Apenas com meia dúzia de frases,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, sepultou, ontem à noite, a esperança do governo da presidente Dilma
Rousseff na aprovação mais ou menos rápida do pacote de ajuste fiscal que
sequer ainda encaminhou ao Congresso. Deverá fazê-lo até a próxima
sexta-feira.
Eduardo
disse que não haverá tempo para que se vote o pacote na Câmara até o final do
ano. “Há que se respeitar o rito”,
ensinou. “E ele prevê várias etapas para
o exame das medidas do pacote em várias comissões técnicas”. A votação em
plenário ficará para fevereiro do próximo ano, quando o Congresso voltará do
recesso.
Embora não admita, em menos de 24 horas
depois do anúncio do pacote o governo concluiu que a maior parte do seu
conteúdo deverá ser rejeitada pelo
Congresso. Aumento de impostos ou a
recriação da CPMF, imposto sobre transações financeiras, nem pensar. A oposição não quer e
nem mesmo o PT.
Por
encomenda do governo, líderes de alguns partidos
aliados dele assinaram um documento de apoio ao pacote e a presidente. Mas
eles sabem que o documento não representa a vontade da maioria dos seus
liderados. Dilma ainda imagina que
poderá virar o jogo com a ajuda de governadores. Está enganada. Ela jantou
com quase todos os governadores que dizem apoiá-la. E pediu que mobilizassem os
deputados federais de seus Estados para votar a favor do pacote. Ou Dilma não sabe ou finge não saber que os governadores não mandam no voto dos deputados. No passado remoto, mandaram.
Enquanto
o governo parece perdido para tapar o buraco das contas públicas e o Brasil
pode voltar a perder o grau de investimento conferido por outras agências de
classificação de risco, avança o
movimento favorável ao impeachment do mandato de Dilma. Ela voltou a dizer
que o movimento fracassará. Não é isso o que pensam nomes de peso do PT e ministros de
prestígio que despacham com Dilma regularmente. A oposição, na Câmara,
apresentou um documento de 16 páginas com perguntas dirigidas a Eduardo sobre
como deverá se processar o pedido de impeachment e seu encaminhamento para
votação.
Travou-se
então o primeiro embate sobre o assunto entre a oposição e os poucos defensores
do governo na Câmara. Eduardo
ficou de responder às perguntas na próxima semana. Ou na seguinte.
Espera-se ali que até meados de outubro o Tribunal
de Contas da União rejeite as contas do governo relativas ao ano passado.
Se isso
ocorrer, começará a ser construído o
pretexto jurídico para dar ensejo à uma eventual deposição de Dilma. Sobre
isso, conversa-se em Brasília sem o menor recato.
O governo dá sinais de que definha. E
por mais que Dilma repita que não renunciará ao mandato, essa é uma hipótese que não deve ser descartada.
Até parte do PT,
próxima de Lula, atua para abreviar a agonia de Dilma.
Fonte: Blog do Noblat