A mim não assustam as derrotas nem os vencedores, mas os desanimados.
Tenho
certeza de que Lula recebeu muitas sugestões no período anterior à
indicação de um nome ao Senado para preencher a vaga aberta com a
aposentadoria da “inesquecível” ministra Rosa Weber (aquela que pediu
aos presos de 8 de janeiro aplausos para o colega Alexandre de Moraes).
Tanto o
desejo de indicar alguém quanto o de ser indicado correspondem a
aspirações normais. O bolso do casaco de Lula deve ter recolhido muitos
cartões e, entre eles, é possível que existissem uma ou das boas
sugestões envolvendo indicados que, além de reputação ilibada e notável
conhecimento jurídico, acumulassem virtudes como prudência, sabedoria,
empatia, humildade (ou, no mínimo, ausência de soberba).
Lula, porém,
incidiu no seu erro padrão: ponderou todas as possibilidades e fez a
pior escolha possível. Não é por obra e força do acaso que essas coisas
lhe acontecem. Ninguém escolhe o pior quando tem diante de si
um discriminado e explicitado leque de alternativas. Sou obrigado a
admitir que a escolha do menos recomendável é produto do critério
adotado por Lula.
Ele sabe que
tem o Senado sob seus cordéis. Foi a mais proveitosa aquisição para seu
patrimônio político e ele nem pode dizer que não é dele, mas de um amigo
dele. Qualquer dia vai entrar no Senado de bermudas. Ele sabe, também,
que podia indicar o capeta, ou “capiroto” como o denominam no Norte do
país. A sabatina exalaria cheiro de enxofre e o indicado seria ministro
do Supremo.
Foi pensando
assim que optou pela indicação mais desagradável à oposição para
transformar sua aprovação numa provação, num castigo, a seus
adversários, especialmente àquela bagatela de 58 milhões de eleitores
que a mídia amestrada diz ser de extrema direita.
Todos sabem o
que aconteceu em 30 de outubro do ano passado. Foi a tal “vitória do
amor”, não foi? Os ativistas da esquerda proclamaram essa vitória como
resposta institucional ao desejo de pacificação do país, tão
repetidamente anunciado como objetivo pelos ministros do Supremo. Nada
melhor, então, do que colocar no STF alguém que, ao longo do ano em
curso, foi o chicote verbal do governo e se revelou uma crescente ameaça
à liberdade de expressão da oposição. Sua determinação em controlar a
liberdade de expressão levou-o a declarar, em audiência, falando aos
representantes das plataformas das redes sociais, que deviam adotar como
referência para sua conduta o que tinham vivido no ano eleitoral de
2022, ou seja: um regime que censura e multa.
Repito: a mim não assustam as derrotas nem os vencedores, mas os desanimados.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.