Além disso, quando Putin viaja para fora da Rússia, a equipe do presidente cuida de tudo que ele consome. "Eles
pegam toda a comida e bebida que ele vai consumir. Então, por exemplo,
se tem um brinde oficial com champanhe, ele pega da garrafa que sua
equipe traz, não a que é servida no evento", explica Galeotti.
Stephen
Hall, por sua vez, diz que seus guarda-costas observam atentamente como
a comida é produzida para evitar qualquer risco.
O
próprio presidente confirmou que não usa esses dispositivos. Em 2020,
em entrevista à agência de notícias estatal TASS, ele admitiu isso,
também apontando que, se quisesse conversar com alguém, havia uma linha
oficial para fazê-lo.
Seus
conselheiros também admitiram essa estratégia. O porta-voz do Kremlin,
Dmitry Peskov, disse repetidamente que Putin não usa telefones celulares
porque "não tem muito tempo".
Entre as razões que explicam a relutância é uma profunda desconfiança da internet por parte de Putin.mNo
passado, aliás, ele afirmou que a internet é um "projeto da CIA" - a
agência de inteligência dos EUA -, e pediu aos russos que não façam
buscas no Google porque considera que os americanos estão monitorando
todas as informações. "Putin
quase não usa a internet, é sabido que ele não gosta de telefones. E
bem, sejamos honestos, do ponto de vista da segurança, Putin está
absolutamente certo. Smartphones não são muito seguros", diz Galeotti.
Diante disso, o acadêmico afirma que Putin recebe de seus assessores arquivos e relatórios em papel. "Ele
começa o dia com três relatórios de segurança. Um é o que está
acontecendo no mundo, um é o que está acontecendo na Rússia e o terceiro
é o que está acontecendo dentro da elite do país", diz ele. "Para ele, esta é a informação mais importante e que vai definir o seu dia."
"Lembro-me
de conversar com diplomatas e funcionários do Ministério das Relações
Exteriores que me disseram que estavam frustrados porque, se tiverem
informações que entrem em conflito com seus serviços de inteligência,
Putin tenderá a supor que seus espiões estão certos e os diplomatas
estão errados", acrescenta.
Isolamento e pandemiaAtualmente,
o acesso a Vladimir Putin é extremamente limitado. Os poucos líderes que se reúnem com ele, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, em fevereiro, devem permanecer a vários metros de distância. O encontro com o
presidente da França, Emmanuel Macron, chamou atenção por uma imagem que mostrava o francês sentado no lado oposto de uma longa mesa.
Parte dessas medidas são uma herança da pandemia de covid-19, que acabou isolando Putin ainda mais.
De
acordo com o serviço russo da BBC, entre as medidas que foram
implementadas nesse período estão: uma quarentena obrigatória de duas
semanas para quem quiser assistir a encontros com o presidente; rigoroso
regime de controle médico, que inclui testes periódicos de PCR, para
todos que cercam Putin; e a redução quase total da participação em
eventos públicos.
Em
15 de março, o secretário de imprensa do governo russo, Dmitry Peskov,
confirmou que todas as medidas anti-covid relacionadas à segurança de
Putin permanecem intactas até que "especialistas considerem apropriado".
Na Rússia, a saúde pessoal de Putin é vista como uma questão de segurança nacional. Em
entrevista ao programa Today, da BBC Rádio 4, o general americano James
Clapper - que supervisionou a CIA, FBI, NSA e serviu como um dos
principais conselheiros do ex-presidente Barack Obama - confirmou que
Putin está isolado fisicamente.
"Putin
esteve amplamente isolado, principalmente nos últimos dois anos com a
pandemia. Poucas pessoas realmente têm acesso a ele, o que dificulta
muito a coleta de informações a seu respeito", diz Clapper.
Galeotti concorda: "Putin vive muito isolado. O círculo de pessoas ao seu redor diminuiu drasticamente", diz.
"Ele
não viaja mais pelo país e sua aparição em eventos públicos é algo
bastante raro. Os seguranças estão entre as poucas pessoas com quem
Putin tem um relacionamento pessoal", diz ele.
Segundo
Galeotti, isso explica, em parte, por que muitos desses seguranças
pessoais foram posteriormente nomeados para altos cargos no governo,
como é o caso de Viktor Zolotov, da Guarda Nacional. Alguns
analistas de inteligência dizem que as medidas extremas de segurança em
torno de Putin são parcialmente explicadas por uma espécie de
"paranóia".
Já outros afirmam que o presidente, com sua experiência na KGB, sabe melhor do que ninguém como sua segurança é importante.Seja
como for, tudo indica que a proteção e isolamento de Putin só aumentam.
Como diz Galeotti, as coisas são feitas no Kremlin "como Putin quer que
sejam feitas".
BBC News - Brasil