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domingo, 29 de novembro de 2015

Cerveró estremece o poder - certamente a Polícia Federal saberá manter o homem vivo e falante

Por que o PT tem tanto medo de Cerveró

Além de colocar Dilma, Lula, Palocci e Gabrielli no Petrolão, ex-diretor Internacional da Petrobras pode levar a Lava Jato para dentro do BNDES [por estar preso o 'problema' Cerveró não pode ser resolvido com a técnica que resolveu o 'problema' ex-prefeito Celso Daniel.

Para facilitar a resolução do 'problema' Cerveró, Delcídio não resistiu a idéia de propor uma fuga.

O irônico é que agora Delcídio passou a ser mais um 'problema' falante.]

Desde 14 de janeiro, quando os agentes da Lava Jato levaram o ex-diretor de Assuntos Internacionais da Petrobras, Nestor Cerveró, para a carceragem de Polícia Federal em Curitiba (PR), petistas de alto escalão vinham demonstrando uma enorme preocupação com uma possível delação premiada. Ao longo dos últimos dois meses, em conversas reservadas, amigos de Lula que têm o hábito de frequentar o instituto que carrega o nome do ex-presidente, mais de uma vez disseram que uma delação de Cerveró teria maior teor explosivo do que as colaborações policiais que pudessem ser feitas por empresários e lideranças políticas. 

No Palácio do Planalto, entre os mais próximos da presidente Dilma, a conversa não era diferente. Na semana passada, quando ficou praticamente sacramentada a delação de Cerveró, o que era preocupação se transformou em medo explícito. Petistas e aliados têm a certeza de que as revelações do ex-diretor da Petrobras podem levar tanto Dilma como Lula para o olho do furacão, além de comprometer outros líderes ilustres como José Dirceu, Antônio Palocci, Graça Foster e José Sérgio Gabrieli

Na noite da quinta-feira 26, era voz corrente tanto no Planalto como no Instituto Lula que Cerveró detém informações que vão além das falcatruas perpetradas na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA – um negócio que trouxe à estatal um prejuízo avaliado em cerca de US$ 800 milhões – e que pode efetivamente vincular a presidente Dilma ao escândalo do Petrolão “Como conhece muito bem os negócios feitos pela Petrobras fora do País, o Cerveró poderá colocar a Lava Jato dentro do BNDES”, avalia um cacique petista que conversa frequentemente com o ex-presidente Lula.

ELE ESTREMECE O PODER
Delação de Nestor Cerveró transcenderá compra de PasadenaMais do que Pasadena, o que assusta os petistas é a possibilidade de Cerveró detalhar outras operações irregulares feitas pela Petrobras no exterior e que teriam servido para bancar o PT, os petistas e muitas de suas campanhas. Já sabem, por exemplo, que em depoimento prestado aos investigadores da Lava Jato, Cerveró revelou que a campanha de Lula em 2006 recebeu de forma irregular cerca de R$ 50 milhões que teriam sido desviados da Petrobras. A operação se deu a partir de um contrato de exploração de petróleo em águas profundas no litoral de Angola. Cerveró detalhou a operação e revelou que a estatal entrou no negócio com aproximadamente US$ 300 milhões sabendo que teria prejuízo e que estariam aportando recursos em áreas pouco viáveis. 


Procuradores que ouviram o depoimento, dizem que Cerveró afirmou ter ouvido de Manuel Domingos, ex-presidente da estatal angolana de petróleo, que entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões pagos pela Petrobras voltaram ao Brasil para abastecer a campanha do PT. No mesmo depoimento, Cerveró teria dito que toda a operação foi feita com o consentimento e orientação do ex-ministro Antônio Palocci, que na época era membro do Conselho de Administração da Petrobras. Há cerca de duas semanas, os procuradores e delegados da Lava Jato informaram ao ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal, que essas revelações de Cerveró acabaram confirmando o que já dissera em delação premiada um ex-funcionário da Petrobras cujo nome é mantido em sigilo. 

As declarações do ex-funcionário foram prestadas no primeiro trimestre do ano passado. “O caso de Pasadena pode ser apenas um capítulo de um roteiro bem mais amplo. E Cerveró poderá nos esclarecer muita coisa”, disse à ISTOÉ na quinta-feira 26 um dos procuradores da Lava Jato. Outro caso que os procuradores esperam contar com a colaboração de Cerveró para comprovar o pagamento de propinas diz respeito à venda da refinaria de San Lourenço, na Argentina, que envolve o ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli.  

Ao contrário do que ocorreu em Pasadena, quando a estatal brasileira fez uma compra superfaturada, na operação da refinaria de San Lourenço, a Petrobras fez uma venda subfaturada e arcou com um prejuízo de US$ 100 milhões. Já há na Polícia Federal um inquérito que investiga o pagamento de propinas com remessas de dinheiro feitas da Argentina para o Brasil. Cerveró disse aos procuradores que  Gabrieli autorizou a venda desprezando diversos relatórios e avaliações internacionais. Uma delas foi feita pela Petrobras Argentina e encaminhada à matriz, no Rio de Janeiro. Segundo esse estudo e relatórios de auditorias independentes também já em poder da PF, o valor da refinaria incluindo 360 postos de distribuição e estoques de combustível poderia chegar a US$ 351 milhões, mas a Petrobras concretizou a venda por US$ 102 milhões.
 
Funcionário da Petrobras desde 1975, Nestor Cerveró assumiu a diretoria Internacional da empresa em 2003. Inicialmente ocupou uma cota destinada ao PMDB, mas com o aval do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Com o passar dos anos, ganhou a confiança de Lula e do ex-presidente José Sérgio Gabrielli. Permaneceu na diretoria Internacional até 2008, quando foi transferido à BR Distribuidora, onde ficou até março de 2014. Condenado a mais de 17 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Cerveró é apontado pela Lava Jato como um operador que pode ter recebido propinas superiores a US$ 30 milhões. “Chegamos a Cerveró a partir das delações feitas pelo doleiro Alberto Youssef e por Paulo Roberto Costa, mas temos a certeza de que ele pode nos contar muito mais do que os dois disseram”, conclui um dos procuradores responsáveis por conduzir a delação premiada do homem que mais assusta o PT.

ISTOÉ - Independente - Mário Simas Filho