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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A afronta boçal sofrida por Míriam Leitão é obra de Lula

O chefão da seita aproveita o sermão de missa negra para atiçar os pit bulls que só rosnam quando agrupados em matilhas 

Devem ser debitadas no prontuário de Lula as violências sofridas neste 3 de junho pela jornalista Míriam Leitão, que voava de Brasília para o Rio a bordo de um avião infestado de fanáticos que haviam participado do congresso nacional do PT. Dois dias antes, durante o sermão da missa negra que encerrou a reunião, o único deus da seita atiçou as centenas de devotos com ataques ao Grupo Globo em geral e a Míriam em particular. A colunista e comentarista da empresa, segundo o cinco vezes réu da Lava Jato, sempre erra em desfavor da organização criminosa que, disfarçada de entidade política, por pouco não destruiu o país.


Ao toparem com a jornalista no aeroporto da capital, pit bulls que só esbanjam valentia quando agrupados em matilhas começaram a rosnar em coro. A sequência de afrontas ganhou dimensões mais repulsivas a bordo da aeronave da Avianca, cuja tripulação testemunhou passivamente o berreiro covarde sublinhado por gestos obscenos. Míriam suportou com altivez o constrangimento absurdo, relatado em sua coluna no Globo desta terça-feira, 13 de junho. Um trecho do artigo sugeriu a Lula que deixasse de citá-la nominalmente nas discurseiras que invariavelmente incluem incitações à selvageria.

A jornalista poderia ter incorporado à recomendação um fato relevante: neste 11 de junho, oito dias depois do espetáculo da boçalidade encenado acima das nuvens, o chefão recomeçou a ofensiva por terra na festa de posse de Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo rebaixado a presidente do diretório paulista do PT. “Por mais que determinados setores da imprensa tentem vender de manhã, à tarde e à noite que tá tudo maravilhoso, eu sinceramente não sei”, começa o torturador da verdade e do idioma no vídeo acima. “Eu se um dia… eu não posso nem falar de candidatura porque o Ministério Público já quer me processar por antecipação de campanha”.

E então a cabeça baldia recoloca na alça de mira a inimiga do Pai dos Pobres que virou Mãe dos Ricos:Mas eu quero dizer que, se um dia, se Deus quiser e o povo brasileiro assim desejar e eu voltar, eu vou chamar a Míriam Leitão para ser minha ministra da Fazenda, porque eu nunca vi ninguém dar mais palpite errado do que essa mulher”, ironiza o homem fustigado por pesadelos em que aparecem celas, grades e placas com o nome da capital do Paraná. “Eu, sinceramente, não sei como é que a Globo mantém uma pessoa que não acerta uma. Quando a gente tava no governo, a crítica era pela desgraça, agora é tentando achar um jeito de vender alguma coisa que não existe. Então, me parece que eu preciso dar uma chance a essa moça”.

Caso se consumasse o convite, estaria configurada uma ofensa gravíssima à jornalista sem contas a acertar com a Justiça. Em seus dois mandatos presidenciais, o sitiante sem escritura teve apenas dois ministros da Fazenda. Ambos viraram casos de polícia. O primeiro foi Antonio Palocci, codinome Italiano, preso em Curitiba desde setembro passado. O segundo foi Guido Mantega, codinome Pós-Itália, ainda desfrutando da liberdade que perderá a qualquer momento. Como Lula.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes - VEJA 


 

terça-feira, 13 de junho de 2017

O ódio a bordo

Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.

Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews. Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.

Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.  — Terrorista, terrorista — gritaram alguns.

Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.  Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:  — O comandante te convida a sentar na frente.
— Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.

O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:  — A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai.
— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.

Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.  Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.

Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.

O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. 

Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.  Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.

Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo


domingo, 28 de fevereiro de 2016

A Bolsa Angra x a cana de Curitiba - A prisão de Lula

A decisão do Supremo Tribunal Federal que abriu as portas da cadeia para condenados em duas instâncias virou o jogo para os maganos apanhados na Lava-Jato. Até então, com advogados caros e paciência, os réus podiam ficar em liberdade, ganhando tempo com recursos judiciais. Agora esperarão trancados.

Tomem-se dois exemplos:
Ricardo Pessoa, o homem da UTC, foi preso em novembro 2014, começou negando quase tudo e, meses depois, o Supremo soltou-o. Desmentindo a patranha segundo a qual os acusados colaboram para sair da tranca, Pessoa negociou sua colaboração em liberdade. Aceitou pagar uma multa de R$ 51 milhões e, em troca, recebeu a garantia de que não será condenado a mais de 18 anos de prisão. Não cumprirá tempo de cadeia. Durante até três anos poderá trabalhar, obrigando-se a ficar em casa à noite e nos fins de semana. Daí em diante, terá liberdade condicional.

Em geral os réus da Lava-Jato são abonados senhores que já passaram dos 50 anos. Com a colaboração que deram à Viúva, permitindo à Lava-Jato chegar onde chegou, habilitam-se a viver numa boa casa em Angra do Reis, ou numa zona de conforto semelhante, passando algum tempo al mare ou numa quadra de tênis. É a Bolsa Angra, usufruída por Pedro Barusco e Julio Camargo. 

“Léo” Pinheiro, o presidente da OAS, foi preso no mesmo arrastão em que entrou Pessoa. Como ele, foi libertado pelo STF. Preferiu o silêncio. Em agosto foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 16 anos de prisão. Se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmar a sentença, ele irá para a penitenciária. Lá os presos devem andar de cabeça baixa, com as mãos para trás. Assim deverá esperar o julgamento de seus recursos. Não é a toa que ressurgiram os murmúrios que negociará sua colaboração.

No mesmo caso entra o engenheiro Zwi Skornicki, castelão de uma boa casa na Barra da Tijuca, outra em Itaipava, onde guardava uma coleção de brinquedos. (Pelo menos oito automóveis, entre eles um Porsche.) Sua terceira casa, em Angra, é cinematográfica. Tem três níveis e duas alas, uma para os caseiros. Elas ligam-se por uma pérgula coberta. Nada mal.

Um americano reconta o Império
O professor William Summerhill, da Universidade da Califórnia, é um bruxo da pesquisa econômica. Em 1998 ele publicou um artigo sobre a construção de ferrovias até os primeiros anos da República e virou de cabeça para baixo a sabedoria convencional que envolvia o assunto. Elas foram um operação bem-sucedida, fator de grande progresso. Summerhill está de novo nas livrarias americanas com “Inglorious revolution” (em tradução livre, “Uma revolução inglória — Instituições políticas, dívida soberana e subdesenvolvimento financeiro no Brasil imperial”).

Trabalho prodigioso de pesquisa, lida com um paradoxo: a teoria ensina que os países que honram suas dívidas progridem. Durante todo o Império, o Brasil honrou suas dívidas interna e externa e não progrediu. O crédito do Império em Londres era tão sólido que resistiu até a um rompimento de relações com a Inglaterra.

Entre os muitos fatores do atraso, um está aí até hoje. O sistema de crédito era controlado pelo governo, mas a banca, concentrada e com poderosas conexões, controlava o governo. Os grandes fazendeiros do café conseguiam dinheiro a 8% ao ano. Na Bahia, a 12%. Em Minas e Pernambuco, até a 30%.

O artigo das ferrovias, bem como “Order against progress” (“Ordem contra o progresso”), o livro que resultou de sua expansão, publicado em 2003, não foram traduzidos para o português. Olavo Bilac tinha razão, o português, a última flor do Lácio, é esplendor e sepultura.

A prisão de Lula
Quem conhece os movimentos da Operação Lava-Jato assegura:
O time vestiu o uniforme, calçou as chuteiras e quer entrar em campo para buscar a prisão de Lula.
Para que isso aconteça são necessárias algumas condições:
1ª - Que o juiz Sérgio Moro aceite o pedido.
2ª - Que a acusação tenha força suficiente para não ser derrubada no Superior Tribunal de Justiça. Isso, entendendo-se que se Moro conceder o pedido é improvável que a medida seja revogada no Tribunal Federal da 4ª Região.
3ª - Ultrapassados esses dois obstáculos, restará um julgamento no Supremo Tribunal.
Ninguém pode saber qual será o desfecho de cada uma dessas situações. De qualquer forma, fica uma certeza: a infantaria da Lava-Jato jogaria numa só mão de carta todas as fichas que acumulou ao logo de dois anos de trabalho. Ganhando, quebra a banca. Perdendo, fica sem uma perna.
Quando a Polícia Federal informou que “o possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia”, estava dizendo mais que isso. Afinal, se o problema fosse de parcimônia, não precisava ter dito nada.

Campeões
Nosso Guia e a doutora venderam a ideia de que os “campeões nacionais” fortaleceriam o Brasil como exportador de serviços.
Conseguiram exportar muita coisa, inclusive corrupção.

Angola e Venezuela eram pedras cantadas há anos. Um conhecedor da vida angolana desde o tempo em que o MPLA era virgem, dizia que “lá, você só pode botar a mão no fogo pelo escritor Pepetela”. José Eduardo dos Santos governa o país desde 1979, e sua filha é a mulher mais rica d’África.

Pontualidade
Pérola encontrada no depoimento do empresário Milton Pascowitch ao Ministério Público da Lava-Jato:
MP: “Com qual periodicidade que eles retiravam esse dinheiro?”
Pascowitch: “Ah, rezavam para chegar no final do mês.”
MP: “Mensalmente?”
Pascowitch: “Mensalmente.”

Frigideira
No final de janeiro a dona de uma loja de materiais de construção de Atibaia disse ao repórter Flávio Ferreira que a Odebrecht pagava as contas das obras na propriedade. Coisa de R$ 500 mil, em dinheiro vivo. Quem cuidava do trabalho era o engenheiro Frederico Barbosa, da Odebrecht.

A empreiteira disse que não sabia de nada, e Barbosa informou que fazia esse serviço nas férias. Seria o jogo jogado se não houvesse o risco de estar obstruindo a investigação.
Passaram-se quatro dias e a Odebrecht reconheceu que Barbosa trabalhava na obra a pedido de um de seus chefes na empresa. Do jeito que estava a coisa, numa transação que envolvia o lazer de um ex-presidente e a maior empreiteira do país, quem iria para a frigideira seria um engenheiro.

Zelotes
Chamando o presidente da Gerdau para se explicar, a Operação Zelotes mostra que recuperou seu foco inicial: o propinoduto de grandes empresas e bancos, azeitando decisões no Conselho de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda.

É lá que mora um dragão.

Curitiba
Pode ter sido coincidência, mas numa época de contração do mercado de voos comerciais, a Avianca anunciou que começará a operar um novo voo diário (o quarto), de São Paulo para Curitiba.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista