“Perdi a
esperança. Não voto mais. A política brasileira nunca vai mudar porque
as mudanças dependem de um Congresso e de um STF que não querem nem
ouvir falar nas necessárias alterações. Tudo está sendo feito para
favorecer as reeleições da atual representação parlamentar e manter o
Supremo com a atual configuração e com a atual conduta”.
As
palavras que você acaba de ler me chegaram em mensagem de um leitor.
Exceto por pequeno detalhe, são bem verdadeiras as alegações que faz,
mas a decisão tomada a partir delas está errada. E a causa do erro, como
em tantas situações, está no detalhe: a política brasileira, queira meu
leitor ou não, vai mudar sim! Isso é inevitável porque a política não é
estática. Ela muda. Em certas condições, muda para melhor; noutras muda
para pior.
Se uma
certeza eu tenho em relação a essa questão, que se faz oportuna e
significativa, a poucas semanas de um pleito nacional, é esta: se os
eleitores indignados com a política que temos não comparecerem às urnas
porque estão amuados, desesperançados, obviamente a vantagem será dos
piores candidatos, votados por maus eleitores que, sim, comparecerão às
urnas.
Haverá número ainda menor de bons políticos e número ainda maior
de maus políticos. E isso significa mudança.
Mudança para pior na
representação parlamentar, na presidência e nos governos estaduais. Em
síntese: um desastre, cujas consequências provavelmente se derramarão
sobre uma geração inteira.
Por outro
lado, a omissão, o voto nulo, ou em branco, é o ponto culminante de uma
omissão anterior.
Cidadãos conscientes deveriam ser ativos em todo o
período anterior e posterior à eleição.
Todos já deveriam saber como
votaram deputados e senadores o veto do presidente da República ao Bolsa
Reeleição, também conhecido como Fundão Eleitoral, no montante de R$
5,7 bilhões (clique aqui,
ou siga o link no final do artigo). Todo cidadão ativo deve escolher
seus candidatos o mais cedo possível, ao longo dos próximos meses e
trabalhar para elegê-los.
Ao longo do
ano que se avizinha, ainda estaremos pagando a conta de dois males
simultâneos: a pandemia e o “fique em casa, que a economia a gente vê
depois”.
Era tranquilo dizer, pegava bem exigir, parecia haver um
elevado senso moral a orientar tais condutas.
Como em quase tudo na vida
em sociedade, porém, há o que se vê e o que não se vê. Ou só se vê
depois.
Vale o mesmo para essa versão do fique em casa aplicada ao
exercício da cidadania, que começa bem antes do voto e não se esgota no
voto.
* https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/12/17/lista-como-votaram-fundao-eleitoral-57-bilhoes-congresso-eleicoes-2022.htm
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.