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terça-feira, 29 de agosto de 2023

Supremo - Drogas: o único ministro que votou bem é o que está sendo criticado - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo 

Eu vejo nas redes sociais as pessoas cobrando o ministro que, neste julgamento das drogas, deu o único voto até agora em favor da família, em favor da saúde pública, em favor da segurança pública, em favor da lógica. Ainda está 5 a 1, no Supremo, em favor de isentar de qualquer medida educativa, de pagar cesta básica, aquele que comprar droga para satisfazer o seu trágico vício.

É um voto em favor da família porque não há família feliz se houver viciados na família. O drogado não tem saúde; se o número de drogados se multiplicar, vai ter efeito sobre a saúde pública. 
E, além disso, a lógica diz que, se a venda de droga pelo traficante é crime, a compra também é. Compra e venda formam um pacto entre dois. Se a pessoa compra de um criminoso uma mercadoria cuja venda é crime, o comprador também está praticando crime. 
É como no crime de receptação: a pessoa que compra um celular de um desconhecido assaltante por R$ 200 comete crime de receptação. [oportuno lembrar que o atual presidente concedeu uma espécie de 'anistia informal' aos 'meninos', nas palavras do estadista petista,  que roubam celulares, quando considerou injusto puni-los; 
se o furto de celular  deixou de ser crime, por enquanto informalmente, a compra de celular roubado não é crime  = raciocínio que se estende aos que 'trabalham' na compra e venda de drogas.]

Mas estão criticando justamente o Cristiano Zanin, que deu seu voto com base nessa lógica, com base na defesa da família, em primeiro lugar, mas também da saúde pública e da segurança pública, porque o viciado desesperado pode assaltar, praticar furtos dentro de casa, todo mundo sabe. Mas mesmo assim ainda falta apenas um voto para o Supremo formar maioria em favor da isenção para aquele que, viciado, vai comprar drogas para agravar sua saúde mental e física.

Inversão de valores total na Justiça
Falando em drogas, em abril devolveram para o André do Rap um Porsche, um helicóptero e quatro jet skis, por ordem do Supremo, porque onde é que já se viu fazer busca e apreensão contra ele. 
Também em maio, um sujeito com 257 pinos de coca foi liberado. Outro estava com 695 quilos de droga, que a Polícia Federal descobriu por acaso, e a apreensão foi anulada. 
Em junho, o Superior Tribunal de Justiça liberou Batatinha, um dos líderes do PCC. Enquanto isso, há 1.390 brasileiros que foram presos, viraram réus, os que foram para casa estão até hoje com tornozeleira, outros continuam presos.
 
Por que eu estou contando isso? Estou influenciado pela motorista que nesta segunda-feira me levou da Barra até o Santos Dumont, uma carioca da gema. Ela foi me contando como é que foi a festa com um DJ famoso no centenário do Copacabana Palace.  
Quinhentas pessoas foram presas por assalto, muitas armas foram aprendidas, mas 24 horas depois só 20 ainda estavam presos. Está havendo uma total inversão que as pessoas não aceitam, porque agride.
 

Governo vai atrás do dinheiro de empresários que geram emprego e renda
O salário mínimo foi fixado em R$ 1.320
, está sancionada a lei. E a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física aumentou para R$ 2.640. Imaginem o sujeito que ganha R$ 2.641 e vai pagar IR; já está pagando 20%, 30%, 35% sobre tudo o que compra, e ainda vai ter de pagar imposto de renda.  

Para compensar, o governo anunciou que vai tirar R$ 7 bilhões de 2,5 mil pessoas que aplicam dinheiro em offshore, trustes, empresas, bancos, de lugares que não estão sob a jurisdição do Estado que cobra imposto; agora vão pagar de 15% a 20%. Quem são essas pessoas?  
São grandes empresários. Ninguém recebeu herança, ninguém achou pote de ouro no fim do arco-íris. 
É gente que trabalha, que produz, que emprega, que paga impostos habitualmente, já pagou a vida toda, cria empregos.

Um seguidor sugeriu uma vez que, assim como a igreja é separada do Estado, por que não separar a economia do Estado também? 
Aí a economia poderia crescer sem o Estado inchar à custa dos pagadores de impostos. Uma bela ideia, não? 
Em suma, é isso: se o Estado não atrapalha, as pessoas vão abrir empresas, vão produzir mais, vão pagar mais impostos, vão dar mais empregos e vão pagar mais salários. 
A liberdade econômica é fértil, muito fértil.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 13 de maio de 2023

Tudo anulado - Carlos Alberto Sardenberg

O ex-presidente Collor Jorge William

Agora que o Judiciário está numa onda de anular sentenças da Lava-Jato, em especial, e de processos de corrupção, em geral, o ex-senador Fernando Collor enfrenta no STF um julgamento na direção contrária. Na próxima semana, o Supremo retoma a análise de um caso que vem lá da Lava-Jato, um subpetrolão, em que Collor é acusado de receber propinas em contratos da BR Distribuidora de 2010 a 2014.

A defesa alega inocência. O relator, ministro Edson Fachin, ainda não votou, mas deu sinais de que condenará o ex-senador, por receber e lavar cerca de R$ 26 milhões. E lavar em carros de luxo Ferrari, Lamborghini, Bentley, Land Rover e Porsche —, casa e obras de arte. Os carros chegaram a ser apreendidos — o processo vem de 2017 —, mas já foram devolvidos.

Continuam, entretanto, sendo um problema para Collor. O atual movimento de anulação de condenações só esbarra num tipo de obstáculo. Ocorre quando há algo muito evidente, um rastro impossível de apagar.

Lembram-se das fotos mostrando malas e caixas de papelão abarrotadas de dinheiro no bunker de Geddel Vieira Lima, em Salvador? Somavam nada menos que R$ 51 milhões. Geddel foi condenado a 14 anos, cumpriu quatro, ganhou liberdade condicional, a condenação foi anulada, ele voltou à política, mas continua um réu condenado. Questão: o que fazer com aquela montanha de dinheiro?

Sérgio Cabral já está solto, a Lava-Jato do Rio foi desmontada, sentenças vêm sendo anuladas, mas tem problema: o ex-governador confessou e, pior, devolveu dinheiro. Uma casa foi leiloada, e o estado embolsou quase R$ 7 milhões. Se for tudo anulado, o que se faz? Devolve-se tudo para Cabral?

Há outro caso importante e pendente no STF: a ação penal contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por suspeita de corrupção passiva. Aceita em 2019, a ação está parada desde novembro de 2020, quando o ministro Dias Toffoli pediu vista. Pelas novas regras da Corte, o processo deverá voltar à pauta até junho.

O caso, visto hoje, é fraco. Começa quando um ex-assessor parlamentar foi pego transportando pouco mais de R$ 106 mil em dinheiro vivo. O montante deveria ter sido entregue a Lira, diz a acusação. O dinheiro existe, mas seu destino fica na condicional, deveria... teria... Tanto nos meios políticos quanto jurídicos, se dá como praticamente certo que o processo será anulado. A defesa pede exatamente isso, anulação pela circunstância de o caso ter sido levantado em delação premiada.

Sem qualquer juízo de valor sobre este processo problema do STF —, as delações, prática desenvolvida com a Lava -Jato, estão hoje em desuso. Os métodos da Lava-Jato foram desmoralizados com o fracasso da operação. O “ativismo jurídico” de promotores e juízes da Lava-Jato deu lugar à ênfase no “devido processo legal”.  

É evidente que, numa democracia de verdade, todo mundo deve ser julgado conforme as regras sagradas do Direito.

Mas resta um problema: como essas regras e normas são praticadas? Como é possível que se passe de uma onda de processos contra corrupção, com tantos casos evidentes, para uma onda de anulações, com base no devido processo legal? Dá uma impressão estranha. Parece que, se não nas normas, na prática o Direito Penal brasileiro tem favorecido uma situação bastante frequente. São os processos que acabam assim: o réu não é nem culpado nem inocente, simplesmente seu caso é anulado.

Acrescente-se outra circunstância: juízes de diversas instâncias mudando radicalmente de opinião, da punição à anulação. Sim, quando os fatos mudam, as interpretações também mudam. Tanto assim?

Dizem: havia muitos inocentes processados indevidamente. Certo. Mas também deve haver muitos culpados que se safaram nesse ambiente, não é mesmo?

Quando grandes empresários começaram a ser apanhados, um deles, do setor financeiro, advertiu numa reunião de diretoria:

Cuidado, porque agora todos podem ser presos.

E acabou detido.

Está solto, também.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Coluna em O Globo
 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A elite “moderada” que apoiou Lula já se arrepende, mas é o povo quem vai pagar - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo

Este tem sido, até agora, o governo da desesperança – e do medo, da suspeita, da desconfiança e de tudo aquilo que pode haver de pior na expectativa do futuro próximo para o país.
Ainda falta um mês e meio para Lula assumir a presidência da República, mas desde que foi declarado vencedor das eleições de 2022 sua atuação pública só produziu notícia ruim.  
A cada vez que ele abre a boca, as coisas pioram: a bolsa de valores derrete, o dólar dispara, os juros para operações futuras sobem. É o contrário, exatamente, do que vinha acontecendo até sua eleição [nunca é demais lembrar: Bolsonaro governando.] quando cada mês registrava melhoras em todos os índices econômicos essenciais, da inflação ao desemprego, das exportações à arrecadação federal, do gasto público ao lucro das estatais.  
De 3 de novembro para cá, a casa começou a cair - e ninguém está pondo mais força na demolição do que o novo presidente.

O governo que Lula vai começar sempre foi um desastre anunciado e garantido em contrato. Nada, desta vez, de busca de consenso, moderação, “Carta aos Brasileiros”, como foi na sua primeira chegada ao governo. Em vez disso, agora, Lula se inclinou o tempo todo para o extremismo, o rancor e o discurso da esquerda radical. 
A elite empresarial e o seu entorno fizeram de conta que estava tudo bem; Lula é assim mesmo, fica falando essas coisas, mas tudo é só conversa de campanha, pois ele é um sujeito responsável e não vai jogar o país numa aventura etc. etc. etc. Na hora de governar ele vai ser sério etc. etc. etc. Foi mais um raciocínio idiota. O Lula-2022 é diferente do Lula-2002 - e é esse o Lula que está valendo hoje. 
Ele está convencido que a eleição o autorizou a fazer tudo o que quer, e já no dia seguinte à eleição estava exigindo que o Brasil lhe dê licença para gastar como bem entender o dinheiro do Estado. É a sua ideia fixa do momento: abolir o teto de gastos, a âncora que há anos vem segurando a inflação, o valor do real e a estabilidade financeira. Dane-se o equilíbrio entre receita e despesa – segundo ele, isso impede a “justiça social” e, portanto, precisa ser derrubado.

Ainda falta um mês e meio para Lula assumir a presidência da República, mas desde que foi declarado vencedor das eleições de 2022 sua atuação pública só produziu notícia ruim

O primeiro ato do homem que veio para “salvar a democracia”, segundo o STF, a esquerda e a maior parte da mídia, é, como se vê, uma agressão direta à lei vigente; Lula não aceita a regra do jogo, e exige uma mudança na Constituição para fazer o tipo de governo que tem na cabeça. Programas sociais, obviamente, só fazem sentido se forem acompanhados o tempo todo de responsabilidade fiscal; se não for assim, produzem inflação e desemprego diretos na veia, e isso só piora a vida daqueles a quem se pretende ajudar. 
Mas Lula está cego para isso: só pensa em eliminar o teto de gastos e governar o Brasil como sua propriedade privada. 
É materialmente impossível, assim, evitar que a economia reaja mal – a economia, não o “mercado”. A Bolsa de Valores despenca e o dólar dispara porque a população em geral perdeu a confiança na seriedade do governo que se aproxima; não tem nada a ver com meia dúzia de operadores de bolsa e outras frações da elite, como Lula quer fazer crer. É apenas mais uma de suas falsificações: ele reclama que “o mercado” está muito “sensível”, trata com desprezo a queda da Bolsa e a subida do dólar – “paciência”, diz – e leva adiante a mentira de que só uma elitezinha está incomodada com a sua guerra ao teto de gastos e o começo desastroso do seu governo. 
Os fatos mostram o contrário disso: quem vai pagar integralmente pela desordem fiscal não é o sujeito que anda de Porsche, e sim o que está na fila do ônibus. Alguma dúvida?

Os liberais-equilibrados-centristas que apoiaram Lula estão assustados com ele; os que quiseram exercer uma influência “moderadora” em seu governo constatam que viveram uma miragem. Tudo isso estava escrito desde que Lula ganhou a sua candidatura do STF. Fingiram que não, para “salvar a democracia”

Podem, agora, voltar a seus vinhos de safra e retornar às conversas em que se fala mal de Lula. Quem vai entrar no pau, com inflação, desemprego e outras realizações do governo petista é a população – os “manés” do ministro Barroso.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
 
J. R.Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O país dos ‘descondenados’ - Revista Oeste

Silvio Navarro

A liberdade dos bandidos do petrolão e a prisão de Roberto Jefferson deixam claras as injustiças da Justiça brasileira 

André do Rap, Lula e Dirceu refletem a impunidade da Justiça brasileira -  Foto: Montagem/Agência Brasil

