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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Celeiro de CFOs, PwC quer acelerar carreira de profissionais negros - O Globo

Mariana Barbosa

Eduardo Alves está acostumado a ser o único da turma. Sócio da empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil na área de consultoria tributária e serviços financeiros, ele foi o único negro da turma quando ingressou como estagiário há 18 anos. E também era o único negro em um curso de contabilidade na FEA/USP. Hoje na liderança do programa de diversidade racial dentro da PwC, ele está lançando um programa para que os profissionais negros em postos de liderança deixem de ser exceção: o Black as Manager.

[sem uma mudança na legislação - que implica em modificar Cláusula Pétrea da Constituição, modificação que só pode ser efetuada   via  'poder constituinte originário'.

Sem esta modificação é racismo ao contrário, racismo reverso, especialmente com a agravante de além de priorizar contratação de estagiários negros, obriga os recrutadores ao eliminar profissionais ao longo do processo,apresentar justificativa.

Saber mais, leia POST ACIMA. ]

Trata-se de um programa de aceleração de carreira que vai proporcionar formação de inglês, treinamento de habilidades sócio emocionais e técnicas, e mentoria com profissionais da alta liderança. O programa é ainda uma forma de reter esses profissionais em um momento da carreira em que eles costumam ser bastante assediados com propostas externas.

Mas o programa tem um alcance que vai muito além da própria PwC, com potencial para mudar a cor dos departamentos financeiros das grandes companhias do país. A PwC, e as demais auditorias globais que formam o Big Four (KPMG, Deloitte e E&Y), funcionam como um celeiro de formação de diretores financeiros e controllers para o mercado. Muitos dos executivos que hoje ocupam cargos de CFO nas grandes empresas iniciaram a carreira em uma das Big Four.

O Black as Manager está sendo lançado dois anos depois de a PwC implementar mudanças na dinâmica do processo de seleção de estagiários visando a eliminação de vieses racistas. Até 2016, 8% dos estagiários eram negros. Na nova dinâmica de seleção, além de um esforço proativo para atrair um pool maior de estudantes negros, os recrutadores passaram a ter que justificar seus motivos ao eliminar profissionais ao longo do processo. O resultado dessa espécie de auditoria foi um aumento da participação de negros selecionados, para 35%.

A lógica é a mesma com a qual a PwC trabalha. — Empresas auditadas costumam apresentar números melhores — diz Eduardo. Não há uma meta escrita, mas a intenção é que 50% dos estagiários sejam negros. O programa da PwC tem um alcance diferente dos programas de trainee de Unilever, Ambev e outros, que selecionam duas ou três dezenas de jovens recém formados que logo são promovidos a gerente. Na PwC, a cada ano são formadas três turmas de estagiários, com mais de 300 jovens cursando o segundo ou terceiro ano da faculdade. Eles entram como associate e levam em média 6 anos até alcançar o cargo de gerente.

O Globo - Capital

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Você perderá seu emprego para a automação? - O Estado de S.Paulo

José Pastore

Entre 2020 e 2022, estima-se que 42% dos conhecimentos requeridos pelas profissões atuais serão modificados

Os estudos sobre os impactos das tecnologias sobre o trabalho são contraditórios. Ao lado dos catastrofistas que preveem uma grande destruição de empregos nos próximos dez anos (Carl B. Frey e Michael A. Osborne, The future of employment, 2013), há os otimistas que enxergam mais empregos gerados do que eliminados (Philippe Aghion e colaboradores, What are the labor and product market effects of automation?, 2020).

Na semana passada, os especialistas reunidos no Fórum Econômico Mundial assumiram duas posições realistas. Na primeira, reconheceram haver um consenso sobre a necessidade de requalificar os trabalhadores para o mundo do futuro. Na segunda, apontaram a importância da participação das empresas nesse processo. E, de modo ousado, lançaram a meta de requalificar 1 bilhão de trabalhadores entre 2020 e 2030!

Durante o encontro foram citados vários exemplos de participação das empresas, tais como o movimento Pledge to America’s Workers, nos Estados Unidos, no qual 400 firmas estão requalificando 15 milhões de trabalhadores; o programa de requalificação da British Telecom (BT), que faz o mesmo com 10 milhões de profissionais; e a empresa PwC, que está investindo US$ 3 bilhões em requalificação de funcionários e usuários de seus serviços.

No processo de requalificação há um componente de urgência, porque as mudanças são meteóricas. Entre 2020 e 2022, estima-se que 42% dos conhecimentos requeridos pelas profissões atuais serão modificados. As exigências aumentarão nos campos do raciocínio, da tomada de decisões, da capacidade para trabalhar em grupo e habilidade para transferir conhecimentos de uma área para outra. Será crucial saber pensar, e pensar bem. Neste novo mundo o conhecimento tomará lugar do diploma. E a aquisição do conhecimento virá de um processo contínuo no qual os trabalhadores ficarão em treinamento a vida toda. Para tanto, será indispensável uma boa articulação das empresas com as escolas e as ações dos governos. É um processo caro, que exigirá muitos bilhões de dólares. Mas, adverte-se, a inação custará mais caro: a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que, se a requalificação não for feita, os países do G-20 perderão US$ 11 trilhões na próxima década.

Ao lado dessa gigantesca perda econômica, há outra, ainda maior e de natureza política. Na ausência da referida requalificação, os trabalhadores ficarão sujeitos ao desemprego ou ao trabalho precário, com renda baixa e sem perspectiva de melhoria. Isso gera um descontentamento generalizado que deságua frequentemente no questionamento do sistema capitalista e no surgimento de líderes populistas que põem em risco a própria democracia. Não faltam exemplos na atualidade. Convenhamos, se deixarmos para as próprias pessoas resolverem esses problemas dizendo que elas têm de se ajustar por si mesmas, abriremos a porta para as demagogias e a insegurança. Daí a necessidade inarredável da requalificação como processo contínuo. É um desafio gigantesco.

No Brasil temos, ainda, a missão de melhorar a qualidade do ensino convencional em vários níveis. Entretanto, não podemos parar nisso. Felizmente, já há algumas empresas bem atentas e que vêm implementando programas de requalificação profissional como rotina. Cito como exemplos a Embraer, a IBM e vários bancos. Em Santa Catarina, 260 empresas trabalham em parceria com Sesi, Sesc, Senai e Senac na qualificação e requalificação dos seus empregados (www.santacatarinapelaeducacao.com.br). Esses exemplos precisam se multiplicar. Afinal, a Revolução 5.0 está na esquina.
 

José Pastore - Professor da Fea-Usp - O Estado de São Paulo

 


 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Balanço revelador



O balanço divulgado pela Petrobras não tem valor legal, mas é revelador. Foi colocado lá um número enorme de R$ 88,6 bilhões, resultado de muita briga no conselho entre os que querem profissionalizar a empresa e os que a politizaram. Mostra o preço da interferência dos governos do PT na companhia. Além disso, enterra duas refinarias cuja decisão de fazer foi tomada no Planalto.  A empresa de auditoria tem participado ativamente de todo esse trabalho de levantamento dos valores que devem ser abatidos dos ativos da empresa e esteve durante a reunião de terça-feira. Não foi registrado o valor real a ser reduzido do ativo da companhia porque “esse número tem que ser lapidado”, como me disse uma das fontes com quem conversei e que estiveram na reunião. Por lapidado, entenda-se encontrar o número mais exato dentro das regras dos reguladores. E por isso serão consultadas agora a CVM e a SEC.

Vários precedentes foram quebrados nesse demonstrativo divulgado no meio da madrugada, segundo as fontes que ouvi. “Investimentos que estavam previstos no PACo foram cortados em 30%. Obras que eram consideradas vacas sagradas simplesmente foram interrompidas. Um empreendimento em Uberaba que estourou o orçamento foi encerrado, e isso que é normal em outras empresas não era na Petrobras”, afirmou uma das fontes.

O mercado, no entanto, teve uma reação ruim porque esperava ter um número exato de abatimento do valor contábil dos ativos sobre os quais há claros indícios de superfaturamento. Como resumiu o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo David Zylbersztajn, o mercado está confuso por um bom motivo: — Não adianta saber do lucro se não se sabe afinal qual é o patrimônio da empresa. Hoje ninguém sabe o P/L (relação patrimônio e lucro da empresa) porque não se sabe o valor do P.

Um conselheiro, no entanto, disse o seguinte, para provar que houve avanço com o balanço divulgado, mesmo com todas estas dúvidas: — Colocamos o guizo no gato. Mostramos que o ajuste que terá que ser feito é grande. Ainda que esse valor tenha que ser lapidado tecnicamente. E isso é uma mudança de rumo.

Antes, o conselho de administração se reunia uma vez por mês. Desde dezembro foram várias reuniões. “Vivemos o clima de emergência”, disse um participante da reunião. As fontes da empresa que ouvi acham que esse demonstrativo, mesmo sem a chancela da PWC, a empresa de auditoria, é suficiente para cumprir as obrigações com os credores dos bônus que vencem agora no dia 30.

Muita gente no mercado duvida. Acha que o que o contrato estabelece é ter um balanço auditado por uma das grandes empresas internacionais do setor. Em tese, a empresa estaria inadimplente com os compradores dos seus bônus e, teoricamente, eles poderiam pedir o pagamento imediato da dívida. David Zylbersztajn acha que isso não vai acontecer: — Na prática, eles podem, mas ninguém quer matar seu devedor. Os credores sabem que os fundamentos da empresa são excelentes. A Petrobras tem dois ativos valiosos: reservas e gente qualificada.

A situação é delicada porque há muitos desdobramentos a se temer. Um deles é a multa da SEC por más práticas. Outro é o processo de credores e acionistas. Na madrugada de ontem a empresa admitiu, nessa demonstração contábil, que ainda não conseguiu ter o mais elementar em qualquer empresa de capital aberto desse porte: um balanço auditado. O que se ouve é que esse demonstrativo é o primeiro passo para ter em abril um balanço do ano auditado. Por enquanto, o que fica claro é que o saque à Petrobras é a mais nociva herança dos governos do PT.

Fonte: Coluna da Miriam Leitão – O Globo