Sinais de que a democracia pode ser minada
O esforço bem intencionado de muitos em tentar normalizar o presidente
Jair Bolsonaro e seu governo de extrema direita sofreu um duro golpe com
a revelação de que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), sob o
controle do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, está de olho nas atividades do que chama de clero de
esquerda da Igreja Católica. E não só a ABIN, com escritórios em Manaus, Belém, Marabá e Boa Vista,
já acionados. Relatórios a respeito também foram produzidos pelo Comando
Militar da Amazônia, com sede em Manaus, e o Comando Militar do Norte,
sediado em Belém. Trata-se, pois, de uma operação abrangente de
inteligência que permite ao governo monitorar os passos de autoridades
religiosas e de ONGs. [autoridades religiosas devem cuidar de assuntos religiosos e as ONGs intrometidas - na maior parte a serviço de governos estrangeiros - precisam ser neutralizadas.]
Em outubro próximo, sob a presidência do Papa Francisco, cerca de 250
bispos do Brasil, Peru, Venezuela e de outros países do continente se
reunirão em Roma para discutir os principais problemas da Amazônia e dos
povos que a habitam. O governo acha que isso representará encrenca
certa para sua imagem lá fora e para a política ambiental que defende.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, no entendimento de generais que
cercam Bolsonaro, a Igreja Católica por aqui sempre foi “um braço do PT”
e, agora, com a derrota eleitoral colhida pelo partido no ano passado,
ela imagina assumir de vez a liderança da oposição ao governo. O
encontro em Roma é visto pelo general Heleno como uma clara
“interferência em assunto interno do Brasil”. [saiba mais sobre as intenções não muito católicas da Igreja Católica no Sínodo dos bispos, clicando aqui.]
O Ministério das Relações Exteriores pressionará o governo italiano para
que interfira junto ao Papa em favor dos interesses do governo
brasileiro. A embaixada do Brasil no Vaticano foi avisada de que deverá
fazer o mesmo. Planeja-se a realização em Roma de um simpósio para
divulgar as ideias ambientais de Bolsonaro na mesma data da reunião dos
bispos com o Papa Francisco. Onde no mundo das redes sociais, da economia globalizada, pode-se ainda
falar em “assunto interno” ou exclusivo de um país? Nos Estados Unidos
de Donald Trump, sob a suspeita de ter sido eleito com a colaboração do
governo russo? Na Venezuela do ditador Nicolás Maduro, ameaçado de ser
deposto por um movimento também apoiado pelo governo de Bolsonaro?
O mais ridículo da ofensiva contra a Igreja é que os generais de
Bolsonaro parecem nada ter aprendido com seus colegas da ditadura de 64
que perseguiram o que chamavam de “ala progressista” do clero e se deram
mal. A expressão “ala progressista”, tão comum naquela época, por sinal foi ressuscitada pelo general Heleno. Ele parece ignorar que a Igreja
Católica mudou desde então. João Paulo II, o terceiro Papa mais longevo da história da Igreja,
aproveitou seu reinado de quase 26 anos e meio para liquidar com a “ala
progressista” em toda parte onde ela existia. Seu sucessor, Bento XVI,
foi um implacável adversário da Teologia da Libertação que tantas dores
de cabeça deu a governos conservadores ou simplesmente de direita mundo a
fora.
Se comparado com seus antecessores, o Papa Francisco estaria à esquerda
deles no enfrentamento dos problemas sociais e de outros temas
contemporâneos como a globalização, por exemplo, e a questão ambiental. O
governo Bolsonaro conceber que Francisco será sensível aos seus apelos e
pressões é não conhecê-lo nem um pouco. É também dar-se uma importância
que não tem. É no laboratório do general Heleno que estão sendo manipuladas as
primeiras e mais escandalosas restrições ao pleno Estado de Direito.
Envolver comandos militares na espionagem à Igreja e a movimentos
sociais a ela ligados pode ser a mais explosiva, mas a única não é. Foi
do laboratório de Heleno que saiu o Decreto 9.690 que desfigurou a Lei
da Transparência.
[a norma deve ser:
“ninguém que não tenha necessidade de ser informado deve receber informação, ninguém deve saber mais do que o necessário, ninguém deve saber algo antes do necessário”.]
Há poucos dias, Heleno disse que mandou investigar como vazou para a
imprensa a minuta do projeto de reforma da Previdência. Com isso o que
ele quer não é necessariamente descobrir o responsável pelo vazamento,
mas sim intimidar funcionários que possam colaborar com os jornalistas
para tornar públicas informações que o governo prefere manter
escondidas. [falta investigar os vazamentos de algumas investigações do Coaf.]
Tudo que atente contra a liberdade e os direitos dos cidadãos serve para
minar a democracia. Bolsonaro e seus devotos, fardados ou não, sempre
foram partidários de um Estado autoritário. Uma vez no poder,
convenhamos, estão sendo apenas coerentes com o que pensam e pregaram
durante a campanha. [e que quase 60.000.000 de eleitores brasileiros endossaram, ao eleger Bolsonaro.] De estelionato eleitoral, não serão jamais acusados.
À queima roupa (3)
...
+ Não sei onde está escrito que ministro do Supremo Tribunal Federal
pode virar consultor do governo para projetos a serem submetidos ao
Congresso. Mas de uns tempos para cá eles podem tudo, desde que não
sejam investigados.
+ “Quem foram os responsáveis por determinar que o Adélio praticasse
aquele crime em Juiz de Fora?” – pergunta com razão o presidente Jair
Bolsonaro em sua página no Twitter. Quem sabe não foram os mesmos que
mandaram matar Marielle Franco? Por que ele não manda investigar os dois
casos com o mesmo rigor? [não se pode comparar os dois casos; um atentado contra um candidato a presidente da República, hoje eleito e em pleno exercício do cargo, é um crime que tem ser investigado e os mandantes severamente punidos - não basta apenas prender o ex-psolista que cumpriu ordens de pessoas interessadas na morte do presidente JAIR BOLSONARO.
Todos sabem que razões muito especiais motivaram j w a fugir do Brasil.]
Blog do Noblat - Revista Veja