Em outubro do ano passado, o país acordou com uma manchete que assustou até os plantonistas dos “direitos humanos” nas redações e nos famosos escritórios de advocacia. O narcotraficante André Oliveira Macedo, de 43 anos, conhecido pelo apelido de André do Rap na facção Primeiro Comando da Capital (PCC), saiu pela porta da frente da penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista. A soltura fora determinada pelo então ministro Marco Aurélio Mello, no apagar das luzes de sua aposentadoria do gabinete do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo o promotor Lincoln Gakya, que enfrenta o PCC com os punhos erguidos há décadas, ao deixar a prisão, André do Rap fugiu para a Bolívia. Ele é um dos responsáveis pelo fluxo internacional de drogas escoado diariamente pelo Porto de Santos, onde a fiscalização é frouxa. Em 2019, antes de ser preso em uma mansão de luxo em Angra dos Reis (RJ), tinha lancha, helicóptero e dirigia um Porsche. Ao ganhar a liberdade, faltavam mais de 25 anos de cadeia para cumprir. Então por que foi solto?

Porque o Brasil é um país onde o crime compensa. A polícia prende, mas o Judiciário solta. Como não tinha condenação definitiva desde 2019, Marco Aurélio decidiu que ninguém pode permanecer mais de 90 dias em prisão provisória sem revisão, conforme determina o pacote anticrime aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado. Horas depois da concessão do habeas corpus, até o presidente do STF, Luiz Fux, reagiu com espanto e revogou a canetada. 
Tarde demais. O criminoso já havia cruzado a fronteira.

O ex-corruptos

Foi assim também em 2021 com os bandidos de colarinho-branco, os famosos assaltantes dos pagadores de impostos. Uma boa parte deles caiu na malha fina da Lava Jato durante os sete anos de duração da operação — que foi perdendo fôlego à medida que os arranjos políticos em Brasília ganharam envergadura. Um dos casos mais emblemáticos foi o do ladrão sincero Pedro Barusco, funcionário do terceiro escalão da Petrobras
Ao ser flagrado roubando o cofre da estatal, devolveu sem titubear US$ 100 milhões que estavam escondidos na Suíça. Em troca, a promessa de não passar mais de uma década atrás das grades.

“A coisa foi acontecendo, um oferece e o outro recebe. O relacionamento vai se estreitando e, quando a gente vê, está no meio desse processo. É uma coisa contínua”

O jornal O Estado de S.Paulo fez um levantamento no início do mês sobre a anulação de penas por tribunais superiores. O número é escandaloso: 277 anos. Como o STF não para, a reportagem de Oeste ultrapassou a marca de 300 anos. 
Ao menos 15 políticos tiveram suas condenações anuladas por tribunais superiores, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O fato é que o único político graúdo ainda encarcerado no Brasil é Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro. Ainda assim, ele está conseguindo, mês a mês, reduzir a pena de 400 anos de prisão — são 21 condenações. O ex-ministro Antonio Palocci também — até a tornozeleira já foi tirada.

Já o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, está preso num inquérito cuja base não tem respaldo na história
O STF inventou um guarda-chuva jurídico para prender quem critica as decisões dos magistrados. 
O mesmo aconteceu como nunca antes neste país com o deputado federal Daniel Silveira, do Rio de Janeiro.

O parlamentar foi preso não por ter roubado o país, como os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Delúbio Soares, mas por ter gravado um vídeo recheado de grosserias. Ambos têm como defensor o advogado Cristiano Zanin Martins.

Zanin estaria condenado ao eterno anonimato se não tivesse casado com a filha do advogado Roberto Teixeira, que virou um dos mais queridos amigos de Lula ao ceder-lhe gratuitamente o apartamento em São Bernardo ocupado anos a fio pela família do futuro presidente. “Ali Lula descobriu como mora gente rica”, observou Augusto Nunes, colunista de Oeste, num artigo publicado no portal R7. “Ali também aprendeu que é possível ser dono de imóveis sem perder tempo com regularização de escrituras. Ali acabou por tornar-se parceiro de Roberto Teixeira em negócios suspeitíssimos.”

