O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, negou nesta quinta-feira ter feito uma ameaça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), condicionando a realização das eleições de 2022 à aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso. Essa informação consta de reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", segundo a qual Braga Netto teria feito chegar o recado a Lira "por meio de um importante interlocutor político". O ministro afirmou, por outro lado, que a discussão sobre o voto impresso "é legítima, defendida pelo governo federal e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema."
O ministro referiu-se ao tema durante uma cerimônia na sede da pasta, ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Ele leu uma nota que seria posteriormente publicada no site do Ministério e afirmou que não se comunica com chefes de outros Poderes por meio de interlocutores. Classificou ainda a notícia como uma "desinformação que gera instabilidade". "O ministro da Defesa não se comunica com os presidentes dos Poderes por meio de interlocutores. Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República em um momento que exige a união nacional. O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites da Constituição", disse Braga Netto.
A reportagem do "Estadão" ainda afirmava que, ao dar o aviso, o que teria ocorrido no último dia 8 de julho, Braga Netto estava acompanhado dos chefes das três Forças Militares.
"A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais regulares e permanentes comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do país e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro", disse o ministro.
Bolsonaro vinha repetindo em declarações públicas que não haverá eleição em 2022 caso o voto impresso não seja aprovado na Câmara.
No dia 9 de julho, um dia depois da suposta ameaça de Braga Netto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou em pronunciamento à imprensa que quem pretender um retrocesso democrático é "inimigo” da nação. Três dias depois, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, chamou Bolsonaro à sede da Corte para pedir respeito à Constituição.
Na cerimônia de hoje, Braga Netto defendeu como "legítima" a discussão. Mas ressaltou que a última palavra sobre o assunto cabe ao Congresso.
"Acredito que todo cidadão deseja maior transparência e legitimidade do processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo de todas as instâncias", disse. "A discussão sobre o voto eletrônico ou auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema."