Alguns são reféns de Janot. Eu sou refém da lógica. Parece-me, então, que Aécio venceu a parada partidária nesse particular e que o tema “desembarque do PSDB” já tema não é
Vou aqui tentar destrinchar, leitor
amigo, um enigma chamado “PSDB”. Por que algumas figuras do partido
decidiram, como direi?, privatizar a crise que atingiu o governo com a
patuscada da holding moral chamada “J&J” — Janot e Joesley? Não há
resposta simples para isso. Nem complexa. Às vezes, a estupefação é o
único lugar em que se pode estacionar a racionalidade. Mas essas são
questões de fundo. Quero começar pelos dados mais recentes da equação
exótica. Leio que o senador Tasso Jereissati (CE) permanece — por
enquanto, “sine die”, sem prazo definido — no comando do partido, num
entendimento que envolveria lideranças da legenda como o senador Aécio
Neves (MG), Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e outros. Então
vamos disparar o mecanismo do pensamento.
Leio ainda que Aécio foi a voz mais
clara em favor da manutenção do partido na base de apoio. Acrescento ao
arranjo o fato de que, na sua primeira interinidade, Tasso foi um pouco
além do que lhe recomendaria a prudência no esforço para o partido
desembarcar do governo. Não se viu tamanho engajamento seu (e olhem que
procurei) em favor do impeachment de Dilma Rousseff. Alguns são reféns de Janot. Eu sou refém
da lógica. Parece-me, então, que Aécio venceu a parada partidária nesse
particular e que o tema “desembarque do PSDB” já tema não é. É bem
verdade que a manchete do Globo Online, neste momento (pouco antes da 1h
de sexta) é esta: “Miriam Leitão: Tasso teria votado a favor da denúncia se fosse deputado”.
Foi o que ele disse ao programa da jornalista na GloboNews, que foi ao
ar nesta quinta, às 21h30. Dever ser algo inédito na história de um
jornal de alcance nacional — ou, mais ampla e universalmente,
carioca!!!. Ainda que na versão online, sempre mais rápida. Então um
senador teria votado contra Temer se deputado fosse? Uau!
A expectativa de muitos é a de que esta
segunda interinidade dure até dezembro. Digam-me cá: Tasso vai ser
presidente de um partido inteiro ou de menos de meio? O PSDB tem 47
deputados. Nada menos de 21 votaram contra o relatório de um também
tucano, Paulo Abi Ackel (MG), que recomendava o arquivamento da
denúncia. Posicionaram-se, portanto, contra Temer. Outros 22 acataram o
texto, alinhando-se com o presidente, e quatro não compareceram, o que
também era do interesse do governo.
E que se note: o sr. procurador-geral — a
letra “J” da holding “J&J” — não conseguiu apresentar uma miserável
evidência da acusação que faz. Ele próprio já admitiu que está
denunciando algo impossível de ser provado. E, por alguma razão, ele o
diz em tom meio heroico. Há comportamentos estranhos no país
ultimamente. Se eu acreditasse em abdução, juraria que certas reputações
foram chipadas por ETs que querem nos destruir…
Dos 21 deputados que votaram contra
Temer, 11 são de São Paulo, onde o partido tem uma bancada de 12. Um
deles é o líder, Ricardo Trípoli, que, suponho, deve renunciar ao
comando da bancada, não? Aquele seu encaminhamento contra o relatório de
um também tucano foi um dos momentos mais patéticos da patuscada
inaugurada pela dupla ”J&J”. E por quê? Ora, ele alegou, sei lá,
razões que, pareceu-me, tentaram parecer patrióticas. E veio com a
conversa de que deixar o governo não corresponderia a abandonar as
reformas… Como diria Lula antes do banho de gramática que lhe deram
Antonio Cândido e Marilena Chaui, “Menas, deputado! Menas…”
Digamos que, de fato, os tucanos
continuassem mobilizados em favor das reformas… De que adiantaria isso
com um governo desarticulado, atropelado já pelo calendário eleitoral?
Entendo que, ao votar, um deputado e um senador estão moralmente
obrigados a pensar: “O que aconteceria se todos fizessem como eu?” E se a
Câmara tivesse seguido os 21 do PSDB? Em vez da calmaria de hoje, com o
dólar pouco acima de R$ 3,10, teríamos a festa dos especuladores. Se há
nisso cálculo eleitoral — distanciar-se de um governo impopular —, é
errado e precoce. Se há a convicção de que o MPF está certo em relação a
Temer, então os valentes tucanos têm de estender a todos os seus
implicados a… presunção de culpa.
Trípoli tinha uma saída-limite nesta
quarta: “O nosso partido não fechou questão; cada deputado votará de
acordo com a sua consciência. Libero a bancada, mas reconheço (A MENOS
QUE O DEPUTADO ME CONTRADITE COM EVIDÊNCIAS) que o MPF não apresentou a
prova…”
Em vez disso, ele encaminhou o voto
contra o relatório que pedia o arquivamento da denúncia e foi seguido
por apenas 44,6% dos deputados (21 de 47). No grupo dos 21, há 11
(52,38%) paulistas, o que corresponde a 91,7% da bancada do partido em
São Paulo.
Tasso vai ter de decidir se pretende
exercer a presidência de menos da metade do partido, sendo, no cargo, o
que Trípoli é na liderança: ele, um presidente que não preside; o outro,
um líder que não lidera. Caso a entrevista de Tasso a Miriam Leitão não
seja o último suspiro dessa pauta aloprada, aí as coisas, que já eram
complicadas, vão… se complicar!!! Mais: dado que os tucanos certamente
não encontrariam espaço para disputar corações, mentes e clichês com os
petistas, a consequência de sua saída seria o aumento da importância
relativa do tal “centrão” e a clara perda de influência do PSDB, que não
vive seu melhor momento.
Temer e o PSDB; o PSDB e o PSDB
É claro que Temer há de buscar a recomposição com o conjunto do tucanato. É importante para as reformas que estão por vir. Aliás, há que se tentar ganhar, segundo a minha contabilidade, que não inclui o PSB, os 87 deputados que votaram contra o governo. Pode até ser que o presidente consiga restabelecer as pontes necessárias para manter o PSDB na base, com menos defecções. É habilidoso nessa área. Fosse eu tucano, estaria menos preocupado em saber se o partido vai se entender com o governo. A questão relevante é saber se os tucanos conseguirão se entender… com os tucanos.
E, meus caros, não há jeito. Desde São
Paulo — o de Tarso —, flauta tem de soar como flauta, e cítara, como
cítara. Ou o povo de Deus se atrapalha.