Como alguns desses negócios aconselharam o sogro a não assumir ostensivamente a defesa do amigo no esforço para livrá-lo das descobertas da Lava Jato, o genro virou advogado de LulaTambém ganhou a admiração de ministros do STF, como Gilmar Mendes: “Gostaria, neste momento, senhores ministros, e acho que falo em nome do tribunal, de reconhecer o brilhante trabalho da defesa. É um advogado que não se cansou de trazer questões ao tribunal. Muitas vezes, foi até censurado, incompreendido”

A origem dessa bagunça começou no dia 8 de março deste ano, quando o ministro do STF Luiz Edson Fachin anulou com uma só canetada todas as condenações do ex-presidente Lula — triplex do Guarujá, sítio em Atibaia e terreno do instituto na capital paulista. “Verificou-se que os supostos atos ilícitos não envolviam diretamente apenas a Petrobras, mas ainda outros órgãos da administração pública.” Com essa frase, Fachin determinou que todos os processos envolvendo agentes políticos denunciados pela PGR, entre eles o do ex-presidente, deveriam ser transferidos para a Primeira Instância. A impunidade foi recuperada.

Leia também “Os imperadores do Supremo Tribunal Federal”

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 3 de julho de 2018

Romário - Porsche, iate, mansão...o patrimônio oculto do atualmente senador


Saiba como O GLOBO descobriu bens de luxo ocultados pelo senador e pré-candidato ao governo do Rio

Desde a aposentadoria do hoje senador Romário (Podemos-RJ) dos gramados, em 2008, um aspecto surpreendente de sua trajetória começou a ser noticiado: dívidas contraídas ao longo de sua bem-sucedida carreira. No ano seguinte à sua despedida do futebol, por exemplo, uma cobertura no edifício Golden Green, na orla da Barra da Tijuca, foi leiloada por R$ 8 milhões para que o valor fosse revertido a um vizinho, prejudicado pelo vazamento de uma obra feita no apartamento de Romário. Aquele débito era apenas a ponta de um iceberg.


Um levantamento feito este ano na Procuradoria da Fazenda Nacional apontou dívidas de R$ 36,7 milhões do ex-jogador com a União, pessoas físicas e jurídicas. Três perguntas surgiram naturalmente a partir desta constatação: qual a origem deste passivo? Por que um ex-atleta de sucesso e salários altíssimos não quitava estes pagamentos? Como ele driblou as autoridades durante tanto tempo? A história que vamos contar a seguir nasce desses questionamentos.

Desde fevereiro, O GLOBO vem fazendo uma série de reportagens sobre o patrimônio do senador Romário. A apuração envolveu os diversos elementos possíveis: conversa com fontes, coleta e análise de documentos, pesquisa, entrevistas e também uma dose de sorte. Em dezembro do ano passado, uma nota publicada pelo colunista do GLOBO Ancelmo Gois revelava que dois apartamentos de Romário tinham ido a leilão por determinação judicial. Uma consulta ao processo elucidou o motivo: dívidas relacionadas ao extinto Café do Gol, mistura de bar, restaurante e bingo que Romário manteve na Barra entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000. Aprofundando a pesquisa, descobrimos que os imóveis, apesar de pertencerem ao senador, ficaram durante anos registrados em nome da construtora que os havia vendido. Por que Romário não havia formalizado a transferência? Surgiam ali os primeiros indícios de ocultação de patrimônio para evitar o pagamento a credores.

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui 


domingo, 13 de maio de 2018

Coaf apura operações financeiras de Romário e familiares




Movimentações bancárias e patrimônio milionário da irmã do senador viram alvo do Conselho


Movimentações financeiras suspeitas e a manutenção do próprio patrimônio em nome de familiares colocaram o senador Romário (Podemos-RJ), pré-candidato ao governo do Rio, na mira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O órgão do Ministério da Fazenda responsável por ações de combate à lavagem de dinheiro vai rastrear o destino de milhões de reais que passaram atipicamente pela conta da irmã do senador e por uma empresa cujos sócios são os pais de Romário.

Desde o ano passado, a Justiça do Rio está levantando os bens da família do pré-candidato a pedido de um credor. Em abril, um despacho judicial sustentou que ele e seus familiares “ocultam patrimônio e/ou dissimulam valores”. Em fevereiro, O GLOBO deu detalhes da apuração: revelou que o senador tinha omitido de sua declaração de bens dois apartamentos e uma casa na Barra da Tijuca avaliados em R$ 9,6 milhões. Agora, a Justiça rastreou e acaba de penhorar uma lancha de Romário, avaliada em R$ 1,8 milhão.
A embarcação está registrada em nome da sua irmã, Zoraidi de Souza Faria. A lancha All Mare, de 54 pés, já foi usada pelo senador no Lago Paranoá, em Brasília, e em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio. Ultimamente, ela estava na Marina da Glória, Zona Sul do Rio. Uma fonte que circula no local disse ao GLOBO que nunca viu Zoraidi embarcar na lancha e que ela é usada frequentemente por Romário, filhos e amigos mais próximos.

