“Dilma encastelada"
Logo no
início da semana passada Dilma decidiu,
junto com a sua entourage de assessores, que não entraria nos lares brasileiros neste 1º de Maio
para, digamos, evitar assim o pior. Foi mais um passo atrás na missão
que lhe foi delegada pelas urnas de comandar o País e de ser a voz pacificadora
dos ânimos dos brasileiros. Dia a dia, em
meio a enorme resistência ao seu governo e a queda acentuada de popularidade,
a presidente vai
se recolhendo ao casulo do poder, dando demonstrações claras de que se sente
acuada. Ela não tem mais interlocução direta com o Legislativo. O
faz através de seu vice, Michel Temer, a quem delegou a articulação política.
Do mesmo modo, repassou a missão de negociações com empresários e banqueiros
para o seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
E, praticamente encastelada no Planalto, resolveu agora evitar o diálogo direto com a sociedade em geral. Essa é a primeira vez, desde que
assumiu em 2011, que ela decide não
fazer o tradicional discurso à Nação, em cadeia de rádio e televisão, no Dia do Trabalhador. Suprema ironia para
uma mandatária filiada ao Partido dos Trabalhadores e sinal evidente
de que o clima não anda nada bem na corte brasiliense.
O temor de vaias, panelaços e buzinaços, como ocorreram em seu
último discurso em rede nacional, por ocasião do Dia da
Mulher, falou mais alto. Dilma está com
medo do povo e o próprio PT acha que ela se acovardou
ao resolver não discursar. O tradicional pronunciamento do presidente à Nação foi instituído por
Getúlio Vargas, ainda nos idos de 1939, e desde então virou praxe. Antes, o 1º
de Maio era basicamente uma festa de protestos e Getúlio resolveu quebrar com a escrita. Passou a buscar, nesse dia
comemorativo, o contato com a massa, falando em estádios para milhares de
espectadores sobre as perspectivas do País. E
começava sempre com o epíteto: “Trabalhadores do
Brasil”.
[Getúlio participou de mais de dez ‘primeiro de maio’, em todos se expôs
discursando ao vivo para milhares de pessoas e nunca foi vaiado.
Diferença insignificante, mas básica
entre a ‘cérebro baldio’ e o ‘pai dos pobres’]
Dilma, por sua vez, ficou desta feita receosa de
falar em público. E por
razões concretas. Seu vice, Michel Temer, dias antes, havia ouvido os apupos e
teve de cancelar o seu discurso durante a abertura da feira Agrishow, em
Ribeirão Preto, quando participantes
voltaram a se manifestar com o “Fora Dilma”.
O
prefeito petista, Fernando Haddad, durante uma
aula magna que ministrava na capital paulista, passou pela mesma experiência.
Viu sua sala ser invadida por adversários dele e de Dilma, que gritavam
palavras de ordem, exigindo mais políticas públicas do governo.
Com mais esses
episódios, a
presidente achou por bem se preservar. Uma tática perigosa, que para muitos
sinaliza uma lacuna de poder. Nos
últimos tempos, Dilma só tem ido a
eventos com segurança reforçada e claque organizada. Não aparece em locais
com grandes aglomerações e está marcando encontros sempre reservados com seus
interlocutores, como ocorreu com o ex-presidente Lula, na segunda-feira, 27, em
uma tratativa propositadamente omitida da agenda oficial. O mesmo aconteceu com a reunião ministerial
marcada para um sábado, a portas fechadas, algo fora dos padrões.
O
senador Renan Calheiros, em mais uma alfinetada na presidente, disse que o
Brasil vive “um governo adolescente”.
E ainda pontificou sobre os medos da chefe da Nação: “A presidente está tendo dificuldades de falar
no 1º de Maio porque a conta do ajuste não pode ir para o trabalhador”. Com ataques e insatisfações vindas de todos os lados,
Dilma parece estar mesmo naquela situação de quem reina, mas não governa.
Fonte: IstoÉ – Editorial