O Espírito Santo vai reestruturar a Polícia Militar.
Essa é a resposta do governador Paulo Hartung à crise da segurança do
estado. Hartung me recebeu ontem para uma entrevista, apesar de estar
ainda em licença médica, e repetiu que não cederá aos militares
grevistas. Ele criticou o governo do Rio, que concedeu antes mesmo de
negociar. “O caminho do Rio não é bom para o Rio, não é bom para o
Brasil.”
'Nós vamos superar essa crise, não temos dúvida, traçamos uma
estratégia muito bem montada, sob a liderança do governador em
exercício, com o auxílio federal, através de dois mil homens do
Exército, Marinha e Aeronáutica e da Força Nacional, e vamos
reestruturar a Polícia Militar’, disse Hartung.
Ele ainda está com ordens para ficar de repouso por 15 dias, a partir
da cirurgia feita na última sexta-feira, mas reassumirá o governo na
segunda. Mesmo de casa, acompanha as negociações para a volta dos
militares ao trabalho. Contudo, é contra ceder aos PMs. Repete que
qualquer aumento significaria ter que pedir mais dinheiro da sociedade,
coisa que diz não ser justo neste momento de crise, e que a paralisação é
ilegal: — Esse é um movimento inconstitucional. O legislador foi sábio quando
estabeleceu que o funcionário público que porta armas não pode fazer
greve. É óbvio. É ilegal. Tem que ser tratado com rigor da lei, e têm
que ser responsabilizados os que estão cometendo crimes.
Hartung nega que seja o pior salário ou que a PM tenha ficado sete
anos sem reajustes. Pela Pnad, é o décimo e, segundo o governador, nos
últimos sete anos o aumento foi de 38%. Lembra que esses servidores têm
estabilidade em um ambiente em que milhões estão desempregados e que no
ES não está havendo parcelamento de salário como em outros estados.
Hartung soube o que estava acontecendo no estado após voltar da
anestesia da cirurgia a que foi submetido em São Paulo para tratar um
tumor. Diz ter informações de que o movimento estava sendo preparado
para ser deflagrado no carnaval, e que foi precipitado porque os
organizadores souberam que ele estava sendo operado.
O governador disse que os crimes, mais de 100 mortes, serão investigados por um grupo de trabalho: — Nós queremos saber os autores desses crimes. No que depender de
mim, não ficará pedra sobre pedra. A própria sociedade capixaba está
muito desconfiada com essa sequência de crimes. Criamos um grupo
específico, mas naquilo que as forças federais puderem nos ajudar serão
bem-vindas. A crise é dura, é difícil, mas é oportunidade. E podemos
sair melhor dessa crise. Estou trabalhando, mesmo em recuperação de
saúde, com a equipe, com o governador em exercício, para sair melhor
disso tudo e com a PM reestruturada. [esse governador fala bobagem, ou mesmo calunia, quando insinua que os crimes podem ter sido cometidos por PMs; o Espírito Santo é um estado violento e a ausência de policiamento nas ruas faz com que a criminalidade aumenta - aliás, esse aumento ocorre em qualquer estado, não só no Espírito Santo.
Outra bobagem é quando Hartung diz que que no Espírito Santo não está havendo parcelamento de salários.
Seria ótimo se fossem salários dignos, reajustados com regularidade. Não parcelar salários defasados é idêntico ao desempregado que diz manter sua família alimentada, não mencionando ser apenas uma refeição por dia.]
Perguntei sobre o comportamento do comando da Polícia Militar e por que os coronéis não controlaram o movimento: — Não vou falar por todos os coronéis, mas houve um grupo
absolutamente conivente e que até estimulou esse ato contra a sociedade
capixaba, contra o cidadão que paga os salários dos policiais.
Ele acha que o corporativismo, não apenas da PM, mas em geral, foi
bem sucedido em convencer a população que mais concessões aos grupos é o
mesmo que mais benefícios para a população. Hartung argumenta que essa é
a hora de discutir de forma mais ampla questões como: faz sentido a
estabilidade no emprego? Faz sentido aposentar uma pessoa com 48, 49
anos de idade? — Esse episódio no Espírito Santo pauta uma coisa para o Brasil, que nós precisamos discutir com profundidade e agir. [a estabilidade do servidor público, especialmente os da carreira de Estado, é necessária para o servidor cumpra seu dever sem medo de retaliações. Pergunta: existiria uma Lava-Jato se não houvesse a estabilidade?
Quanto a aposentar militares aos 48, 49 anos de idade - portanto, aos 30 anos de serviço ou até um pouco mais - é correto tanto pelo tempo de serviço do aposentado quanto pelas peculiaridades da carreira militar.
Qual a eficiência de uma viatura cuja guarnição é formada por militares com 50 anos de idade? ou formar duplas de "Cosme e Damião' com militares com quase 50 anos de idade?
Hartung disse que Rio e Espírito Santo têm similaridades por serem
produtores de óleo e gás. Mas disse que o ES enfrenta ainda outros
problemas, como uma seca de dois anos, e o fechamento da Samarco, que
respondia por 5% da receita do estado. Mesmo assim, o Rio está numa
situação fiscal muito pior. — Desde o começo, tomamos a decisão de respeitar a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Nós ajustamos na despesa e não aumentamos ICMS,
não empurramos a conta para o governo federal. Esse é o caminho
capixaba. Como dar aumento de salário a funcionário num estado (o Rio)
que está parcelando salário? É surrealismo. O caminho do Rio não é bom
para o Rio, não é bom para o Brasil.
Fonte: Blog da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel de São Paulo
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