Lula citou em grampo
Rosa, que definirá prisão... - Veja mais em
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O destino acomodou nas mãos da
ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, a definição sobre a regra que
permite a prisão de condenados em segunda instância. Tremenda falta de sorte de
Lula, pois Rosa, uma magistrada de mostruário, discreta e austera, é a mesma
que foi citada por ele em diálogos telefônicos vadios captados pela Lava Jato
em 4 de março de 2016.
Conduzido coercitivamente pela
Polícia Federal, Lula acabara de prestar depoimento por ordem de Sergio Moro.
Estava uma arara. Sob escuta, dividiu sua irritação com Dilma Rousseff. Estava
assustado com a ousadia da “República de Curitiba”. Lamentou: “Nós temos uma
Suprema Corte totalmente acovardada…”
Dilma passou o telefone para o
petista Jaques Wagner, então chefe da Casa Civil da Presidência. O réu disse a
Wagner: “…Eu queria que você visse agora, falar com ela [Dilma], já que ela
está aí, falar com ela o negócio da Rosa Weber. Está na mão dela para decidir.
Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os
homens não fizeram”. E Wagner: “Falou! Combinado! Valeu, querido, dá um abraço
na Marisa e nos meninos.”
O “saco” que Lula enxergava em
Rosa o levava a supor que a ministra poderia deferir uma petição que seus
advogados haviam protocolado no Supremo. No mesmo dia em que os grampos
captaram a conversa, a ministra contrariou a defesa de Lula, indeferindo pedido
para retirar das mãos de Sergio Moro as investigações sobre o tríplex do
Guaruja e o sítio de Atibaia (aqui, a íntegra da decisão da ministra). Alegava-se
que as encrencas já estavam sendo apuradas em São Paulo. Alheia à morofobia de
Lula, Rosa manteve Curitiba no seu encalço.
Pois bem. O destino voltou a
atravessar Rosa Weber no caminho de Lula. Como se sabe, a prisão na segunda
instância prevaleceu no Supremo, em 2016, pelo magro placar de 6 votos a 5.
Morto num acidente aéreo em 2017, Teori Zavaschi votara a favor da tranca.
Receava-se que seu substituto, Alexandre de Moraes, modificasse o voto. Mas ele
ecoou a posição de Zavaschi em julgamento ocorrido na terça-feira na Primeira Turma
do Supremo.
Preservado por Moraes, o placar
de 6 a 5 pode ser modificado pelo ministro Gilmar Mendes. Ele também havia
votado em 2016 a favor da prisão no segundo grau. Mas já anunciou uma
meia-volta. Em tese, a reversão do placar beneficiaria Lula, cuja defesa
protocolou no Supremo um habeas corpus para tentar evitar a execução da penas
de 12 anos e 1 mês de cadeia, fixada pelo TRF-4.
O diabo é que Rosa Weber também
não descarta a hipótese de alterar o seu voto, fazendo um caminho inverso ao de
Gilmar. Em 2016, Rosa posicionara-se a favor de que as prisões só ocorressem
depois de esgotadas todas as possibilidades de recurso aos tribunais superiores
de Brasília. Agora, deixa no ar a hipótese de aderir à banda do Supremo
favorável ao início da cana já na segunda instância. Para um lado ou para o outro, o
certo é que a nova maioria sobre a matéria será decidida por Rosa. Vale dizer:
no limite, o futuro carcerário de Lula depende da ministra citada por ele em
termos desrespeitosos nos grampos da Lava Jato.
Suprema ironia: ao indeferir o
pedido que Lula imaginou que ela atenderia, Rosa manteve, em março de 2016, as
investigações sobre o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia nas mãos de Moro.
O mesmo juiz que, no julgamento do mensalão, atuara como auxiliar de Rosa Weber
no Supremo. Por mal dos pecados, é
justamente a sentença de Moro no processo do tríplex que deixou Lula na cara da
cadeia. No mérito, a decisão do juiz da Lava Jato foi confirmada pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região. Na fixação da dosimetria do castigo, os três
desembargadores que determinaram a prisão do réu elevaram a pena de 9 anos e 6
meses para 12 anos e 1 mês de prisão.
O encadeamento dos fatos revela
que Lula pode ter sido abandonado por sua lendária sorte. E sem sorte não se
chupa nem um pirulito. O sujeito pode engasgar com o palito.