerra Civil, com a emissão dos greenbacks, notas não resgatáveis para pagar a guerra. 
No final da guerra, os greenbacks tinham perdido metade de seu valor inicial. Mais recentemente, pode-se falar numa quarta fase de elevada inflação norte-americana, na década de 1970. 
Após medidas keynesianas adotadas pelo governo, a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor (CPI) subiu mais de 8% ao ano na década, fazendo com que o dólar perdesse metade de seu valor no período entre 1969 e 1979.
Cédula Continental, impressa em 1775 - 
 Foto: Wikimedia Commons
O mecanismo encontrado pelos países desenvolvidos para mitigar esse risco da política inflacionária foi justamente a criação de bancos centrais independentes, para separar o ciclo político do econômico.  
Com quadros técnicos e um mandato estritamente voltado para a preservação do valor da moeda, esses bancos centrais estariam mais protegidos da tentação política de apelar para o imposto inflacionário. 
Nem sempre essa blindagem funciona, mas ela tem sido razoavelmente eficaz no mundo livre. 
Já governos populistas invariavelmente seguem pela rota inflacionária, como a Venezuela e a Argentina podem atestar. Esses são os exemplos que Lula pretende seguir.

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Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 18 de março de 2022

Por que a Petrobras não baixa a gasolina? A resposta da estatal, após pressão de Bolsonaro - O Globo

Empresa diz que não pode 'antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes' nos valores, devido à alta volatilidade e ao risco de desabastecimento 

A Petrobras divulgou nota nesta sexta-feira em que explica por que demorou para reajustar os preços dos combustíveis e por que ainda não baixou os valores nas suas  refinarias, apesar da queda recente do barril de petróleo.

O presidente Jair Bolsonaro tem cobrado da empresa nos últimos dias que reduza o valor da gasolina e do diesel, após a baixa da commodity no mercado internacional. E já prepara uma estratégia para substituir Joaquim da Silva e Luna na presidência da empresa. O general tem sido resistentes às pressões para baixar os preços.

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FGTS: Caixa divulga calendário de saque de até R$ 1 mil. Veja as datas "Nos últimos dias, observamos redução dos níveis de preços internacionais de derivados, seguida de forte aumento no dia de ontem. A Petrobras tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade e mantém monitoramento diário do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade, não podendo antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes de preços", diz a estatal em nota.

Depois de bater quase US$ 140 há duas semanas, o barril de petróleo tipo Brent - referência no mercado internacional - caiu abaixo de US$ 100 nesta semana. Mas ontem fechou em US$ 106,64, alta de 8,79%.

Incerteza e preocupação com abastecimento
A companhia diz ainda que o ambiente de incerteza segue no mundo, "com aumento na demanda por combustíveis, num momento em que os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia impactam a oferta".

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Segundo a Petrobras, essa situação cria uma competição pelo fornecimento de produtos, "o que reforça a importância de que os preços no Brasil permaneçam alinhados ao mercado global, para assegurar a normalidade do abastecimento e mitigar riscos de falta de produto".

O Brasil produz volume de petróleo suficiente para seu consumo, mas precisa importar especialmente o diesel, pois o tipo de petróleo aqui produzido não atende especificidades das refinarias locais para produzir certos combustíveis.
O país importa 20% a 25% do diesel que consome. Nos últimos meses, a diferença entre o valor de venda no Brasil e o praticado no mercado internacional levou a temores de desabastecimento porque os importadores não conseguiam comprar o produto a preços competitivos, para revendê-lo no mercado interno.

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Distribuidoras, como a Ipiranga, chegaram a limitar a venda do diesel.

Justificativa para alta da semana passada
Na nota divulgada nesta sexta-feira, a Petrobras também esclareceu porque demorou tanto para elevar os preços. A empresa lembra que o mercado internacional do petróleo vem enfrentando forte volatilidade, tendo a Covid-19 como pano de fundo, e que a guerra na Ucrânia agravou essa situação. "Em um primeiro momento, apesar da disparada dos preços internacionais, a Petrobras, ao avaliar a conjuntura de mercado e preços conforme governança estabelecida, decidiu não repassar de imediato a volatilidade, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo", diz a Petrobras em nota.

