Foi a popularidade cair e o número de pessoas favoráveis à vacinação aumentar, que Bolsonaro mudou o discurso. Não era ele que não acreditava em pesquisa?
A sexta-feira, 26, começou com o governador João Doria ao vivo nas televisões e rádios anunciando a boa nova. O Instituto Butantan desenvolveu uma vacina totalmente nacional, a Butanvac, e avisou que entraria hoje mesmo com um pedido de autorização da Anvisa para os testes em humanos.
À tarde, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Telecomunicações, Marcos Pontes, ladeado pelo da Saúde Marcelo Queiroga, anunciou que o Ministério entrou na quinta, 25, com um pedido na Anvisa para os testes clínicos de uma vacina que ele nem soube bem explicar o que era.Ou seja, o presidente Jair Bolsonaro resolveu entrar de vez na narrativa da vacina. Como o país já está acostumado, ele demorou muitos meses para entender o óbvio: que a vacinação e a recuperação da economia andarão de mãos dadas nesta crise interminável. Na verdade, ainda há dúvidas se entendeu. Mas tenta correr atrás dos fatos. Bolsonaro manteve o ataque às medidas restritivas, sempre com o temor de que a economia retrocedesse muito e que o desemprego aumentasse. Isso é sempre fatal para um governo. Primeiro vem a crise econômica, depois agrava-se a política. Não tem muito tempo e vimos como acabou sendo fatal para o governo Dilma Rousseff. Não houve só uma questão ideológica envolvida, mas um cálculo eleitoral. A preocupação com a reeleição é a obsessão número 1 do presidente e de seus aliados mais próximos.
O presidente tem o direito de buscar fazer política. Mas sua aposta contra os adversários levou ao agravamento da tragédia sanitária com 300 mil mortos. Foi só a popularidade dele cair e o número de pessoas favoráveis à vacinação aumentar na pesquisa, que Bolsonaro mudou o discurso.Doria já venceu esta narrativa. O governador sempre bateu na tecla da vacinação e da ciência. E nesse momento, nove em cada dez pessoas vacinadas no Brasil receberam a Coronavac que foi atacada violentamente pelo presidente Bolsonaro. E mais: as famílias comemoram quando os seus mais velhos são vacinados. Muita gente na rede social agradece ao Butantan, à Ciência. A guinada no discurso do presidente – depois do jacaré e outras inacreditáveis asneiras, ele afirmou que 2021 seria o ano da vacinação no Brasil – veio somente, vejam vocês, após uma pesquisa de opinião. Mas não era o presidente que não acreditava nelas?