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segunda-feira, 14 de março de 2016

O Brasil acordou disposto a decretar o impeachment nas ruas. E foi dormir feliz



Nunca antes neste país tanta gente manifestou-se no mesmo dia nas ruas de tantas cidades para gritar as mesmas palavras de ordem. Neste 13 de Março de 2016, a maior mobilização política ocorrida desde a chegada das primeiras caravelas anunciou o fim da Era da Canalhice inaugurada há mais de 13 anos pela ascensão do cleptopopulismo.

O coro das multidões decidiu sepultar em cova rasa ─ e já ─ o governo que pariu e amamentou a maior conjunção de crises de todos os tempos. O impeachment da presidente da República, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, foi decretado nesta tarde. Resta ao Congresso descobrir que todo o poder emana do povo, e cumprir a ordem berrada em quase 500 pontos do território nacional: Fora Dilma!  E chega de PT.

Respirando por instrumentos, Lula resolveu desafiar os ofendidos a enfrentá-lo nas ruas. Péssima ideia. Enquanto uma plateia de circo mambembe se juntava diante do prédio onde mora em São Bernardo, mais de 3 mil pessoas protestavam em frente do edifício no Guarujá que abriga o triplex com mais bandidagens por metro quadrado do planeta. O campeão mundial de bravata & bazófia amargava em casa a derrota transmitida ao vivo pela TV.

Lula teve de engolir, entre outros golpes no queixo, o entusiasmado endosso aos condutores da Operação Lava Jato. A sórdida campanha difamatória movida contra Sergio Moro foi silenciada pelos rugidos de solidariedade ao juiz sem medo. Centenas de milhares de vozes recomendaram a Lula que se prepare para trocar discurseiras de comício por depoimentos em tribunais ─ e, pelo andar da carruagem, o palanque pela cadeia.

Nada mais será como antes, atestam . A contemplação da Avenida Paulista curou o estrabismo dos doutores em miudezas políticas, que subitamente começaram a ver as coisas como as coisas são. O Datafolha segue promovendo amputações que mantêm a contagem de cabeças abaixo do milhão visível a olho nu, mas já ensaia o recuo. Por exemplo: dobrou a meta atingida em março de 2015.

Os degoladores de manifestantes também admitiram que, na hora do crepúsculo, foi enfim superado o recorde estabelecido na campanha das Diretas Já. Se não demitiram a sensatez e o instinto de sobrevivência, os cardeais do Legislativo e do Judiciário ficarão mais espertos. E farão com que tudo ande bem mais rapidamente. Neste domingo, as vítimas da corrupção e da incompetência acordaram decididas a fazer História. Os embusteiros perderam o sono. O Brasil decente foi dormir feliz.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Golpe às ruas



Ao contrário dos movimentos sociais oficiais, patrocinados com dinheiro público, os milhares que vão as ruas neste domingo não têm tutela de ninguém
Dilatação do prazo para o julgamento das pedaladas fiscais, pedido de vistas protelatório no TSE, manifestações de apoio, Agenda Renan. Acertados por debaixo do pano, os arranjos da semana passada foram um alento à presidente Dilma Rousseff. Mas não parecem ser suficientes para dar fôlego ao seu governo, rechaçado por 71% da população. Os ares das ruas – com panelaços e manifestações - que o digam.

Ao contrário dos movimentos sociais oficiais, patrocinados com dinheiro público, os milhares que vão as ruas neste domingo não têm tutela de ninguém. Nem a mesma palavra de ordem previamente ensaiada. Seus gritos de Fora Dilma, Fora PT traduzem uma gama de insatisfações. Do caos econômico ao desemprego, dos privilégios de alguns aos conchavos para proteger os mesmos de sempre. Reagem à roubalheira, aos saqueadores do Estado.
Repudiam a corrupção. Algo que em instante algum se ouviu dos líderes do MST, CUT, UNE e outras entidades no convescote do Planalto, quinta-feira, apelidado de Diálogo. Para eles, que prometem defender com unhas, dentes e até armas qualquer tentativa de “golpe”, que só eles enxergam, Mensalão não existiu, Lava-Jato é invenção, José Dirceu não está preso, Dilma não era ministra e presidente do Conselho da Petrobrás quando a roubalheira tomou conta da estatal. Lula não era presidente da República.

Um mês antes do início da Lava-Jato, em fevereiro de 2014, a Petrobras fechou, sem licitação, contrato de patrocínio do Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília. A estatal confirmou ter colocado R$ 650 mil no evento. Outros R$ 550 mil foram custeados pela Caixa e pelo BNDES.  Para as “margaridas” que ouviram os arroubos de Lula e Dilma no Mané Garrincha, Caixa, BNDES e Itaipu Binacional gastaram mais de R$ 850 mil.

Dinheiro pequeno perto de generosidade permanente com o MST, gestor de convênios de mais de R$ 200 milhões, de cuja prestação de contas não se tem notícia. Perde para a CUT, que de 2008, quando Lula incluiu as Centrais na partilha dos recursos do imposto sindical – um dia de trabalho de cada assalariado - para cá arrecadou mais de R$ 340 milhões. Recursos suficientes para custear muitas guerras.

A UNE abocanhou R$ 57 milhões para a reconstrução de sua sede, no Rio, e outros R$ 12,9 milhões em convênios questionados pelo TCU. Dinheiro público empenhado para cooptar movimentos sociais. Reconheça-se, que eles retribuem sempre que o governo solicita. Mas ainda pedem ajuda de custo – transporte e lanche – para formar a claque.  Descem a rampa interna do Planalto ao lado da presidente aos gritos de “não vai ter golpe” – como se o Palácio estivesse cercado por canhões -, rechaçam o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e Eduardo Cunha, pouco se lixando se ele preside a Câmara dos Deputados

Fazem tudo estimulados por Lula e o PT, sem qualquer reprimenda.
Sob o manto do diálogo, pregam o litígio. E chamam de golpistas quem vai às ruas. 
Em entrevista a Serginho Groisman nos tempos em que liderou movimentos pró-impeachment de Collor de Mello, Lula explicou aos jovens que a Constituição previa a destituição de um presidente. Foi mais longe: defendeu o recall do voto -seria a salvação da lavoura”.  Hoje, na sua doutrina impeachment é golpe.  Dilma respirou. Depende ainda de aparelhos, materializados em movimentos sociais pagos e políticos encrencados. Pode ir mais longe – ou não.

As dívidas dela com as ruas são maiores. Não adianta tentar golpeá-las.

Por: Mary Zaidan É jornalista. E-mail: zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan

Golpe às ruas 

Protesto contra o governo federal e o PT leva milhares às ruas em todo país - atos foram maiores que os de abril, mostrando viés de alta

Atos atraem 879 mil pessoas em 205 cidades; adesão é maior que em abril e menor do que março

As manifestações contra o governo federal e o PT levaram 879 mil pessoas às ruas neste domingo em pelo menos 205 cidades distribuídas por todos os estados brasileiros, além do Distrito Federal, de acordo com o G1. Nenhum incidente grave foi registrado. Em comparação aos atos de 12 de abril, os protestos deste domingo tiveram mais pessoas, mas menos em relação aos de 15 de março. 
 
No Rio e em São Paulo manifestantes começaram a aparecer pela manhã. Em São Paulo, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), 350 mil pessoas foram às ruas protestar neste domingo. O número é superior ao verificado no ato do dia 12 de abril, quando foi registrada a presença de 275 mil pessoas, mas inferior ao do protesto de 15 de março, que teve 1 milhão. Eles ocuparam pelo menos dez quarteirões da Avenida Paulista. Além de protestarem contra o governo federal, os manifestantes também marcharam em apoio às investigações da Operação Lava-Jato, que apura crimes de corrupção na Petrobras. O senador tucano José Serra circulou entre os manifestantes por cerca de uma hora, mas não discursou.

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No Rio, o comando policial declarou que não iria auferir público "por conta dos constantes desencontros do número estimado por organizadores e da própria PM". Na cidade maravilhosa, as cores da bandeira nacional deram o tom em faixas e camisetas, num ato que durou cerca de três horas. Assim como em São Paulo, o juiz Sérgio Moro também foi lembrado e elogiado, e um dos carros de som trazia uma faixa onde se lia “Je suis Moro” ("Eu sou Moro"). Outro assunto lembrado durante o protesto foi o julgamento das contas da campanha de Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Cartazes pediam aos ministros do TCU — que deram 15 dias para a petista responder sobre as irregularidades que reprovassem as contas de 2014 da presidente.
 
Com seis carros de som, a orla de Copacabana, na Zona Sul, foi tomada por manifestantes e chamou a atenção de turistas. Os argentinos Ramiro Rivas, de 41 anos, e Marcela Yranzo, de 39, ficaram boquiabertos diante da faixa pedindo intervenção militar. Hospedados no Othon desde sexta-feira, os turistas lamentaram a posição: - Esses perderam a cabeça. Mas é o que acontece quando as pessoas se cansam. Começam a pedir coisas que não fazem sentido - disse Rivas, fazendo fotos.


Ainda no Rio, houve confrontos entre críticos do governo e transeuntes que defenderam o governo do PT. O GLOBO flagrou três confusões desse tipo, em que os que se posicionavam a favor do governo Dilma tiveram que sair escoltados do local por policiais militares. Em Brasília, um boneco inflável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário foi levado para o ato. Além disso, uma cela improvisada trazia bonecos de papelão identificados como José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), João Vaccari Neto (ex-tesoureiro do PT), Nestor Cerveró (ex-diretor de relações internacionais da Petrobras), Lula e Dilma. A noite, o Instituto Lula enviou nota afirmando que o ex-presidente foi preso na ditadura "porque defendia a liberdade de expressão e organização política". Ainda segundo o texto, "o povo brasileiro sabe que ele só pode ser acusado de ter promovido a melhora das condições de vida e acabado com a fome de milhões de brasileiros, o que para alguns, parece ser um crime político intolerável. Lula jamais cometeu qualquer ilegalidade antes, durante ou depois de seus dois governos", termina o texto. 

De acordo com a PM, 25 mil pessoas foram até a sede do governo com cartazes que pediam a saída de Dilma da Presidência. O número de manifestantes, no entanto, não surpreendeu o governo. Durante a semana, auxiliares de Dilma vinham monitorando as redes sociais para ter uma dimensão dos protestos. A avaliação era de que a pacificidade e o tamanho das manifestações garantem um ambiente mínimo de estabilidade política. O Palácio do Planalto está tratando dos protestos como algo "normal" e democrático". A orientação dada aos integrantes do governo é evitar qualquer tipo de provocação.

Apesar do pedido, parlamentares petistas estão tratando dos protestos que ocorrem em todo o país como "CarnaCoxinha", caso do senador Humberto Costa (PT-PE), que usou o Twitter para publicar uma foto de manifestantes de Minas Gerais dizendo "Não adianta isolar o Cunha. Hoje somos milhões de Cunhas". De legenda da foto, Costa escreveu: Resumo do "CarnaCoxinha".

Por volta das 15 horas, sob chuva fraca e temperatura próxima de 2º graus, cerca de 20 mil pessoas se reuniram no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Nas redes sociais, o ato teve a adesão de 66 mil pessoas. O saldo final foi de 30 mil. A adesão foi inferior às manifestações contra o governo de março e abril. A marcha foi acompanhada por 400 policiais militares, segundo o Comando de Policiamento da Capital. O ato iniciou no Parque Moinhos de Vento e se deslocou até a sede da Polícia Federal, distante cerca de 4 quilômetros. A maioria dos manifestantes gaúchos ostentava cartazes pedindo o impeachment ou a renúncia da presidente. Outros ainda defenderam a volta da monarquia, uma intervenção militar constitucional e menos impostos.

