A previdência em desequilíbrio estrutural
Não houve qualquer surpresa. Faz mais de duas décadas, pelo menos, que
especialistas alertam os governantes de turno que o sistema
previdenciário padece de doença terminal: assentado no modelo de
repartição — os contribuintes mais jovens pagam, com suas contribuições,
as aposentadorias dos que se retiram do mercado de trabalho —, as bases
do INSS estavam sendo corroídas à medida que a população envelhecia. E
continua a envelhecer.
O INSS, não. A população envelhece, enquanto a taxa de crescimento dela desaba, e isso faz cair a proporção de jovens em relação à de idosos. O resultado são gastos e déficits crescentes (gráficos). Apenas o INSS tem uma despesa de 8% do PIB. Somada à dos servidores, ultrapassa os 10%, índice de país com população muito mais madura que a brasileira. Conclui-se que, se nada for feito, a insolvência do sistema está à espera na esquina.
O futuro pode ser antevisto na previdência dos servidores do Estado do Rio de Janeiro, que já não recebem em dia, nem de forma integral os benefícios. O INSS não está assim porque a União ainda pode legalmente se endividar. Mas esta é a rota da tragédia. Em algum dia, o custo do endividamento inviabilizará essas operações.
Outros fatores se somaram à não adoção da idade mínima para a aposentadoria e forçaram o governo Temer a propor, enfim, uma reforma sensata. A política suicida de Dilma de radicalizar o aumento dos gastos, já iniciado no segundo governo Lula, desequilibrou de vez a situação fiscal e levou, enfim, a que o Planalto, com Temer, enviasse ao Congresso uma proposta correta de reforma da Previdência, com a fixação da idade mínima de 65 anos para o trabalhador se habilitar ao benefício da aposentadoria.
Comparados à maioria dos países, onde há a exigência da idade mínima, os 58 anos, em média, com que os brasileiros têm deixado de contribuir para o INSS, por se retirarem formalmente da força de trabalho ativa, chega a ser uma aberração aritmética. Não há economia que gere renda para sustentar aposentados por mais de duas décadas. Isto é provado na ponta do lápis.
OS PONTOS-CHAVE
1
Montado no sistema de repartição, em que os jovens pagam o benefício dos idosos, o INSS está insolvente
2
Isso acontece em todo o mundo: o envelhecimento crescente da população força reformas constantes
3
4
O ponto central da reforma, a idade mínima para pedido do benefício, é básico para conter os déficits
Fonte: Editorial - O Globo