O
século XX ia apagando as luzes e o Brasil era governado por FHC. O
petismo, crescendo em ferrenha oposição, mirava sua cadeira com olhos
cobiçosos.
No Congresso Nacional, o partido oposicionista produzia
denúncias, pedidos de CPI e de impeachment como padaria fazem pães.
Aos
cestos. Todas as gavetas do aparelho de estado eram suspeitas! Foram
oito anos disso e pouco importava se os impeachments eram recusados e as
denúncias arquivadas (o PGR, Geraldo Brindeiro, ganhou o apelido de
Arquivador Geral da República). O que contava era o barulho na mídia e a
consequente destruição da imagem do adversário.
Em
contraposição, o PT se apresentava como estuário da virtude nacional. No
leque ideológico, só havia pecado a leste do PT, que cumpria, com
furores de Torquemada, o papel de grande inquisidor, também, das
heresias políticas desalinhadas da beata esquerda tupiniquim. Do alto de
minhas surradas tamancas, eu ousava dizer que não era bem assim.
O petismo
anunciava que Lula levaria para o Palácio da Alvorada seus hábitos à
dura vida de sindicalista e aquela moderação de costumes que o santo de
Assis foi buscar entre os pássaros.
Ele teria aprendido na enciclopédia
das ruas o que Rui Barbosa escrutinou nos corredores das bibliotecas.
Para comandar, ele enrijecera o pulso nos tornos da Villares.
Infelizmente
não tenho a imagem, mas ela foi um símbolo da atividade oposicionista
durante a gestão do “príncipe dos sociólogos brasileiros” (os tucanos
também tinham seus delírios). Nos últimos dias antes da eleição de 2002,
o PT estendeu no plenário da Câmara dos Deputados um cordel que ia de
lado a lado, diante da mesa dos trabalhos. Nela, como bandeirolas de
cordel em festa do interior, cartazes mostravam os nomes de todas as
CPIs solicitadas em oito anos. Escândalos que ficaram sepultados. Os
meios de comunicação exibiram e Lula foi eleito.
Enfim, a moral seria restabelecida.
O PT tinha a chave de todas as gavetas, acesso a todos os dados, comandaria o aparelho de informação do Estado, nada restaria oculto.
Os pecados seriam proclamados desde as cumeeiras. Um mar de lama inundaria o Lago Paranoá.
Sentei e esperei. Passaram-se os dias, as semanas, os meses, os anos. E nada! Senhores, estou afirmando: nada! Coisa alguma. Lhufas!
O que relato aqui aos mais moços e aos mais esquecidos diz muito sobre a relação entre Lula e FHC, entre tucanos e petistas. Explica apoios e abraços.
Agora,
compare com a conduta do PT durante o governo de Bolsonaro.
O partido
que perdera a eleição de 2018 sob o peso das próprias culpas expostas
pela Lava Jato adotou uma conduta discreta se cotejada com suas
encenações contra FHC.
Exceção feita à CPI do Circo, a verdadeira
oposição a Bolsonaro, ferrenha, duríssima, ficou por conta da mídia e do
crescente ativismo judicial via STF/TSE.
Compare o que
escrevi acima quando FHC saiu e Lula entrou com o que está acontecendo
agora que Bolsonaro saiu para Lula entrar.
Foram quatro semanas em
guerra! O petismo só fala em cadeia, cerceamento de liberdades, combate
sem tréguas às demais posições ideológicas, expurgos e em tornar
inelegíveis seus adversários potenciais.
Passa pente fino em cartões de
crédito, telefones celulares, furunga gavetas, vasculha lixeiras.
A favor de
quem o PT governa sabemos todos. E contra quem o faz? Quem é realmente
adversário para o petismo raiz de volta ao poder? É você, meu caro
leitor. É você através dos que são censurados, multados, presos,
tornados sem voz por decisões judiciais que uma vez iniciadas não mais
irão cessar.
São aqueles de quem, por não subscreverem a cartilha, o
ministro Haddad diz que não compra coisa alguma.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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