Não houve em Porto Alegre, no entanto, referências ao governador José Ivo Sartori (PMDB), que atrasou salários do funcionalismo público em julho e promete enviar à Assembleia, ainda esta semana, um pacote com elevação da carga tributária. Ainda na capital gaúcha, um evento contrário ao impeachment de Dilma Rousseff, chamado de "Coxinhaço", também está previsto para ocorrer neste domingo à tarde, no bairro Cidade Baixa. Em Maceió, o ato contra o governo Dilma reuniu 12 mil pessoas. Os manifestantes passaram pelo edifício do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em Ponta Verde, bairro nobre da cidade, onde lavaram as calçadas. Os gritos de "Fora Renan", "Desce Renan" e "Xô corrupção" ganharam força a medida que os manifestantes chegavam perto da casa do senador.

No protesto paulista, a preocupação era com possíveis desdobramentos violentos. Em frente ao Instituto Lula, em São Paulo, manifestantes ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) começaram a chegar para fazer vigília de apoio ao ex-presidente. Uma viatura da PM manteve uma escolta no prédio, que semanas atrás foi alvo de uma bomba. Em Belo Horizonte, seis mil pessoas se concentraram na Praça da Liberdade. Em rápida passagem pelo local, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu o fortalecimento das instituições e disse que “não importa o tamanho da manifestação, porque a indignação hoje é enorme”. Aécio chegou a ser carregado e chamado de presidente por parte dos manifestantes.
Em Salvador, cerca de cinco mil pessoas participaram do ato no Farol da Barra. Em Curitiba 60 mil pessoas foram às ruas. A marcha na capital paranaense começou no início da tarde no Centro, e terminou por volta das 17h.

BANDEIRA CONFECCIONADA EM UMA SEMANA

Maurício Bento, 24 anos, coordenador do Movimento Brasil Livre, informou que a bandeira "Impeachment Já!", vista em atos em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife e Porto Alegre possui 100 metros de comprimento por 5 metros de largura. Segundo o coordenador, a bandeira foi feita em uma semana pelos integrantes do movimento. - Tivemos a ideia de fazer a bandeira com a palavra impeachment, porque a marcha é pelo fora Dilma. Alguns jornalistas diziam que a demanda não estava clara. Então fizemos essa bandeira. A gente quer que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, coloquem o pedido de impeachment em votação - declarou.

PROTESTO É UM TERMÔMETRO PARA O PLANALTO
A presidente Dilma Rousseff recebeu no início da noite de hoje, no Palácio da Alvorada, um grupo pequeno de ministros, entre eles Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e José Eduardo Cardozo (Justiça) para avaliar os atos pelo país. 

Mais cedo, os três ministros já estavam na Esplanada dos Ministérios acompanhando a manifestação. Em nota curta, o ministro Edinho Silva falou em normalidade:  - O governo viu as manifestações dentro da normalidade democrática - afirmou.

 As manifestações foram impulsionadas pela crise econômica, pela convulsão política que toma conta de Brasília e, sobretudo, pelas denúncias de corrupção ligadas à Operação Lava-Jato. Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), Revoltados OnLine e o Vemprarua.net mobilizaram as redes sociais nas últimas semanas para encher as ruas com brasileiros que estão descontentes com os rumos do governo federal.

 As manifestações vão servir como termômetro para o Planalto e a oposição definirem os próximos passos no xadrez da crise política. Após uma semana em que o governo Dilma reagiu e obteve algumas vitórias, como o adiamento do julgamento pelo TCU das contas de Dilma e a reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros, a mobilização popular mostrará quem hoje está mais forte.

Fonte: O Globo