Viu isso?  Brasil tem a gasolina mais cara do mundo? Entenda o que pesa no preço "Somente no dia 11 de março, após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, a Petrobras implementou ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras de gasolina, diesel e GLP", completou.

A gasolina foi reajustada em 18,77% e o diesel em 24,99% nas refinarias, após 57 dias sem alteração. Já o GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, subiu 16%, após 152 dias de preços estáveis. "Os valores aplicados naquele momento, apesar de relevantes, refletiam somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia", diz a Petrobras.

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"Esse movimento foi no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que, antes da Petrobras, já haviam promovido ajustes nos seus preços de venda, e necessário para que o mercado brasileiro continuasse sendo suprido, sem riscos de desabastecimento".

A empresa diz que "segue todos os ritos de governança e busca um equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo que evita repassar para os preços internos as volatilidades das cotações internacionais e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais".

Economia - O Globo


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Como a Venezuela passou o Haiti e se tornou o país mais pobre das Américas - Editorial

Helen Mendes

Crise prolongada

Em pouco mais de uma década, a Venezuela deixou de ser um dos países mais ricos da América Latina para se tornar a nação mais pobre das Américas, passando o Haiti. Uma pesquisa sobre as condições de vida na Venezuela publicada em setembro apontou que 94,5% da população vivem em situação de pobreza, e mais de três em cada quatro venezuelanos sofrem com a pobreza extrema, com renda insuficiente para garantir suas necessidades alimentares básicas.

Entre as causas desse colapso
estão “mais de duas décadas de políticas econômicas compostas por controle de preços, controle de câmbio das divisas, violações ao direito à propriedade privada, irresponsabilidade fiscal na gerência de recursos públicos, especialmente aqueles decorrentes da indústria do petróleo, e corrupção”, resume o cientista político venezuelano William Clavijo, doutor em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento. [os malefícios que afligem os venezuelanos, são exatamente os que os inimigos do Brasil pretendem trazer de volta - mas não conseguirão. Perderam em 35, em 64, e agora o seu 'melhor' candidato, o descondenado Lula, ainda não sabe se assume que será candidato em 2022 = caso seja, ótimo, não haverá segundo turno, o capitão esmagará o maior ladrão do Brasil no primeiro round.]

A evolução dos indicadores econômicos nos últimos anos demonstra o agravamento da crise e a deterioração das condições de vida na Venezuela. Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), até o final deste ano, o PIB per capita da Venezuela deve cair para US$ 1.630, o menor valor entre os países das Américas, incluindo o Haiti (US$ 1.690). Em 2011, o PIB per capita no país era superior a US$ 12 mil.
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Em 2011, o Produto Interno Bruto da Venezuela atingiu o seu pico da última década, na faixa de US$ 353 bilhões. Ainda segundo o FMI, o PIB venezuelano caiu para US$ 47 bilhões em 2020, uma redução de mais de 86% no período. Desde 2017, o país enfrenta ainda a hiperinflação. Para este ano, a estimativa do FMI é de uma inflação de 2.700% na Venezuela. O ápice da hiperinflação foi em 2018, em torno de 136.000%.

O trabalhador venezuelano precisa ainda lidar com a profunda desvalorização do seu salário. Enquanto em 2012 o salário mínimo venezuelano era de cerca de US$ 200, com base na cotação do preço do dólar no mercado paralelo, em maio de 2020 ele já tinha caído para a faixa de US$ 2,30 mensais.
 
As causas
Dona das maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela é um petroestado, ou seja, sua economia é altamente dependente da indústria do petróleo. Isso significa que o país é vulnerável às mudanças de cenário dessa indústria no mercado internacional – quando o preço do petróleo sobe, as suas receitas aumentam, e vice versa. Assim como outros grandes produtores de petróleo, a Venezuela foi afetada pela queda nos preços da commodity, especialmente a partir de 2014. Essa não foi a primeira vez que isso ocorreu. Porém, dessa vez, decisões políticas colaboraram para o declínio econômico.

