Wilson Witzel começou o governo em ritmo de campanha. Na primeira
semana, ele caprichou nas poses militares e na retórica de guerra. Em ao
menos seis ocasiões, repetiu a promessa de liberar o abate de
traficantes. “A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo!”, resumiu, em
entrevista recente. No domingo, o governador foi ao enterro de um PM baleado na Linha
Amarela. O funeral virou palanque para novas declarações de impacto. O
ex-juiz anunciou que vai “aniquilar e asfixiar” o crime. Outros
políticos já disseram o mesmo, mas nenhum deles conseguiu derrotar as
quadrilhas com o gogó.
Ontem Witzel tocou seu realejo na posse do novo chefe da Defensoria
Pública. O governador disse que os criminosos serão tratados como
terroristas e “abatidos” pela PM. Depois da solenidade, o defensor
precisou lembrar que a Constituição proíbe a pena de morte. Os agentes
da lei só têm licença para matar em casos de legítima defesa ou para
garantir a vida de terceiros. Fora dessas hipóteses, podem responder por
homicídio.
[Defensoria Pública, em respeito ao próprio nome, deveria priorizar a defesa do interesse público, o que inclui DEFENDER AS PESSOAS DE BEM - o governador exagera um pouco nas palavras de efeito (tudo indica que mais por falta de uma legislação adequada, que torne a prática de crimes uma atividade de risco para o criminoso; atualmente o risco é 100% para a vítima).]
Seria exagero dizer que o tiro ao alvo e a extinção da Secretaria de
Segurança são as únicas propostas de Witzel para o setor. Na
quinta-feira, ele disse que o Rio precisa erguer a “nossa Guantánamo”. O
presídio americano ficou conhecido como centro de torturas e abusos
sexuais. Apresentado como solução contra o terrorismo, virou um problema
para a Casa Branca. [por incompetência, desinteresse, leniência, do ex-presidente Obama.]
O Palácio Guanabara tem sido uma máquina de moer políticos. Os últimos
dois governadores estão presos, e outros dois já passaram temporadas na
cadeia. O ex-juiz se candidatou como um ilustre desconhecido e
conquistou quase 60% dos votos. Agora precisa se cuidar para que essa
confiança não escorra pelo ralo. Na semana de estreia, o eleitor ganhou algumas pistas para entender a
cabeça de Witzel. Na sexta, O GLOBO revelou que ele mandou confeccionar a
faixa que usou na cerimônia de posse. O adereço não fazia parte do
protocolo, mas ajudou a engalaná-lo nas fotos. Em conversas com aliados,
o ex-juiz tem repetido que vai concorrer ao Planalto em 2022. Mal
começou a governar e já está de olho em outro cargo.
Bernardo M. Franco