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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Defender a própria vida é um direito irrevogável

Só cretinos fundamentais acham possível enfrentar animais selvagens e feras humanas com apelos e técnicas de persuasão

Aprendi a lidar com armas de fogo graças a Nossa Senhora Aparecida. Não, não estou brincando com coisa séria. Explico-me. Em Taquaritinga, onde nasci, o povo festeja o dia da padroeira do Brasil soltando rojões. Num certo 12 de outubro, meu pai resolveu trocar os fogos de artifício por um Taurus calibre 32. E, enquanto homenageava a santa com tiros de revólver, ensinou os filhos a manejarem sem perigo e com destreza objetos que tanto atormentam os pacifistas de botequim. A partir daquele ano, as lições foram ministradas em todos os dias de foguetório.

Mantenham o revólver apontado para o chão, alertava meu pai. Examinem o tambor e vejam se existe alguma bala no cano com os dedos longe do gatilho. Apoiem na outra mão a mão que empunha o cabo. E atirem sempre para o alto, em espaços abertos. Essas aulas práticas bastaram para que aprendêssemos que armas devem ser usadas com cuidado e em ocasiões especiais. Nenhum de nós virou pistoleiro, ninguém na família saiu pelas ruas da cidade querendo decidir pendências a bala.

Graças a métodos semelhantes, sucessivas gerações de taquaritinguenses aprenderam a manejar armas com a naturalidade de quem empina uma pipa. Existe ao menos uma em cada casa. Espingardas proliferam na zona rural, ao alcance dos braços de agricultores dispostos a usá-las contra onças ou feras humanas. Mas não passa de um dígito o número de mortes por armas de fogo contabilizadas a cada ano.

Esse número é invariavelmente inferior ao de casos de tentativas de assalto ou ataques de bichos ferozes frustrados por um mero disparo de advertência.  No referendo de 2005, passou de 80%, em Taquaritinga, o contingente de eleitores que votaram a favor do direito de ter em casa uma arma. Repetiu-se por todas as regiões brasileiras a derrota dos que acham que devemos enfrentar desarmados bandidos tão ferozes quanto animais selvagens. O decreto assinado ontem pelo presidente da República, portanto, atendeu à vontade da grande maioria dos brasileiros.

Defender a própria vida é um direito que jamais será revogado. Pergunto: é possível exercê-lo recorrendo exclusivamente a apelos, técnicas de persuasão, ou mesmo a socos e pontapés? Só cretinos fundamentais acham que sim. [a proibição de armas só interessa aos bandidos e à turma esquerdista, que busca eliminar do cidadão o direito a defender sua vida, a de terceiros e também o direito de propriedade - que tanto incomoda a corja lulopetista - óbvio, quando a propriedade não é deles.]

Blog do Augusto Nunes - Veja - Edição da semana 2617 16/01/2019
 

terça-feira, 10 de maio de 2016

Um travo



A sensação, ao final do dia, foi a de que escapamos de mais uma armadilha montada para tentar, pelo menos, adiar a consumação do impeachment da presidente Dilma. Mas é inevitável, também, ficar um travo diante do que a presidente chamou de “manhas e artimanhas” que se desenrolaram, numa definição estranhamente clara sobre o que acontecia nos bastidores da política, em que ela atuou decisivamente nos últimas horas.

Não há dúvida de que toda essa estratégia foi montada pelo governador maranhense Flávio Dino, do PCdoB, um pólo de poder regional que interessa ao paroquialismo do presidente em exercício da Câmara, deputado Waldyr Maranhão. Uma manobra desesperada de anular as sessões da Câmara, que já havia sido tentada em diversas instâncias nesse processo de impeachment pela aguerrida tropa de choque governista no Senado, que contava com o apoio do presidente Renan Calheiros para adiar o fecho desse ciclo petista que teima em permanecer no poder à custa de qualquer manobra.

O que espanta os mais chegados ao provável futuro presidente Michel Temer é a garra com que o Advogado-Geral da União, José Eduardo Cardoso, se dedica à defesa da presidente Dilma, como se disso dependa seu futuro político.  Na verdade, é isso mesmo o que acontece, pois Cardozo, em sua nova encarnação, destaca-se como um dos principais líderes do que sobrará do PT no pós-Dilma. Sua atuação tem sido tão relevante, não necessariamente para a presidente, mas para o petismo de modo geral, que até mesmo o ex-presidente Lula, que não gostava dele desde o tempo, lá pelos idos dos anos 1980, em que Cardozo participou de uma comissão de inquérito que acusou o advogado José Carlos Teixeira de interferir indevidamente em negócios das prefeituras petistas, agora o considera uma peça fundamental para o próximo ciclo político que o partido espera viver a partir da oposição que fará ao provável governo Temer.

Juntamente com o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, Cardozo está sendo considerado uma alternativa para a candidatura presidencial petista em 2018, e se Haddad não conseguir se reeleger, será o mais cotado para o posto.

Cardozo, cujo sonho sempre foi ser indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), foi barrado por Lula, e agora se transformou na salvação do PT. Tanto para dar ares de verdade à tese do golpe como, mais adiante, na tentativa de ser a imagem de um PT renovado.

O senador Renan Calheiros encontrou um bom pretexto para passar uma imagem de isento ao impedir que o senador Delcídio do Amaral estivesse em condições de votar a favor do impeachment da presidente Dilma, uma manobra claramente tentada e que quase coloca por terra o que deveria ser o objetivo central da oposição.  Colocar Delcídio para fazer um show na quarta-feira seria um requinte de maldade política desnecessário. E transformá-lo em um herói oposicionista seria a mesma coisa que não cassar o mandato do deputado Roberto Jefferson no episódio do mensalão.  Jefferson e Dirceu foram cassados, como se fossem aqueles pistoleiros de filmes de faroeste do Tarantino que se matam mutuamente. 

Agora, Delcídio e a presidente Dilma terão o mesmo destino, faltando definir qual será o do pistoleiro mais rápido do Congresso, o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha.

Ontem, viu-se no Congresso Nacional o nível em que se desenrola nosso presidencialismo de coalizão e, mais preocupante, tivemos exemplos claros dos personagens que, tanto na Câmara quanto no Senado, serão os responsáveis pelas reformas constitucionais que o futuro governo Temer terá que aprovar para que a economia se torne minimamente competitiva.

Como disse num momento espontâneo o ministro do Supremo Luis Roberto Barroso, “meu Deus do Céu essa é a nossa alternativa”.

Fonte: Merval Pereira – O Globo