As diferenças do processo atual, durante os 20 anos dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, são muito mais graves, porque esse problema estrutural da Venezuela teve como agravante adicional a opção por um corolário de políticas econômicas que violaram os direitos econômicos da população”, diz Clavijo, que também é bolsista de pós-doutorado em programa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
 
Controle de preços
A primeira dessas políticas que contribuíram para que a Venezuela chegasse à situação atual foi o controle de preços, aponta Clavijo. “O chavismo acabou com o sistema de preços. E, ao querer controlar os preços, desestimulou a produção nacional”, diz.

Muitas vezes, os custos da produção eram mais altos do que os preços estabelecidos pelo Estado, e quem não vendia por esses preços estava sujeito a multas, expropriações ou outras penalizações.
 
Estatização
Outro fator foi a estatização de mais de mil empresas de diversos setores da economia, incluindo telecomunicações, energia e agricultura. “Isso acabou destruindo a capacidade produtiva que existia no país”, avalia o cientista político.

Segundo ele, durante o período democrático, a Venezuela conseguia fornecer serviços de eletricidade, água, entre outros, com qualidade e estabilidade. Mas os governos de Chávez e Maduro “acabaram com isso, porque essas empresas quebraram”.
 
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Controle do câmbio
Para Clavijo, outra decisão política que foi “muito perniciosa” para a economia venezuelana foi a decisão do governo Chávez, em 2003, de controlar o câmbio de divisa.

O governo passou a controlar a venda de dólares, estabelecendo um preço artificialmente baixo para a moeda estrangeira. Com isso, ficou mais barato importar produtos do exterior do que produzi-los no país, o que “desestimulou fortemente a produção nacional”, diz Clavijo.
 
Corrupção e falta de autonomia
Completando a equação estão problemas associados à corrupção na administração federal venezuelana, principalmente envolvendo a estatal de petróleo PDVSA.

No começo dos anos 2000, a PDVSA era uma empresa pública eficiente, com grande capacidade de produção e refino de petróleo e ambiciosos planos de internacionalização que estavam dando certo. “Hugo Chávez chega com um pacote de reformas, toma o controle da empresa e acaba com as suas políticas de autonomia e meritocracia, que permitiam que a empresa tivesse bons resultados”, relata Clavijo.

Chávez começa então a usar as receitas petrolíferas da PDVSA para atividades não essenciais à indústria do petróleo e para financiar políticas sociais e planos de internacionalização. Isso inclui os supostos financiamentos de partidos políticos aliados na América Latina e na Europa.

“A exploração de petróleo envolve riscos. A empresa precisa usar parte de suas receitas para financiar atividades de exploração e produção. Isso não aconteceu da forma como deveria”, explica o especialista, acrescentando que o governo Chávez demitiu milhares de trabalhadores capacitados, enquanto também começaram a acontecer casos de corrupção na empresa estatal de petróleo, fatores que prejudicaram a capacidade técnica da empresa de manter a produção e a qualidade.
 
Sem retomada
Somado a tudo isso, a Venezuela começa em 2007 a fazer empréstimos e a se endividar com a China e outros mercados internacionais. “Quando em 2014 o preço do petróleo cai, descortina-se uma crise muito mais complexa do que só a questão conjuntural associada à cotação do preço do barril”, afirma Clavijo.

Quando ocorreu a queda dos preços do petróleo, todos os países produtores foram afetados e tiveram que reformular seus planos de negócios. Porém, a Venezuela não estava preparada para lidar com esse cenário, porque “não manteve uma política econômica responsável”.
Portanto, quando esses países começam a se recuperar, a Venezuela não se recupera – devido à falta de investimentos, falta de poupança, de boa gestão da política macroeconômica do país e da empresa estatal de petróleo, entre outras questões.

