O balanço divulgado
pela Petrobras não tem valor legal, mas é revelador. Foi colocado lá um número enorme
de R$ 88,6 bilhões, resultado de
muita briga no conselho entre os que querem profissionalizar a empresa e os que
a politizaram. Mostra
o preço da interferência dos governos do PT na companhia. Além disso, enterra
duas refinarias cuja decisão de fazer foi tomada no Planalto. A empresa de auditoria tem participado
ativamente de todo esse trabalho de levantamento dos valores que devem ser
abatidos dos ativos da empresa e esteve durante a reunião de terça-feira. Não
foi registrado o valor real a ser reduzido do ativo da companhia porque “esse número tem que ser lapidado”,
como me disse uma das fontes com quem conversei e que estiveram na reunião. Por
lapidado, entenda-se encontrar o número mais exato dentro das regras dos
reguladores. E por isso serão
consultadas agora a CVM e a SEC.
O mercado, no entanto, teve uma reação ruim porque esperava ter um número exato de abatimento do valor contábil dos ativos sobre os quais há claros indícios de superfaturamento. Como resumiu o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo David Zylbersztajn, o mercado está confuso por um bom motivo: — Não adianta saber do lucro se não se sabe afinal qual é o patrimônio da empresa. Hoje ninguém sabe o P/L (relação patrimônio e lucro da empresa) porque não se sabe o valor do P.
Um conselheiro, no entanto, disse o seguinte, para provar que houve avanço com o balanço divulgado, mesmo com todas estas dúvidas: — Colocamos o guizo no gato. Mostramos que o ajuste que terá que ser feito é grande. Ainda que esse valor tenha que ser lapidado tecnicamente. E isso é uma mudança de rumo.
Antes, o conselho de administração se reunia uma vez por mês. Desde dezembro foram várias reuniões. “Vivemos o clima de emergência”, disse um participante da reunião. As fontes da empresa que ouvi acham que esse demonstrativo, mesmo sem a chancela da PWC, a empresa de auditoria, é suficiente para cumprir as obrigações com os credores dos bônus que vencem agora no dia 30.
Muita gente no mercado duvida. Acha que o que o contrato estabelece é ter um balanço auditado por uma das grandes empresas internacionais do setor. Em tese, a empresa estaria inadimplente com os compradores dos seus bônus e, teoricamente, eles poderiam pedir o pagamento imediato da dívida. David Zylbersztajn acha que isso não vai acontecer: — Na prática, eles podem, mas ninguém quer matar seu devedor. Os credores sabem que os fundamentos da empresa são excelentes. A Petrobras tem dois ativos valiosos: reservas e gente qualificada.
A situação é delicada porque há muitos desdobramentos a se temer. Um deles é a multa da SEC por más práticas. Outro é o processo de credores e acionistas. Na madrugada de ontem a empresa admitiu, nessa demonstração contábil, que ainda não conseguiu ter o mais elementar em qualquer empresa de capital aberto desse porte: um balanço auditado. O que se ouve é que esse demonstrativo é o primeiro passo para ter em abril um balanço do ano auditado. Por enquanto, o que fica claro é que o saque à Petrobras é a mais nociva herança dos governos do PT.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão – O Globo