O Globo
O terceiro militar que está na mira do governo é o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, designado para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais. Cid foi escolhido para o posto em maio do ano passado, mas só assumiria a cadeira no mês que vem. A iminente ascensão dele contribuiu para a queda do ex-comandante do Exército Júlio Cesar de Arruda, demitido no sábado.
O Planalto já havia indicado esperar que a nomeação fosse anulada, uma vez que Cid é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Arruda, porém, não barrou a designação, o que foi encarado como mais um caso de quebra de confiança pelo presidente.
Além da imobilidade em relação ao futuro do ex-auxiliar de Bolsonaro, o general vinha demonstrando resistência em apurar a atuação de militares nos ataques às sedes dos três Poderes, na avaliação do Planalto. Noutro episódio que gerou fricção, Arruda preferiu não agir para desarmar o acampamento bolsonarista montado em frente ao Quartel- General da Força, na capital. Arruda foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, encarregado de botar de pé as investigações e aplicar eventuais punições a militares envolvidos nas investidas violentas contra as sedes de Congresso, STF e Presidência.
O general Ribeiro Paiva não deixou claro se pretende promover mudanças nos postos de comando da Força. Nesta segunda-feira, contudo, Múcio disse que o novo comandante do Exército ainda deverá fazer “algumas costuras internas”.— Ele (Tomás) prometeu servir ao país no comando do Exército. Evidentemente que existem algumas costuras internas para fazer. A coisa foi muito rápida, mas nós tínhamos que fazer o que foi feito — afirmou. — Fica muito difícil trabalhar quando as pessoas ficam sob suspeita se vão ou não tomar a providência.
Um evento previsto para o mês que vem pode abrir novas fissuras na relação entre governo e militares, como mostrou o colunista Lauro Jardim. Trata-se da escolha dos generais que serão alçados ao patamar de quatro estrelas. Em fevereiro, o Alto Comando do Exército define os coronéis que ascenderão a generais de brigada; os de brigada que passarão a generais de divisão; e estes que subirão ao posto máximo, de general quatro estrelas.
O calendário de possíveis constrangimentos vai até o mês seguinte. Durante o mandato de Bolsonaro, no dia 31 de março de cada ano, o ministro da Defesa expedia uma ordem do dia em louvor ao golpe militar, que era lida nos quartéis. Por ora, não se sabe como a data será lembrada na caserna no primeiro mandato de Lula. Eventuais manifestações favoráveis à ditadura não serão bem recebidas no Palácio do Planalto.
Em viagem à Argentina, Lula afirmou que o novo comandante demonstrou completo afinamento com o Planalto:— Escolhi um comandante do Exército, não foi possível dar certo. Escolhi outro, com quem tive boa conversa, e ele pensa exatamente como tudo que eu tenho falado sobre as Forças Armadas.
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O presidente reiterou o papel constitucional de Exército, Marinha e Aeronáutica, mas reconheceu que Bolsonaro angariou amplo apoio entre militares. Segundo o petista, o momento é de “voltar à normalidade”.— As Forças Armadas não servem a um político, não existem para atender a um político. Existem para garantir a soberania do nosso país e a segurança do povo brasileiro. Está claro na Constituição. Aconteceu um fenômeno no Brasil: o Bolsonaro conseguiu a maioria em todas as forças militares. Na polícia dos estados, a Polícia Rodoviária e uma parte das Forças Armadas.
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