O regime chavista e seus apoiadores culpam as sanções impostas pelos Estados Unidos pelo declínio da produção de petróleo na Venezuela e consequente crise econômica. A primeira sanção dos EUA contra a PDVSA foi imposta em 2017, impedindo a estatal de usar o sistema financeiro norte-americano para pagar por produtos e serviços. “Porém, nos meses anteriores, a PDVSA já experimentava uma queda na produção de barris de petróleo. Desde 2014, a empresa já tinha entrado em uma linha de declínio acelerado, que nada tem a ver com as sanções”, afirma Clavijo.

Em 2019, o governo do presidente americano Donald Trump proibiu a importação de petróleo da Venezuela, o que causou um impacto muito grande sobre a PDVSA. Naquela época, lembra Clavijo, o país enviava grande parte da sua produção de petróleo para a China, como pagamento da dívida. Uma parte da produção era destinada ao mercado interno, com preços subsidiados, e uma parte ainda era enviada para Cuba, para cumprir compromissos assumidos com a ditadura cubana, em troca de assessoria técnica nas áreas de contra-inteligência, educação, saúde, entre outros. “O principal destino das exportações do petróleo venezuelano, que geravam caixa para a empresa, eram os Estados Unidos. Quando o país impôs o embargo, obviamente a empresa ficou sem caixa, o que acelerou o declínio”, explica o cientista político.
Êxodo venezuelano

Nesse contexto, houve o aprofundamento do colapso dos serviços públicos. A população sofre com constantes crises no fornecimento de energia e nos sistemas de saúde e educação, entre outros, além da escassez de alimentos, medicamentos e combustíveis. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica a situação da Venezuela como uma “emergência humanitária complexa”. A deterioração das condições de vida em diversas formas provocou o êxodo migratório da Venezuela, que é a segunda maior crise migratória atual, atrás apenas da Síria – um país que passa por uma guerra civil que já dura mais de dez anos.

Desde o início da crise até novembro deste ano, mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram o país, a maioria deles para outros países da América do Sul, principalmente a Colômbia. Estima-se que, até 2022, haverá cerca de 8,9 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos em 17 países da América Latina e Caribe, segundo o a Plataforma de Interagencial de Coordenação para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V), liderada pela Acnur, a agência da ONU para os Refugiados, e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
 
Helen Mendes, colunista - Gazeta do Povo - Mundo
 
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A GRANDE MENTIRA - Percival Puggina


Há um número significativo de pessoas para as quais a causa da pobreza no Brasil é a concentração da riqueza “nas mãos de uns poucos”. Ou, em outras palavras, que os pobres são pobres porque os ricos são ricos. Ou ainda, numa perspectiva instrumental, que para acabar com a pobreza é preciso dividir a riqueza (a palavra mais usada é “partilhar”).

 Mensagens assim são disparadas cotidianamente desde várias fontes, nos meios de comunicação, nas redes sociais, nas salas de aula, nos sindicatos, nas igrejas, nas conversas de bar e nos ambientes culturais. Sob tal bombardeio de inverdades seria impossível que o conceito não derrubasse as resistências que a razão pudesse propor, fazendo de toda riqueza um mal e de todo rico um sujeito perigoso.
Andaríamos mais rapidamente e melhor na direção certa se entendêssemos o quanto é enganadora  essa leitura ideológica, a partir da qual a utopia socialista é receitada como remédio no teclado do micro, na folha do livro, na coluna do jornal e na sala de aula.

Existem explicações muito mais racionais para a pobreza de tantos brasileiros e para a pobreza do país. O Estado brasileiro se agigantou e engole mais de 40% do PIB nacional, gerando uma brutal concentração de renda em torno de si mesmo e obrigando os cidadãos a trabalharem de 1º de janeiro até 31 de maio para pagar impostos. Tais impostos são pagos para um retorno em serviços que, ou não são prestados, ou não têm a qualidade que se deveria esperar.

A corrupção e os corporativismos atacam, simultaneamente, o bolso dos cidadãos gerando uma apropriação privada de recursos que, em tese, deveriam estar a serviço de todos, produzindo desenvolvimento econômico e social. Os dois fatores espantam investidores externos e tornam o país pouco atrativo a quem tenha destinos mais seguros para seus recursos.  Nosso modelo institucional é causa de permanente instabilidade política e de crises que se sucedem umas às outras, somando-se aos fatores de risco do país. A irracionalidade do presidencialismo dito de “coalizãotransforma o voto parlamentar em commodity com preço no mercado dos interesses em jogo, levando a corrupção para dentro do parlamento. 

Por mais que pareça lugar comum, a afirmação segundo a qual a maior riqueza de um país é representada pelo seu povo não pode ser negligenciada ao avaliarmos os motivos da existência de tantos pobres e de tão evidentes sinais de pobreza no Brasil. Uma rápida busca no Google evidenciará que algo entre 60 e 82% dos postos de trabalho abertos no país não são providos por falta de capacitação dos pretendentes. É reprodutor de miséria e causa de baixo desenvolvimento social um sistema de ensino de pouca qualidade. Todo ano, em proporções demográficas, apresentam-se ao mercado de trabalho jovens egressos do ensino médio que não conseguem montar uma regra de três, não sabem interpretar o que leem e não se expressam de modo adequado no idioma nacional. Onde encontrar o bom emprego e o salário digno? Ademais, há uma razoável possibilidade de que parcela significativa de tais jovens tenha recebido, em sala de aula, a lição freireana de que é oprimida pelo capitalismo opressor...

Por incrível que pareça, é dentro desse cenário que a grande mentira encontra seu público, disperso em todas as classes sociais. Chega a ser criminoso atribuir à empresa privada, ao investidor, ao empregador, ao gerador de riqueza as culpas pela pobreza visível no país e, ao mesmo tempo, perversamente, inocentar os verdadeiros responsáveis: o Estado e a carga tributária, a corrupção e os corporativismos, a irracionalidade do modelo institucional, a instabilidade política e a má qualidade da Educação.



 

Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor, colunista de dezenas de jornais e sites no país
 

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Bolsa abre em alta impulsionada por resultado do Datafolha

O Ibovespa abriu o pregão em alta, animado por fatores eleitorais internos, e vai se sustentando com a virada dos mercados acionários dos Estados Unidos, que passaram a operar no positivo. Por aqui, o movimento de correção às perdas de quase 3% do pregão da véspera ocorre agora em um ambiente de recuo do dólar.   Às 10h09, o índice da Bovespa à vista subia 0,67%, aos 84.235,58 pontos. Nos Estados Unidos, o Dow Jones subia 0,15%, o S&P500, 0,11% e o Nasdaq, 0,46%.

Mais cedo, antes mesmo da abertura da sessão regular, o humor dos investidores do mercado acionário dos EUA chegou a melhorar após dados de inflação mais amenos. Aliado a isso, a consolidação do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na frente das pesquisas de intenção de voto para a Presidência, abriu espaço para a alta do Ibovespa. O ambiente mais animado também embala a melhora dos papéis de estatais, que na quarta sofreram diante do discurso menos liberal de Bolsonaro sobre a privatização.

Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,1% em setembro na comparação com o mês anterior com núcleo do dado, que exclui alimentos e energia, teve ganho de 0,1%. Ambos os dados vieram menores que as estimativas e sugerem que as pressões inflacionárias seguem sob controle, enquanto o dólar forte contém os preços de importados e os custos com energia recuaram.

