Análise Política
Desde a redemocratização, é rotina nas nossas eleições presidenciais os
contendores apresentarem-se como a essência do altruísmo. Nunca se trata
de entronizar certo grupo para aplicar certo programa, mas de fazer a
eterna escolha decisiva para a salvação nacional. A circunstância de
isso coincidir com a ocupação do Estado por certa corrente ou
conglomerado seria apenas isso, uma circunstância.
Tal narrativa, além de capturar votos, leva a vantagem de oferecer uma
razão heróica para aderir ao poder, ou à expectativa dele. A arte da
política reside também em defender o próprio interesse, e o do grupo,
mas em dar a impressão de estar defendendo, antes de tudo, o interesse
geral. O príncipe precisa cultivar duas lealdades fundamentais para
preservar o pescoço: a lealdade da corte e a da massa.
Na utopia, poderíamos estar às vésperas de uma campanha em que
sobressaíssem os caminhos para reindustrializar o Brasil, retomar o
desenvolvimento acelerado, atrair capital para o necessário salto na
infraestrutura, melhorar radicalmente a educação básica, acabar com o
subfinanciamento da Saúde, atacar a criminalidade e construir um sistema
político capaz de produzir estabilidade e progresso social.
Mas há a possibilidade, e isso não é um lamento, é constatação, de essa
pauta vital ser interditada nos próximos dois ou três meses, com o
Brasil ocupado discutindo se é mais importante salvar o país do
bolsonarismo ou do petismo. Na cúpula intelectual, o antibolsonarismo
ganha de goleada. No povo, está bem mais apertado. [COMENTANDO: os intelectuais não contam, são uma minoria insignificante; já o povo garante mais quatro anos de governo do 'capitão do povo'.]
Apontar o dedo contra o petismo pela proximidade com governos de
esquerda mal vistos no Ocidente não parece, até o momento, fazer efeito.
Pois o PT não carrega no currículo o apoio ou o elogio ao golpe de 1964
[COMENTANDO: - entre os notoriamente contra o Governo Militar instalado em 1964, encontramos grande parte dos tais intelectuais, a maioria do pessoal da cultura - alguns manifestam a contrariedade pisoteando a nossa Bandeira = a Bandeira Nacional = e outros expoentes do mal.] e, regra geral, respeitou, ou foi forçado a respeitar, o resultado das
eleições presidenciais que perdeu. Nem no impeachment de Fernando Collor
o petismo foi protagonista.
Deixou isso para o então PMDB e o PSDB.
Aqui, a inércia do debate joga ao lado de Lula. Quem precisa criar o fato novo, voltar a pauta para os assuntos econômicos, é o presidente. [COMENTANDO: as melhoras na economia, em pleno andamento = destacando redução do desemprego, revisão para cima do PIB, inflação em queda (em processo de elevação em todas as economias do mundo, o que inclui grandes potências econômicas, tais como Estados Unidos, União Europeia e outros países.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político