Poderes da República colecionam erros, reativam privilégios, aprovam pautas-bombas e ameaçam as minorias
[defender ditadura comunista é um absurdo; defender ditadura das minorias substitui, em termos de absurdo a defesa do comunismo.
O essencial é que a Soberania Nacional seja preservada a qualquer custo.]
As instituições brasileiras têm escolhido errar sistematicamente, como
se quisessem testar os limites do país em diversas áreas. Depois de usar
o auxílio-moradia como moeda de troca para ter um aumento em época de
crise, o Judiciário aprovou ontem o novo auxílio-moradia. O governo
Bolsonaro nomeou um ruralista para cuidar de índios, quilombolas,
licenciamento ambiental e reforma agrária, para três horas depois
recuar, mas deixar ameaças no ar. O Congresso tem usado as últimas
sessões do ano para aprovar medidas que ampliam os gastos públicos e
limitam o espaço da administração que nem começou.
Um juiz enviado temporariamente para uma comarca na qual ele não mora,
pode ter auxílio-moradia, claro. Mas são casos específicos e poucos. A
ideia que vigorou nos últimos anos, de que todos os juízes tinham
direito a que o estado lhes pagasse a moradia, porque não receberam
reajustes, é espantosa. O Brasil está em crise, teve dois anos
consecutivos de queda do PIB. Está saindo dolorosamente da recessão que
encolheu a receita e devastou o mercado de trabalho. Há 12 milhões de
brasileiros neste momento procurando emprego e sem encontrar, e outros
cinco milhões desalentados.
Os que têm estabilidade, os servidores
públicos, pressionam o Congresso e conseguem reajustes. O Judiciário que
está na elite do funcionalismo aprovou para si mesmo o aumento de
16,38%, e não se deu por satisfeito.
[mais uma vez, ou outras vezes, lembramos:
- o reajuste de 16,38% foi exclusivo para os MEMBROS do Poder Judiciário e do Ministério Público - podendo, ser estendido - no Brasil o 'podendo' quase sempre é sinônimo de 'será estendido' aos membros do Poder Legislativo e ao presidente da República;
em razão do salário dos ministros do STF ser referência para o teto constitucional dos SERVIDORES públicos (fundamentação para o abate teto) alguns SERVIDORES que tem direito - por inúmeras razões - a um salário limitado pelo abate teto - receberão reajuste adaptando seus salários ao novo limite do abate teto.]
A cassação da liminar do ministro Luiz Fux, por ele mesmo, e o aumento
do Judiciário foram apresentados como se um anulasse o custo do outro. É
um engano. O aumento impacta a despesa de pessoal e foi concedido
também aos inativos. Um mês depois volta agora o auxílio-moradia. Eles
avisam que é com restrições. Mas é só uma questão de tempo para as
interpretações se alargarem. E já há outro movimento em marcha, o de
compensação pelo fato de que quando era auxílio não se pagava imposto de
renda sobre esse valor. Sendo salário, há incidência do IR.
A preparação do governo Bolsonaro não poderia ser mais tumultuada.
[o excesso de transparência é a única causa de todo esse tumulto.] Diariamente lança-se uma ideia, como se o Brasil fosse um campo de
teste. Foi isso que aconteceu com a defesa da pena de morte feita pelo
deputado Eduardo Bolsonaro, desmentida horas depois pelo pai. Tem sido
feito sistematicamente. O presidente eleito lança afirmações como fez
esta semana sobre a reserva Raposa Serra do Sol sem explicar como, de
que maneira e com que instrumentos legais pretende reverter uma decisão
tomada pelo Supremo Tribunal Federal. Só consegue criar intranquilidade.
Pior do que as afirmações sem substância têm sido as decisões sem
sentido. A escolha do ruralista Luiz Nabhan Garcia para cuidar da
identificação e demarcações de terras indígenas, do licenciamento
ambiental, das terras quilombolas e da reforma agrária foi uma ideia tão
ruim que bateu o recorde: sobreviveu a apenas três horas. Foi
desmentida pelo próprio Ministério da Agricultura que a havia divulgado.
Mas ficaram dúvidas no ar. Afinal, para onde vão as áreas responsáveis
pela política indigenista? Depois de vagar entre vários ministérios na
Esplanada, a Funai foi destinada ao Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos.
Mas ontem foi o Ministério da Agricultura que soltou nota anunciando e, depois, desanunciando o ruralista Nabhan Garcia como o responsável pelas questões indígenas e quilombolas e de licenciamento ambiental. Há um conflito de interesses insanável em nomear ruralistas para cuidar da questão fundiária brasileira. Há também um risco enorme de entregar o assunto indígena a uma pessoa, no caso a ministra Damares Alves, que tem a convicção de que a religião deve governar o país. [o que parece estar esquecido é que seja qual for o destino da Funai e do Incra, são órgãos que devem subordinação a ministérios - seja qual for o(s) penalizado(s), com o 'presente', são subordinados diretamente ao presidente da República.]
Mas ontem foi o Ministério da Agricultura que soltou nota anunciando e, depois, desanunciando o ruralista Nabhan Garcia como o responsável pelas questões indígenas e quilombolas e de licenciamento ambiental. Há um conflito de interesses insanável em nomear ruralistas para cuidar da questão fundiária brasileira. Há também um risco enorme de entregar o assunto indígena a uma pessoa, no caso a ministra Damares Alves, que tem a convicção de que a religião deve governar o país. [o que parece estar esquecido é que seja qual for o destino da Funai e do Incra, são órgãos que devem subordinação a ministérios - seja qual for o(s) penalizado(s), com o 'presente', são subordinados diretamente ao presidente da República.]
No Congresso em fim da legislatura, com tanta renovação, é um absurdo a
aprovação de pautas-bombas que vão recair sobre o próximo governo. E
foram muitos os projetos ruins que avançaram nos últimos dias. O
Congresso aprovou uma medida permitindo que municípios excedam o limite
de gastos com pessoal, renovou os incentivos fiscais do Norte e Nordeste
e incluiu o Centro-Oeste, fez novas concessões nas dívidas rurais. E há
outras bombas engatilhadas. O país está entrando no sexto ano de
déficit primário e com a dívida pública em nível alto.
Nos três poderes são tomadas decisões que desconhecem a crise econômica, os conflitos de interesse e os riscos que o país corre.