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segunda-feira, 2 de maio de 2016

O que Michel Temer quer para a Educação?



O documento formulado pela Fundação Ulysses Guimarães prevê maior intervenção do governo federal na educação básica, ênfase na qualidade dos primeiros anos e a reestruturação do ensino médio
O que acontecerá com a Educação num possível governo de Michel Temer? O documento A Travessia Social, com as diretrizes para a área social formuladas pelo PMDB, ao qual ÉPOCA teve acesso, indica a direção que o novo governo pretende tomar.

O documento não especifica planos de ação. Não há números, tampouco metas. Ele se restringe a ideias do que o partido considera prioridades. A educação básica, que vai do primeiro ano do fundamental ao fim do ensino médio, é o foco – como não poderia deixar de ser. A ênfase, diz o documento, será trabalhar para o aumento da qualidade dos anos iniciais, entenda-se, do primeiro ano ao quarto ano (dos 6 aos 9 anos de idade). “É aqui (nesses primeiros anos) que se define o lugar que a criança ocupará na sociedade. As maiores deficiências das etapas posteriores têm aqui a sua origem”, diz o documento.

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Para isso, o texto defende a maior participação do governo federal na educação básica, com programas de orientação, supervisão e mais recursos às redes estaduais e municipais. Hoje, na maior parte do país, o ciclo da educação infantil até o quarto ano (fundamental I) fica a cargo do município. Os demais anos são responsabilidade do Estado. O Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor desde 2014, prevê a reorganização completa das redes de ensino nos locais que ainda não seguem o modelo de divisão em que os alunos pequenos ficam com os municípios e os maiores com o Estado. Já há mecanismos para que o governo federal ajude na gestão e no financiamento dessas operações – se ele quiser fazer isso. Ou seja, até este ponto, a proposta do PMDB não traz nenhuma novidade, além de explicitar a intenção de facilitar o acesso a recursos extras e outros tipos de suporte.


O ponto em que o documento enfatiza a necessidade de uma mudança mais radical é em relação ao ensino médio. “O ensino de segundo grau no Brasil precisa de uma reformulação completa. A conclusão desta etapa não habilita o aluno para coisa alguma, a não ser para os exames para ingresso na Universidade, embora se saiba que a maioria deles encerrará a sua formação ai”. Neste trecho, o documento é mais claro: aumentar o número de alunos que recebem educacão técnica durante o ensino médio.

Aqui, o PMDB mais uma vez ecoa o que o PT já defende há mais de uma década. A educação profissional é o caminho para fazer do ensino médio um estágio da vida do adolescente que o coloque no mapa do mundo do trabalho. Ao enfatizar a completa reformulação do ensino médio, o documento reafirma o que já é consenso no país: esse é o período mais ineficaz na trajetória do ensino básico. Uma enxurrada de disciplinas sobrecarrega o aluno ao mesmo tempo que não permite que ele se aprofunde em nenhum tema. Esse é um dos pontos responsáveis pelo alto índice de evasão no segundo grau. Somente entre os que efetuam matrícula no ensino médio, 17% desistem. Isso sem contar os 11% que desistem no ensino fundamental. Ao todo,  3,9 milhões de crianças desistem da escola, todos os anos, sem completar o ciclo básico.

>> Escola de tempo integral para diminuir a desigualdade no ensino médio

Para a educação profissional, o documento foca na revitalização do Pronatec, criado pelo governo Dilma em 2011. Para isso, prevê a diminuição do número de cursos. “O Pronatec foi um programa bem concebido e na direção certa. No entanto, o programa foi vítima de um crescimento no número de cursos sem base na realidade e sem os devidos instrumentos de fiscalização”, diz o texto. “O programa caiu de 2 milhões de estudantes para 800 mil em 2015”. O governo possui hoje uma dívida de R$ 2 bilhões com o sistema S (Sesi e Senac) por causa do Pronatec. Não será tarefa fácil reformular a oferta e equacionar esses gastos. Mas, a proposta do PMDB imbica na direção certa. Maior desperdício do que as vagas ociosas hoje na rede do Pronatec seria não aproveitar boa parte do gigantesco programa pelo qual já pagamos (ou pelo qual já nos endividamos).


>> Madre Montserrat Del Pozo: “A estabilidade do professor sabota a educação”

O documento não cita ao menos três assuntos críticos na educação. O primeiro é a baixa qualidade do fundamental II, período que se estende do quinto ao nono ano e que concentra os níveis mais baixos de aprendizado. Somente 16% das crianças brasileiras que concluem o nono ano na rede pública atingem o grau satisfatório de conhecimentos em matemática. É verdade que parte desses alunos chega com déficit que foi acumulado durante o primeiro ciclo (em que o governo pretende focar), mas a experiência mostra que um número grande de alunos que atravessa os primeiros anos com ótimos resultados desanda a partir do sexto ano.

O segundo ponto inexistente no documento é a carreira de professor. Apesar de ter sido publicado que o novo governo pretende atrelar bônus de desempenho ao salário dos docentes, não houve menção a isso no texto. O país possui um Plano Nacional de Educação, com mais de 20 metas para os próximos oito anos. Formação de professor, plano de carreira e remuneração estão entre elas. Se o novo governo tiver em mente ao menos facilitar os mecanismos para que o plano seja efetivamente posto em prática, a ausência do assunto no documento do governo não será um problema.


