Mesmo com a
Olimpíada, a semana política foi “dura” (como já antecipara um dos
investigadores da Lava Jato) e nem o Supremo Tribunal Federal passou
ileso. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu um puxão de
orelhas no ministro Dias Toffoli. E o ministro Luiz Edson Fachin reviu
uma decisão do presidente Ricardo Lewandowski. Tenso, não é?
Janot
– que deu uma perceptível guinada depois do vazamento da gravação de
Lula reclamando de “ingratidão” – apresentou um recurso crítico contra a
decisão de Toffoli de relaxar, rapidinho, a prisão de Paulo Bernardo,
ex-ministro de Lula e Dilma e envolvido na constrangedora Operação Custo
Brasil, sobre desvios no crédito consignado de funcionários públicos
endividados.
No recurso, o procurador diz que o relaxamento da
prisão de Bernardo foi indevido porque: 1) ele teve participação
“intensa e relevante” no esquema, tanto que continuou recebendo dinheiro
depois de sair do Planejamento; 2) pode prosseguir cometendo crimes,
pois há indícios de que ocultou patrimônio para driblar a Justiça; 3)
tecnicamente, Toffoli não deveria acatar habeas corpus antes do Tribunal
Regional Federal correspondente e do Superior Tribunal de Justiça
(STJ).
Ficou feio. Toffoli agora pode manter Bernardo preso,
rever sua decisão ou despachar o imbróglio para uma das turmas do
Supremo ainda na semana que vem, com um novo dado: o ex-ministro virou
réu ontem, dia seguinte ao recurso – ou puxão de orelhas – de Janot.
Como
pano de fundo, Toffoli foi advogado do PT e virou saco de pancadas nas
redes sociais por ter soltado em apenas seis dias o petista Bernardo,
que é casado com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), da tropa de choque
de Dilma Rousseff na comissão do impeachment no Senado.
De outro
lado, colegas ministros de Toffoli andam lembrando que Janot também
pisou na bola quando pediu a prisão dos peemedebistas José Sarney, Renan
Calheiros e Romero Jucá por gravações, consideradas vagas, obtidas pelo
delator Sérgio Machado. Ou seja: o procurador critica ministros do
Supremo, ministros do Supremo criticam o procurador e as redes sociais
fazem a festa.
Não bastasse, Fachin, ministro mais novo do
Supremo (entrou em 2015), reviu ontem uma decisão de Lewandowski, que é,
nada mais nada menos, presidente da Corte. O tribunal tinha decidido
por 7 a 4 que um réu condenado em segunda instância já poderia ser
preso, mas Lewandowski pegou carona numa decisão em contrário do decano
Celso de Mello, alegou que a decisão do plenário foi num habeas corpus –
logo, sem efeito vinculante – e mandou soltar um outro preso nessa
circunstância. Ontem, Fachin ratificou a decisão do pleno e
desconsiderou a do presidente. Mais uma saia-justa.
Para
completar, a semana da abertura da Olimpíada flagrou a Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado autorizando um aumento dos
salários dos ministros do Supremo, de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil.
Mas... já houve uma gritaria quando do aumento geral do Judiciário; o
momento é de cortes, não de gastos, muito menos de aumento da folha de
pagamento; e os salários dos ministros do STF servem de teto para todo o
funcionalismo (federal, estadual e municipal) nos três Poderes
(Judiciário, Executivo, Legislativo).
Quem paga o pato é o
governo interino de Michel Temer, pois os agentes econômicos começam a
desconfiar que o ministro Henrique Meirelles está sendo leniente com
gastos, aumentos de salários e benesses políticas, em detrimento do mais
importante: tapar o rombo fiscal. Por fim, como a presidência de
Lewandowski acaba em 10 de setembro, uma sexta-feira, a tradição é
antecipar a posse do substituto para a véspera, mas tudo indica que a
afirmativa, mas discreta, Cármen Lúcia só vai assumir a vaga na semana
seguinte. Até lá, como fica?
Fonte: O Estado de São Paulo - Eliane Cantanhêde
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sexta-feira, 5 de agosto de 2016
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