Balas de prata e lobisomens são difíceis de achar
A denúncia de Moro constrange Bolsonaro, mas tem força para tirá-lo do cargo?
Política é a única carreira que você pode morrer e ressuscitar na mesma vida.
A provável divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril é suficiente para incriminar o presidente Jair Bolsonaro e impulsionar um processo de impeachment? Sem assistir o vídeo, é impossível fazer tal conjectura, mas Brasília ferve entre os que acreditam e os que duvidam que a gravação é uma “bala de prata”. No folclore alimentado pelo cinema, a bala de prata seria o único tipo de munição capaz de matar um lobisomem. Na política, a metáfora se refere a um fato tão explosivo que acabaria com a carreira ou o mandato de um governante.Dilma Rousseff foi juridicamente afastada pelas pedaladas fiscais, mas as manobras de operação bancárias já haviam cometidas pelos governos Itamar Franco, FHC e Lula. Dilma Rousseff sofreu impeachment pela recessão e os escândalos da Lava Jato. O diálogo entre ela e Lula para torna-lo ministro (com o famoso documento a ser entregue pelo ‘Bessias’) pode ter indignado muita gente, mas não fez parte das acusações.
Michel Temer sobreviveu à uma saraivada de supostas balas de prata, da gravação de seu diálogo com o empresário Joesley Batista à exibição de um vídeo de um assessor saindo de uma pizzaria com uma mala com R$ 500 mil. Muitos decretaram a morte do governo Temer, mas a principal consequência do escândalo fez foi aumentar o valor de cargos exigidos pelas bancadas dos partidos no Congresso. O processo para tornar as denúncias de Moro o motor do afastamento de Bolsonaro é longo. Primeiro, Bolsonaro ser denunciado por um crime de responsabilidade pelo procurador geral Augusto Aras, indicado para o cargo pelo presidente. Isso só vai ocorrer se as provas forem escandalosas. Depois, o pedido precisa ser aceito pelo ministro que preside o inquérito, Celso de Mello, e enviado pelo STF para a Câmara pedindo uma licença para investigar o presidente. Foi o que ocorreu com Temer.
Neste caso, o presidente da Câmara remete o caso para a Comissão de Constituição e Justiça, que ouve acusação e defesa e recomenda uma posição. A posição é votada no plenário e apenas se tiver o mínimo de 342 votos, o processo contra o presidente é autorizado. Nesta hipótese, o STF se reúne e decide se abre ou não um inquérito. Caso decidam pelo processo, aí sim o presidente é afastado por 180 dias enquanto o STF analisa o caso. Parece complicado e é. Por duas vezes, Temer foi denunciado, mas o processo não foi autorizado pela Câmara. Como se diz em Brasília, política é a única carreira que você pode morrer e ressuscitar na mesma vida. [ainda que Bolsonaro fosse culpado, se fosse provado (provar o que não existe é bem complicado) se houvesse exagerado interesse do Supremo em processá-lo, os 342 votos não existem = obstáculo intransponível.]