Da composição de 2009, permanecem dois ministros que votaram pela permanência de Battisti — Marco Aurélio e Carmen Lúcia — e dois que votaram contra: Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.
Naquele ano, os ainda ministros Celso de Mello e Dias Toffoli não votaram. E agora? Roberto Barroso não pode participar. E vão se posicionar pela primeira vez Rosa Weber, Luiz Fux, Edson Fachin, Alexandre de Moraes
Pois é, pois é… Escrevi ontem dois posts
apontando o risco que corre o Tribunal Superior Eleitoral a partir de
fevereiro do ano que vem, quando passa a ser presidido por Luiz Fux. Em
agosto, ele transfere o bastão para Rosa Weber, num tribunal que contará
com as presenças de Roberto Barroso e Edson Fachin. Risco por quê? Ora,
por óbvio, não me agradam a heterodoxias do trio — ou do quarteto.
Houve quem dissesse que estou pegando no pé dos doutores. Eu não.
Aprontam tais e tantas no STF que posso esperar o pior no TSE.
Nesta terça, Luiz Fux, ministro do
Supremo, quer dar um truque no Regimento Interno do Supremo e levar para
a Primeira Turma a decisão sobre o habeas corpus preventivo que ele
concedeu ao terrorista italiano Cesare Battisti, que o presidente Michel
Temer pretende extraditar. Segundo decisão tomada pelo STF em 2009, o
refúgio ao valente era, sim, ilegal, mas a extradição seria um ato
soberano do presidente. E Lula decidiu, rasgando o tratado firmado coma
Itália, que o homem deveria ficar no Brasil.
Barroso, membro da Primeira Turma, está
impedido de votar porque foi advogado de Battisti. Fux parece estar com a
posição definida, e não vejo Rosa a contrariar aquela que seria a
opinião de Barroso. Marco Aurélio votou contra a extradição há sete
anos. Assim, sobra Alexandre de Moraes como eventual voto contrário a
Battisti, mas ignoro o que fará o ministro. Apenas presumo. Tenho poucas
razões para duvidar de que, segundo a Primeira Turma, o italiano
permaneceria por aqui.
Ocorre que a decisão tem de ser do
pleno, segundo dispõe o Artigo 6º do Regimento Interno do Supremo, que
diz com todas as letras:
“Também compete ao Plenário:
I – processar e julgar originariamente:
a) o habeas corpus, quando for coator ou paciente o Presidente da República, a Câmara, o Senado, o próprio Tribunal ou qualquer de seus Ministros etc.”
I – processar e julgar originariamente:
a) o habeas corpus, quando for coator ou paciente o Presidente da República, a Câmara, o Senado, o próprio Tribunal ou qualquer de seus Ministros etc.”
Fux pretende que seja a Primeira Turma a
decidir se ela mesma dá a palavra final ou se remete o caso ao conjunto
dos ministros. Não existe tal dispositivo no Artigo 6º. Logo, o pleno
do tribunal tem de votar. Mas atenção! Mesmo assim, o cenário é
favorável a Battisti. Explico por quê.
Em novembro de 2009, o Supremo
tomou a decisão em duas etapas:
– a primeira: por cinco
a quatro, autorizou a extradição e pediu que se exercesse o Tratado
entre os dois países. Assim votaram os ministros Cezar Peluso (relator),
Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto e Ellen Gracie. Só
Mendes e Lewandowski seguem na Corte. Colocaram-se contra a extradição
Joaquim Barbosa, Eros Grau, Cármen Lúcia e Marco Aurélio. Os dois
últimos permanecem na Casa.
– a segunda etapa: mesmo com a extradição autorizada, a
quem caberia a decisão? Eis que Ayres Brito mudou de trincheira e
aderiu ao quarteto contrário a extradição. E Lula bateu o martelo no
último dia de seu mandato. Battisti ficou.
Quem vota desta feita? O único suspeito
óbvio é Barroso. Mas Toffoli e Celso de Mello podem achar que remanescem
as razões que os impediram de votar. Se acontecer, apenas oito
ministros participarão. E será grande a chance de um 5 a 3 em favor de
Battisti, a saber: Fux, Rosa Weber, Edson Fachin, Marco Aurélio e Carmen
Lúcia. No polo oposto, podem ficar Alexandre de Moraes, Ricardo
Lewandowski e Gilmar Mendes. Ainda que Celso e Toffoli votassem,
ter-se-ia a possibilidade de um cinco a cinco. E Battisti ficaria no
Brasil.
Parecer da AGU defende o óbvio: que a extradição é legal e que a decisão cabe ao pleno do Supremo.
Nota: não estou a fazer uma previsão,
mas apenas analisando tendência. Vai que baixe o bom senso em Fachin e
Rosa…[algo altamente improvável, quase impossível, de ocorrer.] Mas não tenho muitas razões para acreditar nisso, não é? Levam
aquele jeitão de que vão fechar com o valente Fux, aquele que queria
manter afastado e em prisão domiciliar um senador que nem ainda é réu,
mas que concede habeas corpus preventivo a um anjo dos direitos humanos
como Battisti.
Ah, sim: se o STF mantém a posição de
que extraditar é um ato soberano do presidente, e isso não está em
debate, Temer poderia, em tese, extraditar Battisti independentemente do
que dissesse o tribunal, mas é evidente que não o fará se a maioria dos
ministros votar em favor do terrorista.
PS: O ministro Marco Aurélio é
presidente da Primeira Turma. Deveria, de saída, tomar a decisão de
levar a questão para o pleno e ponto final. E a decisão seria tomada na
quarta. O ministro andou se insurgindo, corretamente, contra a
heterodoxias de alguns de seus pares. Que o faça de novo.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo