Agentes cubanos vigiam os militares, suas famílias, e ameaçam os dispostos a abandonar Maduro
O vice-presidente Hamilton Mourão atribui a resistência da cúpula das
Forças Armadas venezuelanas, entre outros motivos, a uma ação de agentes
cubanos que vigiam os militares, suas famílias, e ameaçam os que
pareçam dispostos a abandonar o ditador Nicolás Maduro para aderir ao
governo de transição de Guaidó. A revelação foi feita em entrevista para
a GloboNews na noite de quarta-feira, e dá uma nova dimensão ao apoio
que o governo Bolsonaro vem dando ao governo que se anuncia como o
substituto legal de Maduro.
Mourão foi o representante brasileiro na reunião do Grupo de Lima que
reiterou seu apoio ao governo de transição e rechaçou a possibilidade de
uma intervenção militar com o apoio dos Estados Unidos. Mas a negativa
de que o território nacional pudesse servir de ponte para uma invasão
militar não significa que os militares brasileiros se recusam a ser
parceiros dos americanos nessa luta política para derrubar Maduro. O vice-presidente reafirmou a parceria com os Estados Unidos na defesa
da democracia e descartou que o petróleo seja a razão por trás da ação
dos americanos na Venezuela. Ele chegou a avaliar que o petróleo já não
seja um ativo tão poderoso quanto já foi, estando com os dias contados
como principal força de energia do planeta. Mourão relacionou questões
ambientais e novas energias alternativas como indicadores de que o
petróleo já não vale uma guerra. Ainda mais o petróleo venezuelano, que é
muito pesado e necessita ser trabalhado por refinarias especiais.
O general Mourão conhece bem a região amazônica, pois, além de ser filho
de um natural da região —ele chega a se identificar como índio—,
comandou a região militar do Amazonas. Por isso, sua opinião sobre a
obra da linha de transmissão de energia de Tucuruí para Roraima teve
peso especial. Pela segunda vez em dois meses de governo, o presidente Bolsonaro
convocou o Conselho Nacional de Defesa, formado pelos presidentes dos
três Poderes e mais vários ministros, desta vez para conseguir a
autorização de construir o linhão que levará energia de Tucuruí para
Roraima sem que os índios waimiriatroari, que ocupam uma reserva no
traçado da linha, possam impedir a obra, como vem acontecendo desde
2011. A primeira vez foi para decidir a participação do Brasil na ajuda
humanitária aos venezuelanos. Os dois temas são conexos. [é presidente Bolsonaro, as coisas estão complicadas;
- a ajuda humanitária as Forças Armadas da Venezuela não aceitam, por determinações de Maduro;
- a construção do linhão - que livrará Roraima da dependência energética - os índios (os maiores latifundiários do Brasil) não permitem.
Faz falta o Conselho de Segurança Nacional, mais ágil e decidido que o atual Conselho de Defesa.
Para complicar até uma obra que significa a independência do Brasil em termos energéticos ainda é criticada quando decidem realizar - logo aparece os que acham que a liberação é para favorecer políticos.
No Brasil o interesse de menor importância é o do POVO. Por essas e outras é que os índios, que não são bobos, querem ser uma nação indígena dentro do Brasil e só receberem os bônus.]
A ligação entre Manaus e Boa Vista foi considerada como alternativa
energética estratégica. Com isso, o governo pode usar uma salvaguarda
decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que define que o usufruto
dos índios não se sobrepõe, entre outros casos, ao interesse da política
de defesa nacional e à exploração de alternativa energética de cunho
estratégico. Essa decisão foi tomada no julgamento da reserva indígena Raposa Serra
do Sol. O relator, ministro Ayres Brito, hoje aposentado do STF, definiu
condições para que a reserva fosse mantida. Mas, preocupado com os
interesses nacionais, deixou claro no acórdão que não existem povos
indígenas, e sim etnias. Também não existe “território indígena”, uma
definição política que não deve ser usada para o usufruto dos indígenas.
Ayres Brito insiste também em que não existe “nação indígena”. “Nação,
só a brasileira.”
Roraima depende da energia que vem da Venezuela para seu abastecimento, e
sofre constantemente de apagões. Quando acontecem, as termelétricas são
acionadas, o que transforma a energia de Roraima na mais cara para os
brasileiros. Só este ano está previsto um gasto de R$ 600 milhões, que é
repartido pelos consumidores de todo o país. Os índios que vivem
naquela região consideram que o território em que passará parte do
linhão é sagrado, e não se chega a um acordo sobre o tema há oito anos. Há ainda um componente político curioso nessa manobra que permite uma
obra importante que se arrasta há muito tempo: um dos maiores
interessados na manutenção da termelétrica que abastece Roraima em caso
de apagão é o ex-senador Romero Jucá, que teria o controle político e
econômico da empresa que ganhou a concessão. Jucá diz que são intrigas
regionais, mas o fato é que o assunto foi levantado na reunião do
Conselho de Defesa Nacional no Palácio do Planalto.
A coluna volta a ser publicada no dia 7. Bom carnaval a todos.
Merval Pereira - O Globo