Alexandre Garcia
"Milhares de médicos trabalharam sob a pressão da política que se intrometeu na medicina. Foram incompreendidos, perseguidos, injuriados, mas se mantiveram fiéis ao juramento ético de buscar tratamento com todos os meios"
Nesses últimos 20 meses, nenhum profissional esteve tão perto do coronavírus quanto o médico. Como a semana começou no Dia do Médico, agora é oportunidade de lembrar que foram tempos dramáticos, tempos de provações e de muito aprendizado para essa nobre profissão. Um amigo médico me diz que nunca valeu tanto a pena ser médico em sua inteireza, como nesses meses.
Tempos de um vírus novo, com características imprevisíveis, que provocou uma doença nova também imprevisível, a ponto de se suspeitar que nem seja obra da natureza. É um vírus que saiu de um laboratório e, estimulado, abriu-se em variantes de consequências e graus de contágio diferentes.
Desde Hipócrates, o pai da Medicina, se conhece o juramento que os formandos repetem cada ano, de buscar o bem do paciente. O Código de Ética Médica traduz o juramento, estabelecendo que é vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão. A Declaração de Helsinque, da Associação Médica Mundial, diz que é dever do médico promover e salvaguardar a saúde de seus pacientes, e detalha os cuidados sobre a pesquisa que envolve seres humanos. Nesses 20 meses, todos os dias foram de experiências, pesquisas e descobertas, ante um novo inimigo, desconhecido e perigoso. Os médicos tiveram que enfrentar esse desafio em meio ao pânico gerado e à emergência da pandemia.
Os mais de 500 mil médicos brasileiros se alistaram voluntários nessa guerra, sem distinção de especialidade. Muitos morreram, outros foram infectados e muitos tiveram perdas na própria família. Como tantos brasileiros, médicos também foram afetados psicologicamente, por causa das imensas pressões a que foram submetidos. Mas não esmoreceram, continuam no front dos hospitais, nas trincheiras das clínicas, experimentando, observando, pesquisando, conferindo sintomas, consequências e, sobretudo, amenizando o sofrimento e salvando vidas.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense