Alexandre de Moraes deu entrevista ao GLOBO. Um ano do 8 de Janeiro.
Documento já histórico; em que justifica o afastamento de governador com
o argumento de “evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros
estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista”. Ibaneis Rocha, eleito, afastado para dar exemplo; para que, o Supremo
monocrata se antecipando a pretenso “efeito dominó”, nenhum outro
governante se animasse. E tudo bem.
Pela democracia, à margem do
Direito.
Não ornará, não em linguagem compatível com a República, um arranjo em
que, para desmontar o 7 de Setembro permanente de Bolsonaro, prospere
este estado de vigília; que, sob a inatacável defesa das instituições
democráticas, legitime medidas de exceção e interdite o debate público —
a ser fascista, trabalhando pela volta do capeta, aquele que criticar o
governo Lula e as extravagâncias xandônicas.
Este estado de vigília pela democracia — por meio do qual se fala em
volta à normalidade — é encarnado pelo inquérito das fake news, infinito
e onipresente, aquele que, de acordo com Moraes, “vai ser concluído
quando terminar”.
O gênio não voltará mais à lâmpada. Voltará a
normalidade? (Já há PGR.)
O omisso (na melhor hipótese para si) Ibaneis, investigado, ainda não
foi denunciado.
A ver se eventual denúncia virá em termos aceitáveis ao
Direito.
Aceitáveis ao Direito também deveriam ser as respostas do ministro às críticas de que há presos sofrendo abusos. — Nenhum desses golpistas defende que alguém que furtou um notebook não
possa ser preso.
E eles, que atentaram contra a democracia, não podem?
Os presos são de classe média, principalmente do interior, e acham que a
prisão é só para os pobres. A Justiça tem que ser igual para todos.
Em dezembro, à Folha, formulara na mesma linha: — Essas que hoje criticam o sistema penitenciário nunca se preocupam
com os 700 mil presos brasileiros. Enquanto não havia gente ligada a
essas pessoas, principalmente uma classe média do interior dos vários
estados, elas tinham bordões, eu diria, fascistas em relação àqueles que
cometiam crimes.
Um ministro do STF sabe — não poderia argumentar para outro norte — que
o Estado de Direito assegura garantias até a quem ignora ou ataca seus
princípios básicos.
E deveria responder com Direito — não com a
flexibilização do Estado de Direito para justiçar quem despreza o Estado
de Direito — aos que questionam sobre violação do juiz natural, prisões
preventivas alongadas e julgamentos à baciada, sem individualização de
condutas, uns poucos julgados em plenário, com debates e transmissão
pela TV, a grande maioria de maneira virtual.
É belicoso que reaja a discordâncias sobre o alcance universal de sua caneta na forma como fez à GloboNews: — Quem decide o foro? Quem decide se é competência ou não do STF? O STF.
Essa onipotência sobre os miúdos deveria aparecer no tratamento aos
golpistas graduados.
Onde estão os militares?
Os que ordenaram aquele
cordão de isolamento em proteção aos depredadores que fugiram para o
acampamento à porta do Q.G. do Exército?
Há análises segundo as quais a
reação judicial — pelas mãos de Moraes — consistiria no encontro tardio
do Brasil com o enfrentamento, sem anistias, de suas mazelas
autoritárias.
No mundo real: arma-se a tradicional acomodação com as
Forças Armadas.
A onipotência — “não há limite” sobre até onde a investigação chegará —
autoriza supor que o ministro seja também onisciente.
Se esteve à
vontade para informar sobre planos que objetivariam matá-lo, algo
gravíssimo, é certo que saiba quem os planejou — certo sendo, aí sim,
que estivessem presos.
Por muito menos, já impôs prisões preventivas.
Esse episódio mereceria esclarecimentos. Até porque, após discriminar
os três planos contra si, fala em “tentativa de planejamento”.
Plano ou
tentativa de planejamento, graus de gravidade à parte, uma certeza.
Um
ano depois, tendo o ministro falado abertamente a respeito, os
investigadores já deveriam ter — para além de troca de mensagens —
elementos suficientes para agir.
Não é o que parece. Ao menos com base no que o diretor-geral da PF declarou à GloboNews:— A partir dessas mensagens a gente tem a possibilidade de identificação dos responsáveis.
Ainda não foram identificados?
Será maledicente a impressão de que o delegado acabara de tomar conhecimento do assunto?
Ele diz que já sabia:— Isso são informações extraídas de troca de mensagens, das prisões, de todo o trabalho que está sendo feito.
Certo. Ninguém poderia acreditar que o ministro fosse falar sobre
planos — ou tentativas de planejamento — para matá-lo urdidos e
existentes apenas no zap-zap.