A penúltima fase do processo de Dilma ocorre em meio a um grande desgaste na relação dela com o PT e à constatação de que as teses da defesa não se sustentam
A penúltima etapa para o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff começa hoje no Senado num clima diferente daquele que cercou a aceitação do processo de impedimento pelo plenário da Câmara, em abril, e a confirmação da decisão pelos senadores, em maio, levando o vice Michel Temer a assumir como interino.À época do primeiro teste de plenário, Dilma e PT demonstravam convicção de que poderiam resistir. Foi criada a tese do “golpe”, a qual, mesmo inverossímil, teve alguma acolhida em grupos no exterior e serviu de munição para a militância, fiel e cega como torcida de futebol. A conhecida criatividade brasileira criara golpe com recursos à Justiça e votos no Congresso.
Votações acachapantes e fatos novos surgidos da Lava-Jato mostraram que o longo ciclo de 13 anos do PT no Planalto deveria mesmo se encerrar em breve. Dilma ainda tentou preservar Lula na tentativa frustrada de nomeá-lo ministro-chefe da Casa Civil, maneira de protegê-lo sob a prerrogativa de foro privilegiado. Os dois deverão responder por tentativa de obstrução da Justiça.
A sessão, prevista para começar hoje pela manhã, já sob o comando do presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, confirmará os resultados anteriores, pelos prognósticos. Enquete feita pelo GLOBO junto aos 81 senadores contabilizou 44 votos a favor do prosseguimento do processo até o julgamento final, a fase seguinte. Como, nesta etapa, necessita-se apenas de maioria simples, está garantida, segundo o levantamento, mais uma derrota da presidente. A penúltima.
Além do enorme desgaste político da presidente e do PT, os fatos alinhados contra ela pelo relator Antonio Anastasia (PSDB-MG) não foram até agora rebatidos de maneira convincente pelo ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma, e a tropa de choque dela, em que se destacam, pelos decibéis, os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), citado na Lava-Jato; Gleisi Hoffmann (PT-PR), mencionada na Operação Custo Brasil, pela qual chegou a ser preso seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo; e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
Bem como os decretos de abertura de crédito constituíram um atentado ao equilíbrio entre os poderes, porque, neste caso, o Planalto de Dilma usurpou prerrogativas do Legislativo. Crimes de responsabilidade estabelecidos em leis. A própria militância pró-Dilma não demonstra o velho fôlego. Há, não só, um cansaço nacional com uma peleja tudo indica já decidida, enquanto existem gigantescos problemas a serem equacionados no Congresso, com também uma relação já em farrapos da presidente afastada com o PT. O próprio presidente do partido, Rui Falcão, acaba de desconsiderar em público a proposta de um plebiscito, caso Dilma retorne. É mesmo inviável.
Pareceu um troco pelo fato de ela ter jogado sobre a legenda a responsabilidade pelo pagamento por caixa dois de despesas de campanha, feito ao casal João Santana e Mônica Moura. Há um clima de fim litigioso de casamento.
Fonte: Editorial - O Globo