O lastro de Zoraidi para ter tamanha evolução patrimonial será analisado pelo Coaf, por determinação da Justiça do Rio. Ela também aparece como a proprietária de um Porsche em que Romário circula e é quem paga o IPTU da casa da Barra do senador que até hoje não está em seu nome. Recentemente, chamou a atenção da Justiça do Rio o saldo milionário em um plano de previdência privada mantido no Banco do Brasil por Zoraidi. A aplicação, que tinha um saldo de pouco mais de R$ 700 no fim de 2015, foi turbinada após um empréstimo de Romário à irmã e alcançou R$ 4,8 milhões.

ZORAIDI ESTUDANTE
Além da doação, outro dado reforça as suspeitas de que Romário usa a irmã para ocultar patrimônio. O senador tem uma procuração fornecida por Zoraidi para movimentar os valores mantidos por ela exatamente nesta agência do Banco do Brasil, que fica em Brasília, no prédio da Câmara dos Deputados. Além do plano de previdência, Romário pode manusear os recursos de Zoraidi no banco. Em novembro, contudo, a conta corrente da irmã tinha apenas R$ 64,15.

O órgão do Ministério da Fazenda vai produzir ainda um relatório detalhado sobre outra operação financeira envolvendo Zoraidi. Entre 2015 e 2016, ela recebeu R$ 6 milhões em empréstimos da RSF Empreendimentos, empresa cujos sócios são a mãe do senador, Manuela Ladislau Faria, e seu pai, Edevair de Souza, que ainda aparece formalmente na sociedade apesar de ter morrido em 2008.

Em documentos firmados em cartórios, Zoraidi se apresenta como estudante ou “do lar”. A irmã de Romário já trabalhou na Organização Social Ecos, que administrava uma vila olímpica da Prefeitura do Rio no período em que a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer era comandada por Marcos Braz, indicado por Romário. O Coaf vai apurar ainda o destino de um depósito de R$ 6,8 milhões feito pelo Flamengo na conta da RSF em novembro de 2016. O montante foi recebido por Romário após um acordo judicial, em função de dívidas do período em que atuou no clube. Em julho do ano passado, quando a Justiça bloqueou a conta da RSF em busca do montante depositado pelo Flamengo, restavam apenas R$ 1.228.
Em outra frente da investigação sobre os bens ocultos, a Justiça determinou a indisponibilidade do Porsche, de um Land Rover, um Audi — em nome da mãe do senador —, um Peugeot e um Hyundai. A frota automotiva está avaliada em R$ 1,3 milhão, segundo a tabela Fipe. A lancha e os carros poderão ser leiloados para saldar uma parcela das dívidas milionárias de Romário.

BENS OCULTOS
CASA NA BARRA
Romário nega ser o dono de uma casa na Barra da Tijuca avaliada em R$ 6,4 milhões. A antiga proprietária, no entanto, disse ao GLOBO ter vendido o imóvel para o senador. As cotas do IPTU de 2017 foram pagas por Zoraidi de Souza Faria, irmã de Romário.

APARTAMENTOS LEILOADOS
Dois apartamentos de Romário em um condomínio na orla da Barra foram leiloados por R$ 2,8 milhões no fim do ano passado para saldar parte das dívidas. Os imóveis só foram descobertos após a construtora que aparecia formalmente como proprietária ter informado à Justiça que havia vendido as unidades ao senador.

ROMÁRIO NÃO RESPONDE
Em dezembro do ano passado, dois apartamentos que pertenciam ao senador, mas que estavam ainda em nome da construtora que vendera os imóveis a ele, já foram vendidos para diminuir o passivo. Um levantamento feito em processos em que Romário figura como réu estima em R$ 36,7 milhões as suas dívidas já reconhecidas pela Justiça o saldo com um dos credores, uma empresa de engenharia, chega a R$ 18,5 milhões
Zoraidi foi procurada na quinta-feira por telefone, mas desligou quando o repórter se identificou e não atendeu mais as ligações. Na quarta-feira, O GLOBO enviou nove perguntas a Romário, via assessoria de imprensa, mas até a noite de sábado o o senador não havia respondido. Em março, depois de lançar a pré-candidatura ao governo do Rio, ele deixou o evento, em um clube da Zona Norte do Rio, sem falar com a imprensa.

O Globo