Patrulha Identitária
Escola da Virginia, nos Estados Unidos, escondeu um caso de estupro e conseguiu a prisão do pai que denunciou. Um rapaz usando saia foi indiciado agora, ele é reincidente.
Dias atrás, um vídeo mostrou o desfecho mais grotesco de reunião de pais e mestres que já vi. E olhem que eu sou escolada, pouca coisa me surpreende nesses encontros. Na pacata Loudoun, no estado da Virgínia, um pai foi retirado da escola algemado pela polícia e o vídeo viralizou. O que um pai pode ter feito para sair desse jeito de lá? Era o debate sobre a política das escolas da região para transgêneros.
Obviamente todos sabem que a pena para transfobia imaginária, como reclamar que sua filha foi estuprada no banheiro da escola, é acabar com a vida da pessoa, mas fazendo pior que cadeira elétrica. Scott Smith foi difamado pela Associação Nacional de Conselhos escolares como "terrorista doméstico". O terrorismo que ele cometeu foi perder as estribeiras e começar a gritar com uma militante de esquerda usando uma camiseta de arco-íris de coração. Ela gritou primeiro, dizendo que a filha de 14 anos de Scott mentiu sobre o estupro.
Criar regras de uso de banheiros para pessoas trans é um desafio enorme porque abre brechas a serem usadas por criminosos, não pelas pessoas trans. Já houve um caso incendiário nos Estados Unidos em que um homem condenado por estuprar crianças em banheiros alegou ser trans depois de sair da cadeia e reincidiu. Por outro lado, pense se daria certo mandar a Roberta Close usar um banheiro masculino. Também correria riscos. Como fazer? Não sei, só sei que no grito não resolve.
Você já viu o novo especial de Dave Chapelle na Netflix? Até pensei em fazer um artigo ou um vídeo sobre ele. Mas seria completamente desonesto porque sou fã demais. Minto para os amigos e brigo dizendo que são bons até os esquetes mais sem noção do extinto programa de TV do Dave Chapelle. Trouxe um trecho de reflexão para a gente pensar.
Por que a reação a um assassinato é mais leve que a reação a uma declaração? O autor é a mesma pessoa. Matar pode, mas falar absurdo não, é isso? Não é tão simples. Há pessoas que hoje se recusam a viver no mundo real. Na realidade paralela, pouco importam consequências ou justiça, importa poder. Atacar os outros xingando de transfóbico, racista ou homofóbico dá poder dentro de grupos. Pode até inventar, dá poder e a imprensa geralmente embarca.
A política de permissão de uso de banheiros não é para pessoas trans, é para qualquer um que confirme verbalmente ser trans. Há inúmeros casos de estupradores, principalmente de crianças, que aproveitam essa brecha. A reunião do Conselho Escolar tentava dizer que a política é acertada porque não havia casos de estupro. Ocorre que havia e a escola omitiu.
A Stone Bridge High School optou por averiguar apenas internamente, sem interferência da polícia, o caso do rapaz vestindo uma saia que entrou no banheiro feminino dia 28 de maio. Ao Conselho Escolar da região nada foi informado. A reunião era para dizer que ataques do gênero são paranoia ou preconceito dos pais conservadores. Quando Scott Smith reclamou do silêncio e falta de providências sobre o estupro de sua filha, foi imediatamente silenciado.
Somente semana passada foi feito o registro policial do estupro da menina de 15 anos. No dia do incidente, a escola chamou o pai dizendo que a filha havia brigado com outra moça no banheiro. Ele é quem levou a filha ao hospital para atendimento e exames pós-estupro. O processo registra relação sexual forçada oral, vaginal e anal. Não é o único. As progressistas dizem que sempre se deve acreditar na mulher, mas não nesse caso. Por quê?
A pergunta sobre os grupos é uma só: respeitam a dignidade humana como inerente à condição humana ou ela é relativizada e atrelada às vontades do grupo? Neste caso, estamos claramente na segunda situação. Ah, mas era uma luta em defesa dos oprimidos. Tudo bem. O psicólogo Jonathan Heidt diz que o maior aprendizado da vida é saber que as personalidades sádicas, psicopatas, narcisistas e maquiavélicas sempre encontram uma justificativa moral para praticar perversidades. Sempre arrumarão seguidores.
Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES