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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

França: depois do terceiro ataque jihadista



O exército francês está no limite de sua capacidade de ação: ele já patrulha as ruas da França e está posicionado na África e no Oriente Médio. Foto: soldados franceses protegem uma escola judaica em Estrasburgo, fevereiro de 2015.
(Imagem: Claude Truong-Ngoc/Wikimedia Commons)



Nice, 14 de julho de 2016: Dia da Queda da Bastilha. As festividades da noite estavam chegando ao fim. Conforme a multidão assistia a queima de fogos de artifício começava a se dispersar, o motorista de um caminhão de 19 toneladas, dirigindo em zigue-zigue, atropelava todos que estavam em seu caminho. Dez minutos mais tarde, após ter assassinado 84 pessoas, ele foi baleado e morto. Dezenas ficaram feridas; muitos ficarão aleijados para o resto da vida. Sobreviventes atordoados vagavam pelas ruas da cidade durante horas.

Âncoras das redes de notícia da televisão francesa se apressaram em realçar que, com certeza, se tratava de um "acidente", quando as autoridades francesas começaram a falar de terrorismo, ressaltaram que o motorista só podia ser um louco. Quando a polícia divulgou o nome e a identidade do assassino, e que no passado ele já tinha estado em depressão, ela aventou que ele poderia ter atuado em um rompante de "alta ansiedade". Os policiais entrevistaram testemunhas que atestaram que ele "não era um muçulmano devoto" -- talvez nem sequer muçulmano.

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sexta-feira, 22 de julho de 2016

França: de novo o horror islâmico



"Desde o atentado contra Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, sete atentados ensangüentaram o país e 250 pessoas foram assassinadas."

Desta vez não houve só um dia de unidade nacional. Horas depois do bestial atentado em Nice, que ceifou a vida de 84 pessoas inocentes (inclusive 10 crianças) e deixou 202 feridos (16 entre a vida e a morte até o momento de escrever este artigo), a oposição acusou o presidente socialista François Hollande, e seu primeiro-ministro Manuel Valls, de haver cometido os graves erros em matéria de segurança pública que desembocaram nesta nova tragédia.

Oito horas antes do atentado, ignorando o que um fanático islâmico estava preparando em segredo, François Hollande havia se mostrado otimista durante uma coletiva de imprensa. A jornada do 14 de julho, que comemora a Revolução Francesa, transcorria bem. O imponente desfile militar nos Campos Elíseos havia sido, como sempre, um sucesso. Hollande anunciou aos jornalistas que estava disposto a pôr fim, em 26 de julho próximo, o estado de emergência que havia decretado após os atrozes atentados de 2015 em Paris. O chefe de Estado estimava talvez que a ameaça terrorista estava mais ou menos sob controle, pois os desfiles dos dias e semanas anteriores e, sobretudo, as concentrações festivas de fanáticos de futebol (nas fan zones) em várias cidades, durante o campeonato europeu, não haviam sido atacadas graças aos dispositivos de segurança deslocados, e só havia que lamentar as destruições e violências anti-policiais e “anti-capitalistas” durante as manifestações da central sindical comunista (CGT), contra um projeto de lei trabalhista.

Tal confiança havia feito com que, além disso, o governo suspendesse discretamente, desde maio passado, as detenções administrativas e as invasões de domicílios e veículos dos indivíduos assinalados pelas autoridades como suspeitos de radicalização islâmica. Hollande também advertiu que ia reduzir de 10.000 para 7.000 o número de soldados da Operação Sentinela que patrulham as cidades.

Baseado na errada caracterização da ameaça, esse otimismo beato despencou às 10 e 28 minutos da noite de 14 de julho, quando sobreveio o que muitos temiam: um novo atentado islâmico de massas. Um tunisiano de 31 anos que vivia em Nice, Mohamed Lahouaiej Boulhlel, que havia passado desapercebido pelos serviços secretos, lançou bestialmente um caminhão de 18 toneladas contra a multidão que caminhava tranqüilamente pelo Passeio dos Ingleses, a maior avenida da cidade, paralela à praia, ao final de um espetáculo de fogos de artifício. Em poucos segundos, Nice passou de um momento de festa popular republicana a um pesadelo de crueldade inaudita.

O caminhão terminou sua carreira assassina de dois quilômetros quando três policiais conseguiram abater a tiros o “soldado do Estado Islâmico”, como essa entidade o definiu ao reivindicar essa matança no dia seguinte. Assim, a França foi varrida de novo por uma onda de dor, indignação e fúria, como havia acontecido após os atentados islâmicos de janeiro e novembro de 2015.