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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

E assim vai a economia - O Globo


Reformas virão mais por necessidade do que por virtude. Todo mundo já percebeu que o sistema tributário é ruim

Mostre os dados econômicos a um estrangeiro não versado em assuntos brasileiros, e ele dirá algo assim: o crescimento está abaixo do necessário, mas sem dúvida há boas chances de aceleração. E estará mais certo do que errado.
Mas se o gringo perguntar — e a política? e a capacidade de gestão do governo? — ficará em dúvida. E de novo, estará mais certo que errado.


E o que podemos dizer, nós, brasileiros, para nós mesmos? Que, de fato, há um risco político. O cenário econômico melhorou muito com a aprovação da reforma da Previdência. Não apenas porque a reforma afastou o risco de colapso das contas públicas, mas porque mostrou a capacidade do sistema político de aprovar medidas complexas em tempo relativamente curto. Podem questionar: curto? São 30 anos de debate dessa reforma. Verdade, mas a coisa andou em poucos meses com este novo governo e novo Congresso. Aqui a mudança crucial. 

Reparem: o presidente Bolsonaro anda às turras com seu próprio partido e com lideranças da base que se elegeu com ele. A reforma da Previdência e todas as que são necessárias na sequencia dependem de votos qualificados na Câmara e no Senado. Ou seja, as coisas só andaram e só vão andar se lideranças do Congresso assumirem as reformas. A nova agenda pré-anunciada pelo ministro Guedes é extremamente ambiciosa. Propõe uma reforma radical no sistema público brasileiro, em todos os níveis. Exige a aprovação de emendas constitucionais, além de ampla legislação ordinária.

Tudo isso com o presidente Bolsonaro querendo ou mudar de partido ou formar um novo. E sem ter organizado uma base parlamentar. Certo, mas não foi em circunstâncias assim que passou a reforma da Previdência? Por que o processo não pode se repetir? A resposta nos meios econômicos, nacionais e internacionais, é que pode, sim, se repetir. 

O risco Brasil (medido pelo Credit Default Swap, seguro contra calotes) estava no início da semana em 117 pontos. Isso significa que os compradores que adquirem títulos do governo brasileiro acham que a chance de um calote é inferior a 2%.
De onde tiram isso? Da firmeza da equipe econômica em implementar o ajuste das contas públicas. E mais: inflação muito baixa, e com jeito de persistentemente baixa. O que permite esperar taxas de juros cada vez mais baixas, por um longo período. 

A notar: com juros baixos, cai a despesa financeira do governo. E se estimula a expansão do crédito para pessoas e empresas. Por isso, também, a Bolsa está em alta. Empresas têm colocado cada vez mais ações no mercado, obtendo assim financiamento saudável para novos investimentos.  E aqui aparece uma dúvida. Por que ainda não decolaram os investimentos na economia real? Em novas fábricas, infraestrutura, construção civil?

Eis a diferença: no mercado financeiro, posições podem ser formadas e desmanchadas muito rapidamente. Na economia real, iniciar um novo negócio, ampliar o atual, depende de confiança em futuro razoavelmente longo. É isso que ainda não tomou embalo. Há, porém, um poderoso instrumento: as privatizações e concessões, a começar pelo megaleilão do pré-sal. Sabem como é, negócio puxa negócio, um poço de petróleo demanda um monte de equipamentos e gente.Tudo considerado, está aí a variável-chave, se admitido que a reforma do setor público tomará seu curso, ainda que não tão ambiciosa como pretende o ministro Guedes. 

Investimentos de peso, necessariamente privados, já que o governo está cortando gastos, dependem de um maior grau de confiança.
Aqui entra a política.
Essas crises e confusões criadas e/ou estimuladas pelo presidente Bolsonaro têm sido relativamente ignoradas. O pessoal acha que até aqui não tem nada que ameace o mandato. E acredita que reformas virão mais por necessidade do que por virtude. Por exemplo: todo mundo já percebeu que o sistema tributário é ruim para todo mundo. Logo, algo deve sair e, como é impossível piorar, deve ajudar as empresas.
É mais ou menos assim o espírito geral. Serve para acelerar a recuperação. Mas não aceita muitos desaforos seguidos.
A ver.
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Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo - Opinião

 

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Estilo prejudicial à economia - Míriam Leitão

O Globo

Bolsonaro tem estilo ruim para a economia

O estilo de o presidente Jair Bolsonaro governar afeta a economia negativamente. Ele é um governante sem foco na agenda positiva e obsessivo em criar conflitos. Isso aumenta a desconfiança do investidor da economia real, que já está retraído por causa do longo período de crise. E é desse investimento que o país precisa para sair do marasmo em que está. Para piorar, o governo americano de Donald Trump voltou a ativar o confronto comercial com a China, derrubando bolsas no mundo. Em apenas três dias, o dólar saltou de R$ 3,76 para R$ 3,94, e a bolsa brasileira voltou a operar abaixo dos 100 mil pontos.

