Não há na história republicana um governo com tantos ministros militares em pastas consideradas civis como o do presidente Jair Bolsonaro.
Em comparação com os cinco governos do regime militar (1964-1985), mesmo assim a presença militar nunca foi tão grande. Será um teste para os militares ter de conviver com críticas que são rotineiras em uma sociedade democrática. Afinal, são originários de um meio que prescinde da discussão igualitária para a solução de um problema, para agir. A hierarquia e a obediência são componentes essenciais e imprescindíveis da ordem militar. Contudo, o exercício de funções políticas exigirão um comportamento de tolerância e de aceitação de cobranças que não estão habituados. Deverão ser inevitáveis choques com a imprensa, especialmente nos momentos de tensão política. E mais ainda no início do governo, quando haverá um processo de adaptação ao novo momento pelo qual passa o País.
Será uma cena comum assistirmos ministros militares indo ao Congresso Nacional para justificar, explicar, debater medidas governamentais afeitas às suas pastas. Encontrarão em algumas comissões, com absoluta certeza (e sem fazer profecia de botequim), petistas (e seus aliados) que vão desqualificar a ação do ministro, vão acusá-lo de má gestão e até de supostos desvios de recursos. Como agirão? Como vão enfrentar o debate?
É inegável que nas Forças Armadas existem excelentes quadros que podem ser utilizados nas diversas esferas governamentais. Ninguém chega ao alto oficialato sem ter passado por escolas de alta especialização e por estágios e missões no exterior. Esse cotidiano de formação técnica é desconhecido do grande público. Ainda há a visão de que a profissão de militar não passa de uma carreira pública modorrenta, à espera de uma guerra que não vai ocorrer, onde a promoção é aguardada simplesmente pela antiguidade. São ignoradas as ações implementadas em diversas missões de paz em todo mundo. E no Brasil inúmeras atividades importantes são desenvolvidas principalmente nas áreas mais pobres e nas regiões fronteiriças.
O desafio para as Forças Armadas é evitar a politização dos seus quadros. Elas servem ao Brasil e não a um governo em particular: são instituições permanentes de Estado. Devem evitar a sedução do soldado-cidadão, tão presente no início da República. Irão desempenhar um novo papel, trinta anos depois. Quem diria…
Por: Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista