Folha de S. Paulo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e o presidente Jair Bolsonaro
aumentaram a dose de atenção à sua base eleitoral evangélica, como ficou
claro neste Sete de Setembro.
Enquanto lideranças religiosas acompanhavam, a convite do Planalto, o
desfile da Independência na capital federal, um pelotão de fiscais
municipais invadia, sob ordem do chefe pastor, a Bienal do Livro carioca
à caça de publicações com temática homossexual.
Presidente e prefeito veem-se acossados pela impopularidade, bem mais
aguda no caso de Crivella, e reagem para evitar o contágio em segmentos
mais fiéis. [absurdo falar que Bolsonaro anda preocupado com a popularidade - que alguns jornalistas insistem em apontar que está em queda; qualquer pessoa que viu o Desfile da Independência em Brasília, teve que admitir - diante dos fatos - que popularidade é um item que sobra ao presidente Bolsonaro;
o presidente da República Federativa do Brasil - esta frase tem forte potencial para levar alguns adversários do nosso presidente JAIR BOLSONARO, ao infarto - se deu ao luxo de por alguns minutos realizar um desfile paralelo (sem ser vaiado, ao contrário, foi aplaudido), aproveitando a ocasião para mostrar que ele e o ministro Sergio Moro estão bem, otimamente, bem.] A diretriz faz sentido, sem deixar de ser também arriscada.
Embora a eleição esteja distante para Bolsonaro, a antipatia popular
crescente atrapalha o governo. Estimula o debate de alternativas e
encarece as interações do presidente com outras organizações de Estado.
No caso de Crivella, que em junho escapou do impeachment, o pleito bate à
porta. Mas enfocar a minoria é sempre um dilema para políticos que dependem de
apoio majoritário para continuar no jogo. Nesse tabuleiro, a mensagem
contra a diversidade sexual não parece o movimento mais eficaz.
Embora a adoção de crianças por casais gays e a união civil, já
legalizadas, ainda provoquem divisão de opiniões, acabou a intolerância
com a homossexualidade numa extensa maioria dos brasileiros. [quando se fala que ' acabou a intolerância
com a homossexualidade numa extensa maioria dos brasileiros', o extensa maioria é consequência da opção dos que não aceitam, rejeitam, pelo silêncio - que é interpretado como aceitação - especialmente, por ser uma tolerância imposta por punições que podem ser até mais rigorosas do que as aplicadas a um homícidio.
Óbvio, que é pacífico que qualquer pessoa tem o direito de ter a opção que desejar - não sendo aceitável que alguém seja agredido, punido devido ter uma preferência sexual.
Inaceitável é que muitos queiram em nome do direto de ter uma determinada opção sexual, impor a outros sua opção - sempre atual a máxima que o direito de alguém termina onde começa o do outro.
Quanto ao imbróglio da Bienal do Livro, se justifica a rejeição, o repúdio a querer que material inadequado - devido o evidente conteúdo sexual - se torne acessível a crianças.
O próprio presidente do TJ-RJ em 'nota', esclareceu que não proibiu a venda do material, apenas determinou que fosse acondicionado em embalagem lacrada e com indicação do seu conteúdo - para evitar cair em mãos de crianças.]
As situações citadas pelo articulista no inicio deste parágrafo, apesar de legalizadas - inclusive a união civil foi legalizada devido a falta do advérbio apenas no parágrafo 3º do art 226 da CF - provocam divisão de opiniões, rejeição de parte da sociedade - que é um direito de qualquer cidadão, desde que ao exercer tal direito não queira IMPOR seu entendimento invadindo o direito de terceiros.
A Bienal já acabou, tanto que exercer o direito de boicotar o evento, perdeu o sentido.]
De cada quatro indivíduos consultados pelo Datafolha na véspera do
segundo turno de 2018, três concordaram que a homossexualidade deve ser
aceita por toda a sociedade. Mesmo entre os evangélicos (57%) e os
eleitores de Bolsonaro (67%), a aceitação supera largamente a rejeição. [comentar comportamento de evangélicos é um tema que não adentro, sou católico e sei muito pouco da doutrina evangélica, mas, uma certeza é que eles levam a sério seguir a Bíblia, alguns seguem literalmente, e o Livro dos Livros é radical ao condenar certas práticas, entre elas o homossexualismo.] Os gays estão vencendo, não só no Brasil, a guerra pelo reconhecimento
do grande público, o que respalda vitórias de suas causas sobretudo nas
cortes. A avalanche de reações ao ato homofóbico de Crivella, que culminou num
veto do Supremo Tribunal Federal, explicitou os custos da aventura.
Vinicius Mota - Folha de S. Paulo