O terceiro ponto ignorado pelo documento é a discussão sobre como equacionar as contas das universidades públicas, cujos salários ultrapassam a arrecadação em alguns casos, como é o da Universidade de São Paulo. No capítulo sobre economia, o governo explicita a intenção de privatizar toda a infraestrutura possível. Seria essa uma alternativa para a Educação que, a exemplo do que fez a Saúde, poderia contar com parcerias público-privada para tirar do estado o peso e os altos custos da operação e poderia, assim, dedicar-se à gestão e à cobrança de qualidade. Ainda não é possível saber se a privatização a qual o PMDB se refere inclui a Educação de alguma forma. Mas essa é uma possibilidade.

Em Educação, as prioridades apontadas no plano social do PMDB não traz novidades. Isso não é um problema. Pode ser uma virtude. Os problemas mais críticos da educação não são segredo. Eles continuam os mesmos de quando Dilma se elegeu pela primeira vez, com um ou outro índice de inclusão melhorado, mas, na essência, os mesmos. Um novo governo não assumirá com o tempo e o dinheiro necessários para almejar metas mirabolantes. Se trabalhar com foco nos pontos que citou e puder ajudar o Plano Nacional de Educação a caminhar, já terá potencial para ser visto como um governo que cuida da educação de forma mais efetiva do que qualquer Pátria Educadora já fez. A conferir.


>> Pelo segundo ano, o Brasil não cumprirá as metas da educação

Fonte: Época


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Por 2016, PMDB quer distância de Dilma



Congresso do partido, na próxima semana, demarcará diferenças em relação ao governo
Apesar de ter sido contemplado com sete ministérios na reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff em outubro, o PMDB deflagrou nos últimos dias um movimento de descolamento da atual gestão. O partido, que tem como presidente nacional o vice-presidente Michel Temer, quer se diferenciar da petista na área econômica.

Na estratégia definida pela cúpula peemedebista, o congresso do partido, no próximo dia 17, será o primeiro grande gesto público dessa movimentação, que tem o objetivo de manter a presidente sob pressão. O PMDB não quer entrar nas eleições municipais do ano que vem com o carimbo de aliado preferencial do PT e sócio da crise econômica e política.

Em caráter reservado, um integrante da cúpula peemedebista que integra o governo definiu dessa forma o objetivo do encontro: “Apresentaremos um programa para disputarmos as eleições de 2016 e 2018. Mas também precisamos ter um programa para o caso de termos que assumir o poder”.
Para evitar retaliações do Palácio do Planalto, representantes da ala governista do PMDB evitam tratar do assunto abertamente e dizem apenas que o congresso não terá a prerrogativa de tomar qualquer decisão sobre a manutenção ou rompimento oficial do partido com a presidente Dilma Rousseff. Essa definição, porém, acontecerá em março, na convenção nacional do partido.

Sem filtro

Os “aliados” do governo esvaziaram as prerrogativas do encontro, mas permitiram que o evento do próximo dia 17 fosse formatado para constranger o governo. Segundo um dirigente do partido que está envolvido na organização do encontro, o microfone estará aberto e todos os presentes poderão votar nas moções que serão apresentadas ao documento-base.

Sem o filtro da escolha dos participantes por meio da eleição de delegados na base, a ala dissidente está livre para mobilizar suas claques. A organização do congresso e a redação do seu texto-base, intitulado “Uma ponte para o futuro”, ficaram a cargo de um ex-ministro peemedebista que hoje é crítico à política econômica do governo: Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães. “Queremos não só unificar o partido, mas reunificar o País. O compromisso do PMDB não é com A, B ou C (partido ou governo) é com o Brasil. Para reunificar, só com um programa de intervenção na vida econômica e social”, diz ele.

Ainda segundo Moreira Franco, a crise econômica está se tornando “incontrolável” e a situação é “explosiva”. “Temos que ter a dimensão da gravidade.”  O senador Valdir Raupp (RR), vice-presidente do PMDB, diz que alguns pontos divergentes do documento, classificado por ele como “duro” contra o governo, precisam ser reajustados, e que os dissidentes “ainda” não são maioria.

Por outro lado, ele sinaliza claramente o desejo de evitar os efeitos colaterais de ser aliado preferencial de Dilma. “Um partido que sempre defendeu as causas populares não pode enveredar para a direita.” Ainda segundo o senador, o PMDB também está em busca de retomar suas “origens”. “Está na hora de voltar às origens das grandes lutas. Um partido com a idade do PMDB, 50 anos, precisa começar a discutir uma candidatura própria à Presidência em 2018. Esse sentimento é unânime”, afirma Raupp.

O senador Romero Jucá (RR) diz que o encontro vai definir um “roteiro” para o Congresso decisivo do partido em 2016. “Após o encontro de novembro, o documento será debatido nos Estados e municípios até o congresso, que pode ser antecipado para antes de março.” Ainda segundo Jucá, o documento será uma posição “clara” sobre economia e questões sociais. O congresso do PMDB também discutirá mudanças no estatuto do partido e as estratégias para as eleições 2016.

Fonte: Revista IstoÉ