No front externo as cotações do petróleo no mercado internacional operavam em queda mais perto de 2% pressionados pela preocupação de desaceleração do crescimento econômico mundial, o que poderia reduzir a demanda pela commodity, e também pelas projeções de aumento do volume estocado de petróleo bruto. Por outro lado, o minério de ferro fechou em alta de 0,22% no porto de Qingdao, na China.
“O mercado doméstico está olhando meio de soslaio para o exterior e, a depender de lá, terá ou não força para andar aqui”, afirma Luiz Mariano De Rosa sócio da Improve Investimentos, ressaltando que Bolsonaro na frente das pesquisas segue animando os investidores mesmo que esteja se mostrando agora mais avesso tanto a uma reforma da Previdência mais profunda quanto à extensão do plano de privatização de estatais. “Mesmo falando assim, o mercado ainda vê que ele é melhor que o outro candidato Fernando Haddad, PT.”

Pela pesquisa do Datafolha, Jair Bolsonaro tem 58% dos votos válidos e Fernando Haddad tem 42%; os dois acabaram a disputa em 7 de outubro com 46% e 29% dos votos válidos, respectivamente. Os dados da quarta indicam que ambos conseguiram agregar votos de candidatos derrotados no primeiro turno.

Estadão Conteúdo

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Petróleo Brent abaixo de US$ 29 - petróleo do pré-sal, qwualidade inferior, a no mínimo US$ 35


Queda do petróleo pode inviabilizar lucro de parte do pré-sal no Brasil


Com brent abaixo de US$ 29, analistas apontam que o investimento no pré-sal deve crescer menos do que o esperado 

A derrocada do preço internacional do petróleo, com o brent barril de referência nas bolsas internacionais – permanecendo abaixo de US$ 29 nos últimos dias, impacta no lucro do que foi celebrado pelo presidente Lula como o "bilhete premiado do Brasil" em 2006: o pré-sal. Apesar de ser benéfica a alguns setores (como a agricultura, que usufrui de fretes mais baratos), a queda na cotação da commodity lança um ponto de interrogação sobre os ganhos com a exploração das camadas mais profundas de petróleo no Brasil.

A extração de recursos nas camadas mais profundas, cuja profundidade pode ultrapassar 7 mil metros, tem um custo de US$ 8,00 por barril, de acordo com a Petrobras. Com o brent avaliado a menos de US$ 30,00, analistas apontam que o investimento nessa região deve crescer menos do que o esperado, sendo inviável em alguns blocos.


Para entender quanto custa o petróleo da Petrobras, é preciso considerar as etapas da produção. O custo de extração nas plataformas é de aproximadamente US$ 8 o barril. A estatal também paga uma participação ao governo federal, que está em torno de US$ 17 o barril. Além disso, o petróleo brasileiro é considerado pesado, de menor valor no mercado internacional, porque exige um trabalho adicional de pós-processamento. Para compensar, no cálculo de exportação, é como se ele custasse ainda mais US$ 10 o barril. Somando tudo, chega-se a U$ 35 o barril para o petróleo de algumas áreas a se pagar.

"Com todos esses custos, diante do preço atual, alguns blocos não estão dando resultado. Ao contrário, estão próximos ao negativo", diz o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido. Há, entretanto, uma proporção entre o custo de extração e a produtividade de cada área que deve ser incluída na conta. "O petróleo baixo lança uma questão sobre os investimentos da Petrobras, principalmente no pré-sal, que tem custo de extração maior do que a Bacia de Campos por ser mais profundo. O custo de extração da Petrobras como um todo é de em média US$ 22 o barril, de acordo com o último balanço. Mas a gente não tem como estimar realmente o custo do pré-sal. Esse desembolso tem relação direta com a produtividade de cada poço, pode ter um que produza 10 mil barris por dia e outro 100 mil, por exemplo, então é preciso pesar essa proporcionalidade."

A coordenadora de pesquisa da FGV Energia, Lavínia Hollanda, ressalta que as consequências da atual cotação serão sentidas em todas as companhias que trabalham com o combustível fóssil. "Todas as empresas estão disciplinando a redução de custos, que é o que a Petrobras deve fazer. Uma queda de preços que parecia pontual está durando muito mais do que o esperado. Há perspectiva de queda de 50% no lucro da Shell no último trimestre de 2015. O problema é que esse efeito vem em uma hora muito ruim para a Petrobras, que vive uma situação fincanceira delicada e problemas de corrupção que afetam sua capacidade de reagir", diz.

