Especialistas questionam fim do racionamento de água em junho
Para Marcelo Resende, membro do Conselho de Recursos Hídricos do DF, anúncio do fim do racionamento é precipitado e faz com que os brasilienses continuem dependendo das chuvas. GDF garante que decisão foi baseada em critérios técnicos. [só hoje tomamos conhecimento da existência do Conselho de Recursos Hídricos do DF; o que depõe contra especialistas e conselhos é que só agora que São Pedro resolveu o problema da crise hídrica é que eles aparecem para colocar defeitos.
É preciso ficar atento à promessa do Rollemberg da água do Corumbá IV chegar até inicio de outubro deste ano - temos que ter presente que ele está arrumando coragem para se candidatar a reeleição e vale tudo para ganhar votos.]
Após um ano e quatro meses, o racionamento de água no Distrito
Federal tem dia para acabar: 15 de junho. Com a suspensão dos cortes no
abastecimento nessa data, a segurança hídrica da população estará
assegurada, afirmou o governador Rodrigo Rollemberg, que anunciou a medida na manhã desta quinta-feira (3/5). Nem todos, porém, compartilham da certeza do governo. O
coordenador do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da
Universidade Católica de Brasília (UCB) e membro do Conselho de Recursos
Hídricos do DF, Marcelo Resende, acredita que é cedo para pôr fim ao
racionamento. Para ele, enquanto as obras de Corumbá IV (que deve
abastecer a parte sul do Distrito Federal) não estiverem prontas, o
Distrito Federal corre risco de ficar sem água.
"Tecnicamente, não é o momento para fazer esse tipo de anúncio. O
fim do racionamento deveria ter sido decretado só a partir do momento em
que todas as obras já estivessem prontas. O mais razoável seria
esperar, ao menos, até o fim do ano", comenta o especialista. Segundo
ele, agora o DF precisa contar com a sorte de ter uma boa estação
chuvosa a partir do fim do ano para que a população não volte a sofrer
com a crise hídrica.
População preocupada
Consumo de água no DF
Para Demétrios Christofidis, professor
de gestão de recursos hídricos no Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), a falta d’água não é uma
exclusividade do Distrito Federal, mas sim uma realidade preocupante na
maioria das grandes cidades brasileiras. [Demétrios = outro conselheiro Acácio.]
Menos
otimista que o governo, o professor também acredita que o GDF não
deveria se valer apenas na construção de Corumbá IV para garantir o
abastecimento da região. “Eu não recomendo que a crise do abastecimento
seja enfrentada como maior oferta, mas como menor consumo. Pode ser que
Corumbá IV só fique pronto depois do período da chuva, aí vamos correr,
possivelmente, um pequeno risco”, comenta. Segundo
ele, em Brasília, racionar a água foi importante para garantir que toda
população tivesse o recurso, mesmo com o corte de um dia. No entanto,
resolver essa questão passa, segundo ele, pelos cidadãos. É migrar do
racionamento imposto pelo governo ao “racionamento racional, onde cada
cidadão assume o compromisso de usar água com responsabilidade”,
acredita.
Desde que o
rodízio foi instituído, os cerca de 3 milhões de moradores do Distrito
Federal tiveram que mudar hábitos, reduzir o consumo e se acostumar com a
ameaça de não ter água em casa. Em 3 de maio do passado, o Descoberto
registrava volume de 56,3% de sua capacidade. Nesta quinta, a marca
estava em 91,1%. Em Santa Maria, o índice chegou a 56,5%, contra 53,8%,
em 2017. Mesmo com os altos índices, parte da
população teme que a suspensão seja precipitada. Em enquete promovida
pelo Correio na internet, por exemplo, 72% dos leitores disseram que não
concordavam com a medida.
Você é a favor do fim do racionamento de água?
Nesta
quinta-feira, mais leitores demonstraram preocupação quanto à segurança
de determinar o fim do racionamento. O GDF respondeu esses internautas
informando que a decisão foi tomada com base em critérios técnicos e
apoiado em estudos da Caesb e da Adasa, que garantem a segurança hídrica
no DF. "Na menos otimista das estimativas, o
reservatório do Descoberto, por exemplo, continuaria acima de 20% de sua
capacidade, o que garante o abastecimento com tranquilidade até o
próximo período de chuvas. Além disso, até lá, teremos Corumbá IV em
operação, com 2,8 mil litros por segundo a mais de água para o DF",
informa a nota.
Para o presidente do Instituto
Brasília Ambiental (Ibram), Aldo Fernandes, racionar a água é apenas
uma parte do trabalho de conscientizar a população sobre o uso
responsável do recurso. "Nós esperamos que o uso sustentável da água,
que foi intensificado em função da crise hídrica, ajude as pessoas a ter
consciência de que precisam continuar economizando", diz. Ele
comenta que o período de racionamento impulsionou os órgãos ambientais a
desenvolverem projetos de recuperação das bacias, como, por exemplo, o
programa Produtor de Água no Pipiripau, que recuperou parte do
manancial, considerado um dos mais importantes do DF. A bacia garante
abastecimento hídrico das populações de Planaltina e Sobradinho. Já
foram plantadas 350 mil mudas pelos 177 produtores contratados. “O
conjunto das ações dentro da bacia acaba aumentando a produção de água,
além de intensificar outros trabalhos, como, por exemplo, a fiscalização
do mau uso da água”, finaliza.
O
consumo doméstico de água no DF chega a 82,5% da produção de água
tratada, segundo a Caesb. Esse número, somado ao contexto de seca no
Planalto Central faz com que o sistema de abastecimento chegue ao limite
nos horários de pico. Para se ter ideia, a captação média mensal atual é
de 7.045 litros por segundo, por conta do racionamento. Oferta menor
que o consumo do ano passado, que teve média de 7.897 litros por
segundo. Um
avanço na economia de água. Em dois anos, a população do Distrito
Federal reduziu o consumo de água por pessoa de 184 litros diários – um
dos maiores do país – para 128 litros, segundo a Caesb.
Obras do Corumbá IV
Em
obras há 13 anos, o Corumbá IV já está com 73% de sua estrutura
concluída, segundo a Companhia de Saneamento do Distrito Federal
(Caesb). O Lago Corumbá, com 173 quilômetros quadrados, tem capacidade
para abastecer até 1,3 milhões de pessoas. O valor para a realização da
obra é de R$ 550 milhões. Com a execução de Corumbá IV, o governador do
DF afirmou que serão resolvidos os problemas de crise hídrica em
Brasília pelos próximos 30 anos. A previsão do GDF é que as obras
estejam concluídas até dezembro deste ano.
Captação de água do Lago Paranoá
Em
janeiro deste ano, a Caesb inaugurou um sistema de bombeamento de água
da estação emergencial do Lago Paranoá até a estação de tratamento do
Plano Piloto. O “booster” custou R$ 1,4 milhão, e a verba veio da tarifa
de contingência. Na prática, isso faz com que a água do lago – que era
distribuída apenas para Lago Norte, Varjão, Paranoá e parte de
Sobradinho – também chegue nas Asas Sul e Norte, Noroeste e Sudoeste. De
acordo com a Caesb, com isso, a intenção é poupar ainda mais o
reservatório do Descoberto.