Os fatores que levaram à inversão da alta da bolsa e à subida do dólar são externos, mas essa mudança recente de cenário mostra que o Brasil tem que criar as condições locais para sair da crise. É balela a ideia de que a economia possa ser um oásis num governo errático e conflituoso. O presidente não tem a retomada econômica como prioridade. Isso evidentemente aumenta a desconfiança dos investidores e mantém o nível de atividade acanhado.  O investidor que procura risco não se importa com volatilidades e incertezas. Até gosta. Ele faz suas apostas, a bolsa sobe e cai, e ele ganha nos dois movimentos, se for ágil. Recentemente a bolsa subiu, mas a economia continuou morna. E isso se vê nos pequenos dados. Uma pesquisa que vai ser divulgada hoje pela Boa Vista SCPC projeta um crescimento de no máximo 1,5% na venda do comércio no Dia dos Pais no próximo domingo. Menos do que os 2,8% de 2018. Este ano até agora foi uma decepção. As projeções de crescimento foram sendo reduzidas semana após semana. Os indicadores setoriais têm, de vez em quando, um número positivo no costumeiro mar de dados negativos 
[Há uma série de números positivos, que são divulgados  com o menor destaque possível, enquanto os negativos a imprensa maximiza a divulgação.
O que torna o governo Bolsonaro errático é além de uma tendencia natural, o empenho do Congresso em se destacar.

Exemplo:
- qual o motivo de fazer um 'cavalo de batalha' a respeito de qual ministério fica com o Coaf e com a Funai - seja com o ministério 'a' ou 'b', os dois órgãos ficarão subordinados ao presidente Bolsonaro.
Mas, o negócio é pisotear o governo do capitão - sabem que ele pe estilo explosivo e fácil de aceitar provocações.

O STF também não ajuda.
Exemplo:
No caso da MP que o Congresso rejeitou e Bolsonara reeditou parcialmente - fato corriqueiro, ocorre com frequência   desde o governo Sarney, o Parlamento rejeita uma MP e dias depois o presidente envia parte do rejeitado embutido em outra, o presidente do Senado (isto naquela época em que o Legislativo e o Judiciário não tinham interesse em tirar uma casquinha no Executivo - agora com Bolsonaro, a regra é: surgiu uma oportunidade de  mostrar quem manda, qualquer um dos poderes aproveita, ou os dois, começando pelo 'primeiro-ministro' Maia -) devolvia sem alarde, apontando a fundamentação da devolução e o assunto se encerrava.
Agora o Supremo resolveu julgar um 'jogo jogado', reativando o 'conflito' que já estava resolvido pela devolução da MP pelo Senado. ]

O investidor que ajudará na retomada é o que faz planos de longo prazo. Esse precisa de boas oportunidades, regras estáveis, ambiente positivo para construir os cenários benignos nos quais ele deslanchará seus investimentos. Por estilo e estratégia, o presidente Bolsonaro cria vários conflitos simultâneos, atira a esmo, estressa o tecido social do país e aflige as instituições. E ele acha que o investidor, nacional e estrangeiro, não vai se importar com isso porque não é economia? É um erro grosseiro de avaliação. Tudo tem repercussão na economia. A visão fracionada da conjuntura só faz sentido nas análises econômicas alienadas. A realidade está interligada.

A defesa que o presidente faz dos crimes cometidos pelo governo ditatorial é sobretudo uma estupidez. Primeiro, porque todo esse debate está caduco, é do século passado. O país já fez sua escolha há mais de três décadas, quando o último general saiu pela porta dos fundos do Planalto. [convenhamos que a opção em 1985 pela Nova República foi o passo inicial do desastre, da institucionalização da corrupção e que resultou no Brasil que aí está;

para completar, o presidente Temer tentou consertar o que era possível e conseguiu algum êxito - muito pouco, já que o PGR da época, se empenhou em acusar o presidente e assim atrapalhando alguns bons resultados
A propósito quando o Supremo vai homologar a delação dos açougueiros de Anapólis? um deles, peça chave nas acusações que impediram Temer de entregar ao presidente Bolsonaro um país bem melhor do que que recebeu da Dilma.] Segundo, porque a democracia dá mais segurança ao investidor de que não haverá decisões arbitrárias e de que se houver contenciosos ele poderá defender seus direitos. [a democracia não é essencial para o progresso econômico de um país. A China não é democrática e seu capitalismo é exitoso.
Um dos fatores essenciais para o crescimento econômico de uma nação é o investidor se sentir seguro e para tanto é necessário um governo forte, as vezes a democracia atrapalha. Vale o provérbio: 'Panela que muitos mexem, ou sai insossa ou salgada'.]

Neste momento alguns bons sinais apareceram. A reforma da Previdência foi aprovada em primeiro turno, o Credit Default Swap (CDS), que indica o custo cobrado para se contratar seguro em relação ao risco-país, caiu a um nível baixo, o desemprego teve uma queda, pequena e sazonal, mas houve criação de emprego. Hoje o Copom vai divulgar a sua ata e nela deve indicar que novos cortes de juros virão. A redução dos juros não terá efeito prático se não chegar na ponta, se os bancos não se sentirem seguros para emprestar, e se o presidente da República continuar sendo a maior fonte de insegurança institucional do país.

Bolsonaro ofende os valores do país com seu saudosismo da ditadura que já demonstrou diversas vezes, como no ataque à memória de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB. Ele coloca em risco o patrimônio natural brasileiro com sua tresloucada política ambiental. Ele mente sobre eventos da história e sobre fatos presentes. Ele acirra a divisão da sociedade. Tudo isso tem o efeito de aumentar a probabilidade de um cenário turbulento. E é exatamente de cenários de conflitos e de ruptura que os investidores fogem. O estilo do presidente é nefasto por razões políticas e sociais. Mas é ruim também para a economia porque compromete as expectativas de recuperação.

Coluna Míriam Leitão - Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo