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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Dinheiro na fita

Joesley: “Só essa partezinha da fita do Ciro... Só a partezinha de que vai derrubar a Lava-Jato.” Ricardo: “Podemos falar: Ó, tem um vídeo... Dando dinheiro pra ele”

O gelo tilintava nos copos. Bebiam, comiam e gravavam a conversa sobre a compra de políticos, entre eles o senador piauiense Ciro Nogueira, presidente do Partido Progressista, e o ex-deputado paulista Valdemar Costa Neto, que controla o Partido da República (PR).  O empresário Joesley Batista ria ouvindo o executivo Ricardo Saud falar sobre um suborno de R$ 45 milhões ao senador Nogueira, em março passado, no Rio:
— Falei: “Olha, não pega o dinheiro da Odebrecht, não. O Antonio Carlos veio aqui e me contou, que estão pagando lá no exterior. E que o Valdemar Costa Neto está recebendo no exterior”.

Ricardo Saud não identifica “Antonio Carlos”, mas as circunstâncias sugerem ser Antonio Carlos Rodrigues, ex-senador paulista e ex-ministro de Dilma Rousseff. No papel, Rodrigues é presidente do PR. Na vida real, é um escudeiro de Valdemar Costa Neto.
Valdemar, conhecido como “Boy”, é quase uma lenda no submundo da política. Coleciona seis mandatos de deputado por Mogi das Cruzes (SP), além de duas renúncias.  Uma foi em 2005, quando foi acusado de corrupção no mensalão. Na época, sua mulher contou no Congresso como ele havia recebido R$ 40 milhões do PT, e embolsado R$ 10 milhões.

Outra foi em 2013, quando sentenciado por corrupção e lavagem de dinheiro a sete anos de prisão com multa de R$ 1,6 milhão sobre um patrimônio declarado de R$ 2,5 milhões.  Passou um ano no Presídio da Papuda, em Brasília, atual endereço da dupla Joesley e Ricardo. Da cela, Valdemar conduziu o PR na eleição de 2014 auxiliado por Rodrigues.

No fim de 2014, quando o Supremo o mandou à prisão domiciliar, já comandava uma bancada de 38 deputados e quatro senadores do PR. Dilma Rousseff deu-lhe o Ministério dos Transportes. Valdemar indicou Rodrigues.  Ciro e o PP, Valdemar e o PR são onipresentes nas principais investigações sobre corrupção na última década e meia — do mensalão às fraudes em agências reguladoras; das propinas da Odebrecht às da JBS, entre outros.

Ciro acaba de ganhar de Michel Temer a estratégica secretaria do Cade, onde são decididas fusões, aquisições e incorporações entre grandes empresas, além de bilionários acordos de leniência como os da Odebrecht e da JBS.  “Boy”, enquanto isso, se dedica a uma nova empreitada: a construção de mais um partido. Nos próximos dias a Justiça Eleitoral deve autorizar o “Muda Brasil” de Valdemar a funcionar. Será o 36º partido político. Ele já tem o PR, que recebe R$ 48 milhões anuais via Fundo Partidário, receita equivalente à de uma empresa de médio porte. É dinheiro público, sem risco, e com acesso ao rádio e à televisão garantido por lei durante as eleições.  — Essa turma não está em outro planeta? — perguntou Joesley Batista a Ricardo Saud, na auto delação gravada de seis meses atrás, agora em poder do Supremo. — Pai do céu. Que dois mundos diferentes, né?

Ironizou:
— Ricardo, se “nós mostrar” só essa partezinha da fita do Ciro, sem as outras putarias... Só a partezinha de que vai derrubar a Lava-Jato... Nossa senhora... Já pensou?
O executivo começou a rir:
E nós ainda podemos falar o seguinte: “Ó, tá aqui, olha, tem um vídeo... Dando dinheiro pra ele.”

Fonte: José Casado - O Globo

quarta-feira, 8 de março de 2017

O mundo de Ciro & Benedito

Suspeitos de corrupção, como 46% da bancada do PP, manobram para aprovar autonomia aos chefes de partido sobre R$ 819 milhões do Orçamento da União

O mundo parece ser melhor do que é, pelo menos para os senadores Ciro Nogueira, piauiense de 48 anos, e Benedito de Lira, alagoano de 74 anos. Estrelas dos primeiros episódios das denúncias contra parlamentares apresentadas ao Supremo nos últimos dois anos, sentem-se quase invisíveis sob a poeira da avalanche dessa história de corrupção sem fim.

Ciro preside o Partido Progressista, Benedito chefia o diretório em Alagoas. São responsáveis, em parte, pela alquimia do PP numa singular organização política: com apenas 23 anos de existência, já tem 26 parlamentares cassados, e exibe um rico histórico de sócio-fundador do mensalão e da Lava-Jato em parceria com o PT. Ontem, 46% da bancada do PP no Congresso estavam sob investigação. Significa que 21 dos 45 deputados e senadores do PP são candidatos à nova lista de denunciados que o procurador-geral Rodrigo Janot anuncia para breve.

Mesmo soterrados por inquéritos sobre corrupção, Ciro, Benedito e o PP manobram no Senado para realizar uma nova e milionária apropriação de recursos públicos.  O objetivo, desta vez, é aprovar um projeto de lei que garanta plena autonomia às cúpulas dos partidos na distribuição privada dos R$ 819 milhões do Fundo Partidário. Essa montanha de dinheiro, extraída do Orçamento Geral da União, equivale à soma de tudo que o Ministério Público e a Justiça Federal já conseguiram repatriar via acordos de colaboração em três anos da Operação Lava-Jato.

Caciques como Ciro e Benedito passariam a ter liberdade total no manejo dessa dinheirama, dentro dos seus partidos, independentemente das rarefeitas e suaves punições da Justiça Eleitoral por mau uso dos recursos arrecadados diretamente no bolso dos contribuintes.
Na maioria das vezes, a sanção aplicada ao desvio desse dinheiro público limita-se à devolução à União. Não chega a ser punição, lembra Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas: “Isso é o mesmo que punir o assaltante de banco só com a devolução do dinheiro roubado.”

O projeto está pronto para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Essa forma de apropriação de recursos orçamentários e sua partilha baseada em critérios particulares, na prática, dão caráter institucional à engrenagem que está na raiz do mensalão, além de estimular a proliferação de partidos (há 35 registrados e outros 40 na fila do Tribunal Superior Eleitoral).

O texto é de Ciro. O relatório, favorável, é de Benedito. Autor e relator foram mensaleiros no caixa de corrupção das empreiteiras entre 2010 e 2014. Ciro tomava supostamente para cobrir “despesas médicas”, Benedito levava para repassar a um “agiota pernambucano” relata a procuradoria-geral.

Ambos costumam passear sorrindo, sem preocupação, pelo tapete azul-celeste do Senado. Talvez apostem, como outros, no congestionamento visível do outro lado da Praça dos Três Poderes. O Supremo já acumula 357 inquéritos e 103 ações penais contra parlamentares. Vai receber mais uma centena nas próximas horas da Lava-Jato. Um em cada três processos de políticos com mandato tem perdurado uma década sem julgamento no STF. Talvez seja essa a razão para se achar o mundo melhor do que ele é.

 Fonte: José Casado, jornalista