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sexta-feira, 26 de junho de 2015

O canto da sereia do Estado Islâmico


No imaginário de muitos muçulmanos mais conservadores, os EUA são o ápice de tudo o que está errado com o Ocidente

“Eu os amo muito. Eu não posso viver sem vocês, por favor, voltem para casa!” Esse foi o apelo dramático feito aos prantos por Akhtar Iqbal na semana passada numa entrevista coletiva em Bradford, Inglaterra. “Por favor, me liguem para saber que vocês estão bem, especialmente meu filho de 3 anos Ismail e minhas três filhas.” Ele é um dos três pais de nove crianças e suas mães que desapareceram depois de viajar à Arábia Saudita para fazer uma peregrinação religiosa a Meca. Em vez de voltar para a Inglaterra, as três mulheres levaram seus filhos para a Turquia e depois para a Síria para se juntar aos membros do Estado Islâmico (EI). “Eu não estou zangado. Por favor, voltem. Está tudo bem. Voltem para nossa vida, por favor! Eles são garotos pequenos, de 7 e 5 anos, e, você sabe, eu te amo tanto,” disse Mohammed Shoaib, outro pai. 

As três mães são irmãs. Sugra Dawood tem 34 anos; Zohra Dawood, 33; Khadija Dawood, 30. Seus nove filhos variam de 3 a 14 anos. O que espanta aqui é que todas elas são de classe média e, de acordo com seus maridos, tinham uma vida familiar estável e boa, com nenhum sinal de que estavam insatisfeitas a ponto de planejar a fuga com suas crianças para o EI. Elas certamente não são as primeiras nem serão as últimas muçulmanas insatisfeitas com suas vidas em países ocidentais que responderão ao canto da sereia da vida mais islâmica, justa e completa que o EI prega para atrair cada vez mais muçulmanos do mundo inteiro. Estima-se que o EI consiga mil novos recrutas, entre homens , mulheres e suas crianças, a cada mês, vindos de todos os cantos do mundo para se unir ao que eles acham ser uma utopia islâmica no Iraque e Síria. 

Mas havia um descontentamento com suas vidas num país liberal como a Inglaterra. Uma das irmãs tinha comentado com uma amiga, antes de viajar, que não queria que sua filha crescesse num país como a Inglaterra, que a cada dia se parecia mais com os Estados Unidos. No imaginário de muitos muçulmanos mais conservadores, os EUA são o ápice de tudo o que está errado com o Ocidente: secular demais, muito violento e, sobretudo, liberal demais, deixando a libertinagem tomar conta das vidas de quase todos os americanos. Para essas pessoas, a sociedade americana está corrompida demais com o sexo livre que a revolução feminista dos anos 1960 e 1970 trouxe. [na avaliação do Brasil sob a ótica muçulmana estamos exatamente em uma situação similar à americana; as únicas diferenças entre a destruição dos valores morais, da família e outros entre o Brasil e os Estados Unidos são:
- o Brasil caminha para a miséria, empobrecimento da sua população, devido as drogas que governaram e governam nosso País nos últimos 12 anos;
- a libertinagem, notadamente a sexual, que nos Estados Unidos é na maior parte entre os homens e as mulheres e no Brasil caminha para ser HOMEM com HOMEM e MULHER com MULHER.
A ditadura gay está concluindo a destruição do que ainda resta de bom no nosso Brasil.
Aqui o governo patrocina todeas as iniciativas que visem destruir o que ainda resta de VALORES em nosso Brasil.
Agora mesmo, os ratos que defendem a 'ideologia de gênero' fazem pressão sobre as Câmaras de Vereadores para aprovarem a maldita doutrina que tem como um dos seus pilares, incutir nas crianças que nem são homem nem mulher, não nasceram com sexo - são crianças = sexualmente neutras, indefinidas = só na puberdade é que escolherão ser homem ou mulher.
Nesta ótica nojenta é absolutamente normal, é o desejado, que aos 12, 13 anos, uma menina diga: sou HOMEM;  e um menino diga: sou MULHER.]

Mas é exatamente esta propaganda que é tão atraente: uma nova sociedade está sendo estabelecida pelo EI, um tipo de utopia islâmica em que muçulmanos sunitas podem viver supostamente felizes e em paz, sendo governados por líderes que lhes dão segurança e os serviços públicos básicos como água potável, luz, escolas e hospitais de graça. Para fazer isso, o EI usa todos os meios de comunicação modernos como a internet, redes sociais e vídeos mostrando a vida boa em seus territórios. O grupo também divulga vídeos horríveis, os mais recentes, esta semana, mostrando 15 supostos traidores sendo mortos por afogamento e em explosões. Essas imagens bárbaras e sádicas me lembram aqueles filmes americanos de horror em que um grupo de jovens é capturado por criminosos diabólicos, que começam a matar cada um de um jeito mais pervertido e horrível do que o outro. Esses vídeos servem, infelizmente, para atrair os mais violentos e instáveis entre os muçulmanos. 

Então, o que fazer para combater isso? Os americanos têm tentado monitorar as redes sociais e bloquear as contas do EI e dos seus seguidores mais assíduos no Twitter e no Facebook. Isso é um bom primeiro passo, mas está longe de poder deter a vantagem ideológica que o EI ainda exerce sobre as mentes de muitos muçulmanos. Usar humor contra esses extremistas é uma ótima estratégia, como já vimos no Iraque e agora na Arábia Saudita, onde o comediante famoso Nasser al-Qasabi estreia numa série cômica chamada “Selfie”, em que ele zomba dos excessos mais notórios do EI, como manter mulheres como escravas sexuais. Por isso, ele já recebeu muitas ameaças de morte, mas não se curva diante de tais perigos, dizendo numa entrevista recente que é um artista e está usando sua arte para combater as ideias nefastas do EI.

O que mais podemos fazer para contrariar a mensagem violenta e preconceituosa do EI? Os acadêmicos americanos Jessica Stern e J.M. Berger, autores do livro “Estado Islâmico: Estado de terror”, num artigo na revista “Time” em março 2015 propuseram um plano de seis pontos para contra-atacar a propaganda do EI:
1 — Parar de exagerar a invencibilidade do EI;
2 — Amplificar as histórias de ex-mulheres de jihadistas que ficaram desencantadas e voltaram para seus países de origem;
3 — Desafiar as interpretações torpes das leis islâmicas pelo EI, usando contra-argumentos religiosos para atingir os possíveis recrutas do grupo antes de eles trocarem de lado;
4 — Realçar a hipocrisia do EI, de, por um lado, matar a pedradas mulheres adúlteras; do outro, estuprar mulheres capturadas em batalha;
5 — Documentar e divulgar a violência do EI contra outros sunitas que se negam a cooperar com o grupo. Enquanto o grupo não tem escrúpulo algum em mostrar a violência horrível que empregam para matar xiitas e yazidis, nunca mostra o que faz contra seus próprios irmãos sunitas que não lhe obedecem;
6 — Fechar sumariamente as contas deles nas redes sociais do grupo. Os pesquisadores americanos sustentam que isso tem efetivamente limitado a projeção da propaganda do EI.

Se fizermos tudo isso de um jeito metódico e constante, veremos resultados bastantes cedo. Não basta bombardear diariamente o EI e esperar que isso acabe com eles. Mais do que tudo, essa é uma guerra psicológica, e uma guerra assim nunca foi ganha somente com violência e força bruta.

Por: Rasheed Abou-Alsamh é jornalista