A senhora
foi voto vencido no aumento dos salários dos juízes. Por que foi contra se os
magistrados não recebem aumento desde 2015?
A demanda
é legitima pelos salários defasados. Porém, eu fui contra devido ao momento do
Brasil. Grave do ponto de vista econômico e fiscal, com uma sociedade que está
penando muito pelas condições que estamos vivendo, com mais de 13 milhões de
desempregados. Então eu acho que, se o sacrifício é de todo mundo, tem de ser
nosso também.
Como os
brasileiros desempregados se sentem diante dos 16,3% aprovados no Supremo?
Acho que
eles ficam todos muito indignados. Porque eles compreendem que, mesmo havendo a
defasagem dos juízes, eles não têm o mínimo, que é o emprego. Neste quadro
socioeconômico, a gente deveria dar nossa contribuição. Eu me preocupo muito
também com a situação dos estados, com o efeito cascata desse aumento. Há quase
dois anos atrasam salários, fecham hospitais, postos de saúde. Aposentados
recebendo em duas ou três parcelas. Se houver aumento de todos, juízes,
desembargadores, teremos também um ônus para os estados.
Como
justificar benefícios como auxílio-moradia para juízes que já têm até casa
própria?
Benefícios
são algo grave e sério, que precisa ser resolvido. Não pode continuar a haver
penduricalhos mesmo, é preciso restabelecer a verdade remuneratória. Por isso
mesmo, eu pautei para este mês agora, para a última semana, ou no máximo para a
primeira semana de setembro, o julgamento do auxílio-moradia. Ou é legal e nós
vamos julgar. Ou é ilegal e nós vamos julgar. Os juízes estão recebendo
auxílio-moradia com base numa decisão liminar de um ministro, Fux, na gestão
anterior à minha. São benefícios indevidos, do ponto de vista da igualdade com
outras categorias.
Temos
hoje eleições imprevisíveis. Tanto para presidente quanto para governadores. O
desalento se cristalizou e é péssimo conselheiro para o voto?
O cidadão
brasileiro vai definir seu futuro. Antes havia quase uma escolha de caminhos
pré-definidos. Agora o eleitor brasileiro vai fazer seu caminho. Em vez de ter
dois caminhos a seguir, ele fará sua trilha. Eu acho que isso é um processo de
amadurecimento. Hoje temos maioria de mulheres entre eleitores e há uma grande
indecisão. Por cautela e expectativa de se informar e se formar. Colocam essa
indecisão como ruim, mas pode ser positiva. As pessoas estão tentando saber que
Brasil elas querem daqui para a frente. Eu acredito muito no cidadão e na força
do povo. A crise coloca o povo numa posição de protagonismo e responsabilidade.