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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Hartung não cede

O Espírito Santo vai reestruturar a Polícia Militar. Essa é a resposta do governador Paulo Hartung à crise da segurança do estado. Hartung me recebeu ontem para uma entrevista, apesar de estar ainda em licença médica, e repetiu que não cederá aos militares grevistas. Ele criticou o governo do Rio, que concedeu antes mesmo de negociar. “O caminho do Rio não é bom para o Rio, não é bom para o Brasil.”

'Nós vamos superar essa crise, não temos dúvida, traçamos uma estratégia muito bem montada, sob a liderança do governador em exercício, com o auxílio federal, através de dois mil homens do Exército, Marinha e Aeronáutica e da Força Nacional, e vamos reestruturar a Polícia Militar’, disse Hartung.

Ele ainda está com ordens para ficar de repouso por 15 dias, a partir da cirurgia feita na última sexta-feira, mas reassumirá o governo na segunda. Mesmo de casa, acompanha as negociações para a volta dos militares ao trabalho. Contudo, é contra ceder aos PMs. Repete que qualquer aumento significaria ter que pedir mais dinheiro da sociedade, coisa que diz não ser justo neste momento de crise, e que a paralisação é ilegal: — Esse é um movimento inconstitucional. O legislador foi sábio quando estabeleceu que o funcionário público que porta armas não pode fazer greve. É óbvio. É ilegal. Tem que ser tratado com rigor da lei, e têm que ser responsabilizados os que estão cometendo crimes.

Hartung nega que seja o pior salário ou que a PM tenha ficado sete anos sem reajustes. Pela Pnad, é o décimo e, segundo o governador, nos últimos sete anos o aumento foi de 38%. Lembra que esses servidores têm estabilidade em um ambiente em que milhões estão desempregados e que no ES não está havendo parcelamento de salário como em outros estados.

Hartung soube o que estava acontecendo no estado após voltar da anestesia da cirurgia a que foi submetido em São Paulo para tratar um tumor. Diz ter informações de que o movimento estava sendo preparado para ser deflagrado no carnaval, e que foi precipitado porque os organizadores souberam que ele estava sendo operado.

O governador disse que os crimes, mais de 100 mortes, serão investigados por um grupo de trabalho: — Nós queremos saber os autores desses crimes. No que depender de mim, não ficará pedra sobre pedra. A própria sociedade capixaba está muito desconfiada com essa sequência de crimes. Criamos um grupo específico, mas naquilo que as forças federais puderem nos ajudar serão bem-vindas. A crise é dura, é difícil, mas é oportunidade. E podemos sair melhor dessa crise. Estou trabalhando, mesmo em recuperação de saúde, com a equipe, com o governador em exercício, para sair melhor disso tudo e com a PM reestruturada. [esse governador fala bobagem, ou mesmo calunia,  quando insinua que os crimes podem ter sido cometidos por PMs; o Espírito Santo é um estado violento e a ausência de policiamento nas ruas faz com que a criminalidade aumenta - aliás, esse aumento ocorre em qualquer estado, não só no Espírito Santo.
Outra bobagem é quando Hartung diz que que no Espírito Santo não está havendo parcelamento de salários. 
Seria ótimo se fossem salários dignos, reajustados com regularidade. Não parcelar salários defasados é idêntico ao desempregado que diz manter sua família alimentada, não mencionando ser apenas uma refeição por dia.]
 
Perguntei sobre o comportamento do comando da Polícia Militar e por que os coronéis não controlaram o movimento:  — Não vou falar por todos os coronéis, mas houve um grupo absolutamente conivente e que até estimulou esse ato contra a sociedade capixaba, contra o cidadão que paga os salários dos policiais.

Ele acha que o corporativismo, não apenas da PM, mas em geral, foi bem sucedido em convencer a população que mais concessões aos grupos é o mesmo que mais benefícios para a população. Hartung argumenta que essa é a hora de discutir de forma mais ampla questões como: faz sentido a estabilidade no emprego? Faz sentido aposentar uma pessoa com 48, 49 anos de idade? — Esse episódio no Espírito Santo pauta uma coisa para o Brasil, que nós precisamos discutir com profundidade e agir. [a estabilidade do servidor público, especialmente os da carreira de Estado, é necessária para o servidor cumpra seu dever sem medo de retaliações. Pergunta: existiria uma Lava-Jato se não houvesse a estabilidade?
Quanto a aposentar militares aos 48, 49 anos de idade - portanto, aos 30 anos de serviço ou até um pouco mais - é correto tanto pelo tempo de serviço do aposentado quanto pelas peculiaridades da carreira militar. 
Qual a eficiência de uma viatura cuja guarnição é formada por militares com 50 anos de idade? ou formar duplas de "Cosme e Damião' com militares com quase 50 anos de idade?

Hartung disse que Rio e Espírito Santo têm similaridades por serem produtores de óleo e gás. Mas disse que o ES enfrenta ainda outros problemas, como uma seca de dois anos, e o fechamento da Samarco, que respondia por 5% da receita do estado. Mesmo assim, o Rio está numa situação fiscal muito pior. — Desde o começo, tomamos a decisão de respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nós ajustamos na despesa e não aumentamos ICMS, não empurramos a conta para o governo federal. Esse é o caminho capixaba. Como dar aumento de salário a funcionário num estado (o Rio) que está parcelando salário? É surrealismo. O caminho do Rio não é bom para o Rio, não é bom para o Brasil.

Fonte: Blog da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel de São Paulo