Os atuais preços da gasolina e do diesel no país (mais caros do que no mercado externo, já que os valores, por serem controlados pela União, não acompanham a queda do petróleo) poderiam ser facilitadores ao caixa da Petrobras, não fosse a dívida bruta de R$ 506 bilhões da empresa, com 70% desta quantia sendo calculada em dólar. Flavio Conde diz acreditar em uma redução da ordem de 10% no preço da gasolina e do diesel ainda neste ano. A medida, segundo ele, seria motivada para forçar para baixo a inflação e aumentar a popularidade do governo Dilma Rousseff.  "Como a prioridade do governo é inflação e não a geração de caixa da Petrobras, esse é um risco adicional para 2016", afirma o analista da WhatsCall Research. "Por que o governo não deixa o preço igual ao de outros países? Por que não baixamos? Porque o governo passou o primeiro mandato inteiro da Dilma com o preço abaixo do mercado, o que gerou um prejuízo de R$ 70 bilhões. O governo está, entre aspas, pagando agora essa diferença de preço", diz.

Problema antigo
Na visão dos analistas, o imbróglio em torno das decisões, a partir de 2007, de como o Brasil poderia se beneficiar dos royalties e atuar no pré-sal gerou uma janela de tempo "preciosa" e irrecuperável. De 2010 a 2013, o petróleo estava entre US$ 100 e US$ 150, cotação atraente para o comércio na área. Para Lavínia Hollanda, da FGV, a movimentação vista durante a descoberta das camadas profundas do petróleo foi o contrário de um modelo que estava fluindo: "A gente trazia mais operadores para o Brasil. Com o pré-sal, houve uma concentração na Petrobras, que gerou uma dependência de todo o setor. Foram cinco anos discutindo como seria o royalties, perdemos uma janela de tempo que não volta mais".

O analista da XP Investimentos afirma que o Brasil descobriu a camada de pré-sal em 2007, so licitou um bloco apenas em 2010. "Se tivessem licitado na época, quando o barril estava na casa de US$ 100, estaríamos recebendo royalties e participações governamentais. As commodities são cíclicas, temos que aproveitar um momento de patamar elevado para vender concessões. Com o preço atual, o investimento estrangeiro é inibido", afirma Plácido.

Lei da oferta e demanda
Além do brent abaixo de US$ 29, o contrato barril WTI [West Texas Intermediate] atingiu o menor nível em 12 anos nesta semana. O cenário é atribuído a três eventos principais, comandados pela lei da oferta e da demanda: 1) alta oferta de países da OPEP, liderada pela Arábia Saudita, e os Estados Unidos atuando como novo mercado exportado; 2) volta do Irã, detentor da quarta maior reserva do mundo, ao mercado após a revogação das sanções internacionais; 3) baixa demanda, diante da desaceleração chinesa. 

 Em suma, um superabastecimento.  "Tudo depende da Arábia Saudita, que a partir de 2014 criou um movimento de baixa para prejudicar os produtores de xisto dos Estados Unidos, que precisam de no mínimo US$ 80 por barril para ter rentabilidade. O país começou a aumentar a produção acima do nível da demanda", afirma Conde, da WhatsCall.

A Agência Internacional de Energia (AIE) alarmou o mercado na terça-feira (19) ao afirmar que prevê novas quedas no preço da commodity, que pode chegar à casa de US$ 10 por barril. A agência afirma que o mercado terá de absorver a produção extra do Irã, que deve aumentar em 300 mil barris por dia no final do primeiro trimestre. A projeção da AIE é que, pelo terceiro ano seguido, a oferta excederá a demanda em 1 milhão de barris por dia. A baixa perspectiva de lucros no pré-sal podem inibir o investimento em para instalar plataformas e produzir em novos campos da região.

Fonte: Revista Época